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Casaldáliga: Teo-poeta da libertação e da espiritualidade contra-hegemônica.

Casaldáliga: Teo-poeta da libertação e da espiritualidade contra-hegemônica.

Teo-poeta da libertação e intelectual compassivo

Pedro Casaldáliga foi “um poeta de vida e palavra consubstanciada”, como o poeta e professor de Estética da Universidade de Barcelona José María Valverde o definiu, e “teo-poeta da libertação”, como eu o considero, acredito, que junto com Rubem Alves e Ernesto Cardenal. Ele era um esteta da palavra encarnada, um mestre do bom discurso, que nele é “ser”, “viver” e “fazer”. A sua poesia não é evasiva, mas está fundamentada na realidade, está cheia de indignação e dor pela injustiça e fome que a maioria da população do mundo sofreu – e ainda sofre -.

Ele era um revolucionário universalista que acreditava “na Internacional de frentes elevadas, da voz igual e das mãos entrelaçadas” e acompanhava as revoluções na América Latina, até com a sua presença física, como no caso da Revolução Sandinista.

Casaldáliga analisou a realidade com os olhos dos pobres, olhos que, como ele diz, “vêem com uma luz diferente”. Foi essa luz que o levou a criticar o neoliberalismo, que ele chamou “a grande blasfêmia do século XXI”. Em meio à era neoliberal, Pedro era um “trabalhador da utopia” de Outro Mundo Possível, em conexão com a proposta do Fórum Social Mundial, que organizou sete edições no Brasil. Utopia de libertação, que ele não considerava um ideal irrealizável, mas um objetivo que pode ser alcançado através do compromisso com o caminho da “esperança contra toda esperança”.

Casaldáliga também foi um profeta de olhos abertos que despertou as consciências adormecidas de muitos cidadãos conformistas e de muitos cristãos que, nas palavras do escritor francês Georges Bernanos, são “capazes de se sentar confortavelmente sob a cruz de Cristo”. Era um revolucionário universalista que acreditava “na Internacional de frentes elevadas, de vozes entre iguais e das mãos entrelaçadas” e acompanhava as revoluções da América Latina, até com a sua presença física, como no caso da Revolução Sandinista.

Ele confrontou e despiu os grandes sistemas de dominação apenas com a palavra e a exemplaridade da vida.

Casaldáliga agiu como um intelectual crítico, inconformista e compassivo com as vítimas do colonialismo, capitalismo, patriarcado, aporofobia e exploração da Terra. Ele foi sem dúvida um dos intelectuais mais lúcidos da América Latina, que ofereceu narrativas alternativas às narrativas oficiais do sistema, construiu espaços de convivência e diálogo simétrico ao invés de campos de batalha e monólogos, desestabilizou a (des)ordem estabelecida e revolucionou as mentes instaladas. Foi crítico com todos os poderes: político, religioso, econômico, incluindo os poderes ocultos da “Santa Sé”, a ponto de ter a audácia de pedir ao Papa João Paulo II que deixasse o Vaticano e seguisse o caminho do Evangelho. Ele confrontou e despiu os grandes sistemas de dominação apenas com a palavra e a exemplaridade da vida.

Outra de suas opções fundamentais foi a ecologia, seguindo o ecologista Francisco de Assis. Junto com seu colega e amigo próximo Tomás Balduino, bispo de Goiás, criou a Comissão Pastoral da Terra na Conferência Episcopal Brasileira e apoiou as lutas e demandas do Movimento dos Sem Terra (MST). Casaldália reivindicou o direito dos povos originais, os primeiros ambientalistas, ao seu território, que foi roubado pelos latifundiários, que os exploram sem demonstrar qualquer compaixão pela terra ou por seus legítimos habitantes. Reclamou também o reconhecimento dos direitos da Mãe Terra (Pachamama), que os povos nativos consideram sagrados e com os quais formam uma comunidade eco-humana. A melhor representação simbólica de sua consciência ecológica foi a Missa da Terra Sem Males.

Espiritualidade contra-hegemônica

Um missionário a serviço dos setores mais vulneráveis da sociedade, um místico solidário com os processos revolucionários, um contemplativo na libertação, um bispo em rebelião e insurreição evangélica, um pastor a serviço do povo.

Na esfera religiosa destacou-se como missionário a serviço dos setores mais vulneráveis da sociedade, místico solidário com os processos revolucionários, contemplativo na libertação, bispo em rebelião e insurreição evangélica, pastor a serviço do povo. Viveu uma espiritualidade contra-hegemônica e anti-imperial. “Cristianamente – afirma – a consigna é muito clara (e muito exigente) e foi o próprio Jesus de Nazaré quem nos encomendou…: contra a política opressiva de qualquer império, a política libertadora do Reino“. Aquele reino do Deus vivo, que pertence aos pobres e a todos aqueles que têm fome e sede de justiça. Contra a agenda do império, a agenda do Reino”. Casaldáliga pregou o Reino de Deus em luta contra o Império e criticou a Igreja “quando ela não coincide com o Reino”.

Pais e mães da Igreja Latinoamericana

Casaldáliga seguiu o caminho dos bispos que José Comblin chama “Pais da Igreja da América Latina”, que puseram em prática o Pacto das Catacumbas assinado por quarenta bispos na catacumba de São Domitilla em Roma, em novembro de 1965, durante a quarta sessão do Concílio Vaticano II, e ao qual aderiram mais de quinhentos depois. Eles optaram por uma Igreja pobre e dos pobres, denunciaram as ditaduras, foram perseguidos, colocaram suas vidas em risco e alguns foram assassinados e se tornaram mártires, como Monsenhor Romero, José Gerardi, Angelelli… Foram submetidos a processos judiciais, vigilância policial, investigações inquisitoriais pelas Congregações do Vaticano, sofreram condenações e até foram afastados de suas funções episcopais.

No final do livro me pergunto se houve e ainda há “Mães da Igreja Latinoamericana” e respondo afirmativamente, embora não sejam reconhecidas como tais. A falta de reconhecimento é a melhor prova da sobrevivência do patriarcado, mesmo na libertação do cristianismo.

“Minhas causas são mais importantes do que minha vida”

Pedro Casaldáliga afirmou repetidamente: “Minhas causas são mais importantes do que minha vida”. E assim foi. No livro dedico um extenso capítulo a essas causas, entre as quais destaco cinco que considero as mais importantes:

1) A causa das comunidades afrodescendentes, indígenas e camponesas, sujeitas ao colonialismo, ao racismo e ao capitalismo selvagem. Sua Missa da Terra Sem Males é a melhor expressão de sua solidariedade e identificação com os povos indígenas. Sua Missa dos Quilombos é o melhor reconhecimento da dignidade dos povos afro-descendentes submetidos à escravidão durante séculos e ainda hoje, da defesa de sua identidade cultural e religiosa e de seus territórios.

2) A causa das mulheres discriminadas por serem mulheres, por serem pobres, por pertencerem às classes populares, culturas nativas e grupos étnicos, desprezadas e submetidas à violência pelo patriarcado político e religioso até o feminicídio, e por praticarem espiritualidades e religiões que não correspondem às chamadas “grandes religiões”. Pedro assumiu a causa das mulheres camponesas, indígenas, negras e prostitutas, cuja marginalização social denunciou constantemente.

3) A causa da Terra, considerada sagrada pelas comunidades indígenas, sujeita de direitos e não venal.

4) A causa do diálogo interreligioso, intercultural e interétnico. Casaldáliga não impôs nunca a sua fé, nem afirmou que a religião cristã era a única religião verdadeira, mas respeitou e compartilhou as visões de mundo, espiritualidades e sabedoria das comunidades originais, dialogou com elas sem arrogância ou superioridade e sem estabelecer hierarquias, ao mesmo tempo em que reconheceu suas deidades.

5) A causa dos mártires, a começar pelo proto-mártir do cristianismo, Jesus de Nazaré, seguido pelo Padre João Bosco, assassinado em sua presença pela polícia, Monsenhor Romero, arcebispo profético de San Salvador, a quem declarou santo em seu memorável poema “São Romero da América, Nosso Pastor e Mártir”, e pelo martírio coletivo dos “índios crucificados”, sobre o qual escreveu um dramático e denunciante artigo no International Journal of Theology Concilium, em 1983.

Seus textos, apoiados pela autenticidade de sua vida, são, em minha opinião, a melhor resposta a esta guinada política da ultra-direita e constituem a base para a proposta de uma alternativa democrática radical.

Casaldáliga é um dos símbolos mais luminosos do cristianismo libertador em meio à ascensão dos movimentos religiosos fundamentalistas que estão mudando o mapa religioso e político da América Latina. Ele se tornou um farol iluminador na escuridão do presente e em meio à ascensão da extrema direita política em nível local e global, que está mudando o mapa político e é uma ameaça à democracia. Seus textos, apoiados pela autenticidade de sua vida, são, em minha opinião, a melhor resposta a esta guinada política ultra-direita e constituem a base para a proposta de uma alternativa de democracia radical, ou seja, participativa, de base e em todas as áreas: ética, política, econômica, social, trabalhista, cultural, educacional, ecológica, etc.

Ignacio Ellacuría disse: “Com Monsenhor Romero, Deus passou por El Salvador”. Atrevo-me a afirmar: “Com Pedro Casaldáliga, ‘o Deus de todos os nomes’ passou pelo Brasil”.

 

Texto de Juan José Tamayo, teólogo.

Fonte: Revista Ameríndia

Tradução e montagem: Raul Vico

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Esta é a carta de Casaldáliga ao Papa

Esta é a carta de Casaldáliga ao Papa

Prelazia de São Félix do Araguaia
Caixa Postal 05
78370 – São Félix do Araguaia, MT
Brasil

São Félix do Araguaia
22 de fevereiro de 1986
Festa da Cátedra de Pedro.

 

Caro Papa João Paulo II,
irmão em Jesus Cristo e pastor da nossa Igreja:

Há muito tempo queria lhe escrever esta carta e há muito tempo venho pensando e refletindo sobre a mesma em oração.

Desejo que seja uma conversa fraterna –em sinceridade humana e com a liberdade do Espírito-, e também um gesto de serviço de um bispo para o bispo de Roma, que é Pedro pela minha fé, pela minha corresponsabilidade eclesial e pela minha colegialidade apostólica.

Estou no Brasil há dezoito anos, onde vim voluntariamente como missionário. Nunca voltei ao meu país natal, à Espanha, nem mesmo na morte de minha mãe. Nunca tirei férias em todo esse tempo. Não saí do Brasil em dezessete anos. Ao longo destes dezoito anos morei e trabalhei no Nordeste do Estado de Mato Grosso, sendo o primeiro padre a se instalar de forma permanente nesta região. Há quinze anos sou bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia.

É uma área de latifúndios, nacionais e multinacionais, com propriedades agrícolas de centenas de milhares de hectares, com trabalhadores que vivem frequentemente em regime de violência e semiescravidão

A região da Prelazia está localizada na Amazônia Legal brasileira e cobre uma área de 150.000 km2. Ainda hoje não possui sequer um palmo de estrada asfaltada. Apenas recentemente o serviço telefônico foi instalado. Freqüentemente a região fica isolada ou muito mal comunicada devido às chuvas e inundações que interditam as estradas.

É uma área de latifúndios, nacionais e multinacionais, com propriedades agrícolas de centenas de milhares de hectares, com trabalhadores que vivem frequentemente em regime de violência e semiescravidão. Há muito que acompanho a dramática vida dos índios, dos posseiros e dos peones (trabalhadores braçais das fazendas). Toda a população em geral, dentro da Prelazia, tem sido obrigada a viver precariamente, sem educação adequada, saúde, transporte, moradia, segurança jurídica e, principalmente, sem terra garantida para trabalhar.

Ainda neste momento três agentes pastorais estão sendo processados sob falsas acusações. Tive de presenciar pessoalmente mortes violentas.

Sob a ditadura militar, o governo tentou, cinco vezes, me expulsar do país. Quatro vezes toda a Prelazia foi cercada por operações militares de controle e pressão. A minha vida foi ameaçada publicamente e colocado um preço por ela, assim como a vida de vários padres e agentes pastorais da Prelazia.

Em várias ocasiões, esses padres, agentes pastorais e eu mesmo fomos presos; torturados vários deles também. Padre Francisco Jentel foi preso, maltratado, condenado a dez anos de prisão, depois expulso do Brasil, morrendo finalmente no exílio, longe de seu país de missão.

O arquivo da Prelazia foi violentado e saqueado pelo Exército e pela Polícia. O boletim da Prelazia foi falsificado pelos órgãos repressivos do regime e, então, divulgado pela grande imprensa, para servir de acusação contra a própria Prelazia.

Ainda neste momento três agentes pastorais estão sendo processados sob falsas acusações. Tive de presenciar pessoalmente mortes violentas, como a do padre jesuíta João Bosco Penido Burnier, assassinado ao meu lado pela polícia, quando nós dois fomos à Delegacia-Cadeia de Riberão Bonito para protestar oficialmente contra as torturas a que estavam sendo submetidas duas mulheres, trabalhadoras rurais, mães de família, detidas injustamente.

Também no seio da Igreja surgiram alguns mal-entendidos de irmãos que desconhecem a realidade do povo e da pastoral nestas regiões remotas e violentas, onde muitas vezes o povo só tem a voz da Igreja que tenta colocar-se a seu serviço.

Ao longo de todos esses anos, se multiplicaram as incomprensões e as calúnias dos grandes proprietários de terras -nenhum dos quais mora na região- e de outros poderosos do país e do exterior. Também no seio da Igreja surgiram alguns mal-entendidos de irmãos que desconhecem a realidade do povo e da pastoral nestas regiões remotas e violentas, onde muitas vezes o povo só tem a voz da Igreja que tenta colocar-se a seu serviço.

Além desses sofrimentos vividos no âmbito da Prelazia, sendo responsável nacional da CPT (Comissão Pastoral da Terra) e membro do CIMI (Conselho Indígena Missionário), tive que acompanhar de perto as tribulações e até a morte de tantos indígenas, camponeses, agentes pastorais e pessoas comprometidas com a causa desses irmãos, aos quais a ganância do capital não lhes permite sequer sobreviver. Entre eles, o índio Marçal, um Guarani, que saudou você pessoalmente em Manaus, em nome dos povos indígenas do Brasil.

O Deus vivo, o Pai de Jesus, é quem vai nos julgar. No entanto, deixe-me abrir meu coração ao seu coração como irmão e como pastor. Viver nessas circunstâncias extremas, ser poeta e escrever, manter contato com as pessoas e ambientes de comunicação ou de fronteira (pela idade, ideologia, alteridade cultural, situação social ou pelos serviços de emergência que prestam) pode levar a gestos e posições menos comuns e às vezes desconfortáveis para a sociedade estabelecida.

Como irmão e como Papa que é para mim, peço-lhe que aceite a intenção sincera e a vontade apaixonadamente cristã e eclesial desta carta e das minhas atitudes.

Sinto-me um pouco pequeno e distante nesta Amazônia brasileira tão diferente, e nesta América Latina, tão convulsionada e freqüentemente incompreendida.

O Pai concedeu-me a graça de nunca abandonar a oração, ao longo desta vida mais ou menos agitada. Preservou-me das grandes tentações contra a fé e a vida consagrada e permitiu-me contar sempre com a força dos irmãos através de uma comunhão eclesial rica de encontros, estudos e ajuda. Certamente por isso, creio que não me desviei do caminho de Jesus, e espero, também por isso, continuar até ao fim neste Caminho que é Verdade e Vida.

Lamento incomodá-lo com a leitura desta longa carta, quando tantos serviços e preocupações já pesam sobre você.

Duas cartas do Cardeal Gantin, Prefeito da Congregação para os Bispos e uma comunicação da Nunciatura que recebi recentemente, levaram-me finalmente a escrever-lhe esta carta. Essas três comunicações insistiam na minha visita ad límina, questionaram aspectos da pastoral da Prelazia e condenaram minha ida à América Central.

Sinto-me um pouco pequeno e distante nesta Amazônia brasileira tão diferente, e nesta América Latina, tão convulsionada e freqüentemente incompreendida.

Achei necessário preceder-me com esta carta. Pareceu-me que apenas um contato pessoal silencioso entre nós dois, por meio de uma escrita cuidadosa e clara, me daria a possibilidade de realmente me aproximar de você.

A outra maneira maior de nos encontrar já está garantida: rezo por você todos os dias, querido irmão João Paulo.

Como bispo da Igreja Católica, posso e devo dar à nossa Igreja esta contribuição: pensar em voz alta a minha fé e exercer, com liberdade de família, o serviço da colegialidade corresponsável.

Não tome como impertinência a opinião que lhe expressarei sobre questões, situações e práticas que são secularmente polêmicas na Igreja ou mesmo contestadas especialmente hoje, quando o espírito crítico e o pluralismo também influenciam fortemente a vida eclesiástica. Tratar novamente estas questões incómodas, falar com o Papa, significa para mim expressar corresponsabilidade em relação à voz de milhões de irmãos católicos – também de muitos bispos – e de irmãos não católicos, evangélicos, de outras religiões, humanos.

Como bispo da Igreja Católica, posso e devo dar à nossa Igreja esta contribuição: pensar em voz alta a minha fé e exercer, com liberdade de família, o serviço da colegialidade corresponsável. Ficar calado, deixar passar, com certo fatalismo, a força das estruturas seculares, seria muito mais facil. Não acho, porém, que fosse a atitude mais cristã, ou até mais humana.

Do mesmo jeito que falar, exigir reformas, assumir novas posições, pode causar “escândalo” aos irmãos que vivem em situações mais calmas ou menos críticas, também podemos acusar “escândalo” a muitos irmãos, de outros contextos sociais ou culturais, mais abertos à crítica e ávidos pela renovação da Igreja – sempre uma e “semper renovanda” – quando nos calamos ou aceitamos a rotina ou tomamos medidas unívocas indiscriminadamente.

Sem se “conformar com este mundo”, a Igreja de Jesus, para ser fiel ao Evangelho do Reino, deve estar atenta “aos sinais dos Tempos” e dos lugares e anunciar a Palavra, em um tom cultural ou histórico e com um testemunho de vida e prática, que homens e mulheres de todos os tempos e lugares possam entender essa Palavra e sejam encorajados a aceitá-la.

No que diz respeito ao campo social especificamente, não podemos dizer com muita verdade que já fizemos a opção pelos pobres. Em primeiro lugar, porque não partilhamos nas nossas vidas e nas nossas instituições a pobreza real que eles vivem. E, em segundo lugar, porque não agimos, perante a “riqueza da iniquidade”, com aquela liberdade e firmeza adotada pelo Senhor.

A opção pelos pobres, que nunca excluirá a pessoa do rico – visto que a salvação é oferecida a todos e o ministério da Igreja é devido a todos -, exclui o modo de vida dos ricos, “insulto à miséria dos pobres”, e seu sistema de acumulação e privilégio, que necessariamente saqueiam e marginalizam a grande maioria da família humana, povos e continentes inteiros.

A opção pelos pobres, que nunca excluirá a pessoa do rico – visto que a salvação é oferecida a todos e o ministério da Igreja é devido a todos -, exclui o modo de vida dos ricos, “insulto à miséria dos pobres”.

Não fiz a visita ad limina, mesmo depois de receber, como outros, um convite da Congregação para os Bispos que nos lembrava esta prática. Queria e desejo ajudar a Sé Apostólica a rever a forma dessa visita. Ouço críticas de muitos bispos, porque mesmo reconhecendo que promove um contato com os Dicastérios Romanos e um encontro cordial com o Papa, revela-se incapaz de produzir um verdadeiro intercâmbio de colegialidade apostólica dos Pastores das Igrejas Privadas com o pastor da Igreja universal.

Faz-se um grande gasto, se estabelecem contatos, se cumpre uma tradição. No entanto, a tradição de “videre Petrum” e de ajudar Pedro a ver toda a Igreja, está se cumprindo? Não teria a Igreja hoje outras formas mais eficazes de intercambiar, estabelecer contatos, avaliar e expressar a comunhão dos Pastores e suas Igrejas com a Igreja Universal e mais especificamente com o Bispo de Roma?

Jamais pretenderia supor no Papa um conhecimento detalhado das Igrejas particulares ou pedir-lhe soluções concretas para sua pastoral. Para isso estamos os respectivos Pastores, Ministros e Conselhos Pastorais de cada Igreja. Para isso existem também as Conferências Episcopais que, a meu ver e de muitos outros, não estão sendo devidamente valorizadas e até mesmo sendo ignoradas ou injustamente indicadas por certas atitudes de algumas instâncias da Cúria Romana. Se as Conferências Episcopais não são “teológicas” ou “apostólicas”, como tais – poderiam não existir, sem elas a Igreja caminhou – também não são, em si mesmas, “apostólicas” ou “teológicas”, a cúria, nem mesmo a Cúria Romana: Pedro presidiu e governou a Igreja, de maneira diferente, em épocas diferentes.

O Papa precisa de auxiliares, como todos os bispos da Igreja, embora deveria ser sempre mais simples e participativo. Porém, Irmão João Paulo, para muitos de nós, certas estruturas da Cúria não respondem ao testemunho de simplicidade evangélica e de comunhão fraterna que o Senhor e o mundo exigem de nós; nem traduzem em suas atitudes, por vezes centralizadoras e impositivas, uma catolicidade verdadeiramente universal, nem sempre respeitam as exigências da corresponsabilidade adulta; nem mesmo, às vezes, os direitos básicos da pessoa humana ou de diferentes povos. Tampouco faltam em setores da Cúria Romana preconceitos, atenção unilateral à informação, ou mesmo posições, mais ou menos inconscientes, de etnocentrismo cultural europeu em relação à América Latina, África e Ásia.

João Paulo, irmão, permita-me outra palavra de crítica fraterna ao próprio Papa. Por mais tradicionais que sejam os títulos de ‘Santíssimo Padre’, ‘Sua Santidade’ … – bem como outros títulos eclesiásticos como ‘Muito Eminente’, ‘Muito Excelente’ – são evidentemente não muito evangélicos e até mesmo extravagantes em termos humanos.

Com um espírito objetivo e sereno, não se pode negar que as mulheres continuam fortemente marginalizadas na Igreja: na legislação canônica, na liturgia, nos ministérios, na estrutura eclesiástica. Para uma fé e uma comunidade daquela Boa Nova que já não discrimina entre “judeu e grego, livre e escravo, homem e mulher”, esta discriminação das mulheres na Igreja nunca poderá ser justificada. Tradições culturais masculinizantes que não podem anular a novidade do Evangelho talvez expliquem o passado; mas não podem justificar o presente, e muito menos o futuro imediato.

Outro ponto delicado e muito sensível ao seu coração, Irmão Jão Paulo, é o celibato. Eu, pessoalmente, nunca duvidei do seu valor evangélico e da sua necessidade para a plenitude da vida eclesial, como carisma de serviço ao Reino e como testemunho da gloriosa condição futura. Penso, porém, que não estamos sendo compreensivos ou justos com esses milhares de padres, muitos deles em situação dramática, que aceitaram compulsivamente o celibato, como requisito, atualmente obrigatório, para o ministério sacerdotal na Igreja latina. Posteriormente, por causa dessa demanda não assumida vitalmente, tiveram que deixar o ministério, não podendo mais regularizar sua vida, seja dentro da Igreja ou, às vezes, perante a sociedade.

O Colégio Cardinalício é privilegiado, por vezes, com poderes e funções dificilmente associados aos direitos anteriores e às funções mais eclesialmente inatas do Colégio Apostólico Episcopal enquanto tal.

Pessoalmente, tenho uma experiência triste com as Nunciaturas. Vós conheceis melhor do que eu a reivindicação persistente das Conferências Espiscopais de bispos, presbitérios, grandes setores da Igreja, em face de uma instituição tão marcadamente diplomática na sociedade e freqüentemente, com uma atuação paralela à atuação dos episcopados.

João Paulo, irmão, permita-me outra palavra de crítica fraterna ao próprio Papa. Por mais tradicionais que sejam os títulos de ‘Santíssimo Padre’, ‘Sua Santidade’ … – bem como outros títulos eclesiásticos como ‘Muito Eminente’, ‘Muito Excelente’ – são evidentemente não muito evangélicos e até mesmo extravagantes em termos humanos. “Não se façam chamar pais ou mestres”, diz o Senhor. Da mesma forma, seria mais evangélico – e também mais acessível às sensibilidades de hoje – simplificar o vestuário, os gestos, as distâncias, dentro da nossa Igreja.

Por que não reexaminar, à luz da fé, a favor do Ecumenismo, para dar testemunho ao mundo, a condição de Estado com que o Vaticano se apresenta, conferindo à pessoa do Papa uma dimensão explicitamente política, que prejudica a liberdade e transparência de seu testemunho como pastor universal da Igreja?

Penso também que seria muito apostólico para vós obter uma avaliação suficientemente livre e participativa das vossas viagens, tão generosas e mesmo heróicas em muitos aspectos, e contudo contestadas – e, a meu ver, nem sempre sem motivos -: não são essas viagens conflituosas para o ecumenismo – testemunha de Jesus pedindo ao Pai que sejamos um – pela liberdade religiosa na vida pública pluralista? Essas viagens não exigem grandes gastos econômicos por parte das Igrejas e dos Estados, investindo-se assim em certa arrogância e privilégios cívico-políticos em relação à Igreja Católica, na pessoa do Papa, que se tornam irritantes para os outros?

Por que não reexaminar, à luz da fé, a favor do Ecumenismo, para dar testemunho ao mundo, a condição de Estado com que o Vaticano se apresenta, conferindo à pessoa do Papa uma dimensão explicitamente política, que prejudica a liberdade e a transparência de seu testemunho como pastor universal da Igreja?

Por que não se decidir, com liberdade evangélica e também com realismo, por uma renovação profunda da Cúria Romana?

Sei da dor que a sua viagem à Nicarágua lhe causou. Mesmo assim, sinto que devo confiar-lhe a impressão – que muitos outros compartilham – de que seus assessores e a sua própria atitude pessoal não contribuíram para que esta viagem extremamente crítica e, por outro lado necessária, fosse mais feliz e, acima de tudo, mais evangelizadora. Uma ferida se abriu no coração de muitos nicaragüenses e de muitos latino-americanos, assim como você se sentiu ferido em seu coração.

No ano passado estive na Nicarágua. Foi a minha primeira saída do Brasil após dezessete anos de permanência no país. Pela amizade que mantenho, há muito tempo, com muitos nicaragüenses, através de contatos pessoais ou por carta, senti que devia me fazer presente, como pessoa humana e como bispo da Igreja, em uma hora de gravíssima agressão político-militar e profundo sofrimento interno.

Não tive a intenção de substituir ou subestimar o episcopado local. No entanto, acreditava que poderia e até mesmo deveria ajudar aquelas pessoas e aquela Igreja. Por isso, comuniquei por escrito aos bispos da Nicarágua, assim que cheguei. Tentei falar pessoalmente com alguns deles, mas não fui atendido. A hierarquia da Nicarágua está abertamente de um lado; do outro lado, há milhares de cristãos, aos quais também se deve a Igreja.

Sinceramente penso que a nossa Igreja – me sinto como a Igreja da Nicarágua também, como cristão e como bispo da Igreja – não está dando oficialmente naquele país sofrido, e com repercussões negativas para toda a América Central, o Caribe e para toda a América Latina, o testemunho que deveria dar: condenando as agressões, defendendo a autodeterminação desses povos, consolando as mães dos caídos e celebrando, na Esperança, a morte violenta de tantos irmãos, principalmente católicos.

Nós, membros da hierarquia, não reconhecemos de fato os leigos como adultos e administradores da Igreja, ou queremos impor ideologias e estilos pessoais, exigindo uniformidade ou nos escondendo no centralismo.

É só com o socialismo ou com o sandinismo que a Igreja não pode dialogar criticamente, sim, como deve dialogar criticamente com a realidade humana? A Igreja conseguirá parar de dialogar com a História? Dialogou com o Império Romano, com o feudalismo, e dialogou, à vontade, com a burguesia e com o capitalismo, muitas vezes acriticamente, como uma avaliação histórica posterior teve de admitir. Não está em diálogo com a administração Reagan? O Império norte-americano merece mais consideração da Igreja do que o doloroso processo com que a pequena Nicarágua finge ser ela mesma, enfim, arriscando e até errando, mas ainda sendo ela mesma?

O perigo do comunismo não justificará nossa omissão ou conivência com o capitalismo. Esta omissão ou conivência pode um dia “justificar” dramaticamente a revolta, a indiferença religiosa ou mesmo o ateísmo de muitos, especialmente entre os militantes e nas novas gerações. A credibilidade da Igreja – e do Evangelho e do próprio Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo – depende, em grande parte, do nosso ministério, crítico, sim, mas comprometido com a Causa dos pobres e com os processos de libertação dos os povos dominados secularmente por sucessivos impérios e oligarquias.

Você, como polonês, está em uma posição muito pessoal para compreender esses processos. Sua Polônia natal, tão sofrida e forte, o irmão Jõao Paulo, tantas vezes invadido e ocupado, privado de sua autonomia e ameaçado em sua fé por impérios vizinhos (Prússia, Alemanha nazista, Rússia, Império Austro-Húngaro ) é irmã gêmea da América Central e o Caribe, tantas vezes ocupado pelo Império do Norte. Os Estados Unidos invadiram a Nicarágua em 1898 e a reocuparam com seus fuzileiros navais de 1909 a 1933, deixando então uma ditadura que durou até 1979. Haiti esteve sob ocupação de 1915 a 1934. Porto Rico continua ocupado hoje, desde 1902. Cuba sofreu várias vezes invasões e ocupações, assim como os demais países da região, especialmente Panamá, Honduras e República Dominicana. Mais recentemente, Granada sofreu o mesmo destino. Os próprios Estados Unidos exportam suas seitas para esses países, que internamente dividem o povo e ameaçam a fé católica e a fé de outras Igrejas evangélicas … aí estabelecidas.

Sei também de suas preocupações apostólicas em relação à nossa Teologia da Libertação, às Comunidades Cristãs na mídia popular, aos nossos teólogos, aos nossos encontros, publicações e outras manifestações da vitalidade da Igreja na América Latina, de outras Igrejas do Terceiro Mundo e de alguns setores da Igreja na Europa e América do Norte. Seria ignorar a sua missão de Pastor universal fingir que não conhece e até se preocupa com todo esse movimento eclesial, especialmente quando a América Latina, especificamente, representa quase a metade dos membros da Igreja Católica.

Em todo caso, mais uma vez, peço desculpas por expressar uma palavra sentida à respeito da forma como a Cúria Romana está tratando a nossa Teologia da Libertação e seus Teólogos, certas instituições eclesiásticas – como a própria CNBB, em certas ocasiões -, as iniciativas das nossas Igrejas e de algumas comunidades sofredoras deste Continente, bem como dos seus animadores.

Diante de Deus, posso dar-lhe o testemunho dos agentes pastorais e das comunidades com as quais estabeleci contato na Nicarágua. Eles nunca alegaram ser uma Igreja “paralela”. Não ignoram a Hierarquia nas suas funções legítimas, e sabem que são a Igreja, manifestando o desejo sincero de nela permanecer. Por que não pensar que algumas causas desses conflitos na pastoral podem vir também da hierarquia? Nós, membros da hierarquia, não reconhecemos de fato os leigos como adultos e administradores da Igreja, ou queremos impor ideologias e estilos pessoais, exigindo uniformidade ou nos escondendo no centralismo.

Não quero criar problemas desnecessários. Desejo ajudar, de forma responsável e colegiada, a levar adianta missão evangelizadora da Igreja, particularmente aqui no Brasil e na América Latina. Porque acredito na perenidade do Evangelho.

Acabo de receber a última carta do Cardeal Gantin, Prefeito da Congregação para os Bispos.

Nela, o Cardeal, entre outras punições, me lembra agora a visita apostólica que recebi e recebeu a Prelazia de São Félix do Araguaia em 1977. Desejo simplesmente informar que esta visita foi motivada por denúncias ou calúnias de um irmão no episcopado; que o visitante apostólico passou apenas quatro dias em São Félix, sem visitar nenhuma comunidade, concordando apenas em conversar com pouquíssimas pessoas e ver o Arquivo da Prelazia, depois de insistirmos que o fizesse. Nem ele, nem a Nunciatura, nem a Santa Sé jamais me comunicaram as conclusões da referida visita, embora eu a tivesse expressamente solicitado.

Por fim, quero reafirmar-lhe, querido irmão em Cristo e Papa, a segurança da minha comunhão e a sincera vontade de continuar com a Igreja de Jesus, a serviço do Reino. Deixo para Pedro, de nossa Igreja, tomar a decisão que julgar apropriada a meu respeito, também bispo da Igreja. Não quero criar problemas desnecessários. Desejo ajudar, de forma responsável e colegiada, a levar adianta missão evangelizadora da Igreja, particularmente aqui no Brasil e na América Latina. Porque acredito na perenidade do Evangelho e na presença sempre libertadora do Senhor Ressuscitado, quero acreditar também na juventude da sua Igreja.

Se você considerar apropriado, pode indicar uma data para eu visitá-lo pessoalmente.

Confio na sua oração de irmão e de Pontífice. Deixo o desafio desta hora nas mãos de Maria, Mãe de Jesus. Reitero a minha comunhão de irmão em Jesus Cristo e, com você, reafirmo a minha condição de servo da Igreja de Jesus.

Com sua bênção apostólica,

Pedro Casaldáliga,
Bispo de São Félix do Araguaia , MT, Brasil.

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As 4 causas da destruição da Amazônia

As 4 causas da destruição da Amazônia

As 4 causas da destruição da Amazônia

2 de novembro de 2020

As causas de Pedro Casaldáliga

No ano passado foi notícia mundial: A Amazônia está sendo destruída por incêndios sem precedentes.

Fotografias chocantes das queimadas que atingiram matas e florestas apareceram nos noticiários de televisão, nos jornais e sites na Internet.

Muitas ONGs, movimentos e até atores internacionais publicaram documentos exigindo soluções diante desse crime ambiental contra a humanidade.

Queimada em uma das comunidades onde trabalhamos no Araguaia.

A realidade, porém, é que a Amazônia vem sendo queimada há muitos anos.

Há décadas que as famílias que moram aqui denunciam e reclamam que a destruição da floresta prejudica seus plantios, sua saúde e limita a sua capacidade de obter alimentos e até de dispor de água!

No entanto, 2019 e 2020 serão lembrados como anos em que a Amazônia queimou como fazia décadas não o fazia. A destruição deste bioma fundamental atingiu limites insuspeitados.

Por quê? O que aconteceu nesta região do Araguaia? Por que a Amazônia queima tanto? Estes são 4 dos motivos principais!

1. O cenário perfeito

A região da Prelazia de São Félix do Araguaia abrange uma área de aproximadamente 150.000 km2 dentro da Amazônia Legal . Está situada ao nordeste do estado de Mato Grosso, na divisa com o Tocantins e o Pará, a cerca de 1.200 km ao norte da capital brasileira, Brasília.

O primeiro elemento que precisamos considerar para entender os incêndios é, portanto, “as distâncias”: o espaço ocupado pela Prelazia de São Félix do Araguaia é maior que toda a Grécia ou toda a Nicarágua…e equivalente a todo o Ceará! .

A região do Araguaia se encontra na Amazônia Legal, a 1.200 ao norte de Brasília, entre os biomas Cerrado e Amazónico.

Nesta extensa região temos o privilégio de testemunhar uma rica transição de biomas: do Cerrado, o bioma mais biodiverso do mundo, até a Amazônia. Esse fato confere uma riqueza única de formas de vida vegetal e animal, que se estende desde as savanas do Cerrado até a densa floresta amazônica.

A característica geográfica mais marcante, no entanto, é que esta região está localizada entre dois dos grandes rios da América Latina: o Rio Araguaia e o Rio Xingu.

Também tem dentro de seus limites duas grandes e lendárias terras indígenas de proteção ambiental: o Parque Indígena do Xingu, a oeste e a Illa del Bananal, ao leste.

Esta configuração implica também que a região possui poucas estradas de acesso, muitas das quais em condições precárias.

A rodovia principal é a BR-158, que corta a região de norte a sul e ainda tem mais de 200 km sem asfalto. Isso significa que neste Araguaia viajar para qualquer cidade de mais de 50.000 habitantes significa fazer entre 15 e 24 horas de ônibus.

Vista aérea da cidade de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso, na divisa com o estado de Tocantins.

Trata-se de uma região pouco povoada, pois em 2010 (último censo oficial) moravam aqui 125.271 pessoas. Nenhum dos 15 municípios que formam a área da Prelazia de São Félix do Araguaia supera os 35 mil habitantes. Neles, 43% da população vive na área rural.

Confresa, atualmente com 30.000 habitantes (estimativa), e Serra Nova Dourada, onde moram 1.365 pessoas, são os municípios mais grande e mais pequeno respectivamente.

Nesse sentido, é preciso entender a Amazônia e, concretamente esta região do Araguaia como uma enorme extensão, do tamanho de alguns países, relativamente pouco habitada, onde as cidades estão separadas por grandes distâncias e as vias de acesso são muito precárias.

2. O material inflamável

No Araguaia, o principal sector económico são os serviços, que representam a metade da economia regional. A outra economia é a produção agrícola.

Os serviços incluem actividades como o comércio, a construção e as relacionadas com a administração pública.

Ja a produção no campo se concentra na cria extensiva de gado e na produção de soja e outros grãos em grande escada.

De fato, uma das particularidades da ocupação do território no Araguaia é a relação entre a população humana e o rebanho bovino: Aqui temos 22 cabeças de gado por cada habitante.

No Brasil há 53 hectares de terras dedicadas à pecuária: equivalentes a toda França.

Há de certo uma há uma causalidade estreita entre a baixa densidade populacional e o peso da pecuária: a pecuária extensiva precisa de grandes territórios para se desenvolver, com mão de obra escassa, para que processos limitados de acumulação de capital sejam gerados em relação ao espaço ocupado.

O resultado são as baixas taxas de densidade populacional em comparação com outras regiões com uma economia mais avançada e diversificada.

Este modelo económico foi construido sobre a base de uma forte política de incentivos fiscais que pretendia a instalação de grandes projetos agrícolas na Amazônia e que começou a ser incentivada sistematicamente na década de 1960…e que se tem fortalecido nas últimas décadas e adotado como política federal desde a chegada de Bolsonaro.

Ao mesmo tempo, as políticas públicas para os agricultores familiares tem priorizado o mesmo modelo produtivo das grandes : nesta região tem animado e incentivado financeiramente o desmatamento e a monocultura.

O modelo económico que os poderos escolheram para a região vem sendo implementado há 60 anos: primeiro, apoiado e financiado pela ditadura militar e executado pelo latifundio; e, nas últimas décadas, pelo financiamento público (de novo), veiculado pelas grandes coorporações sobre a base das escassas e mal executadas políticas realistas para a vida das famílias no campo.

3. O combustível mais eficaz

Ao mesmo tempo em que a pecuária aumentou exponencialmente durante os últimos 15 anos (concretamente em 15 milhões de cabeças de gado), tem havido uma presença crescente da agricultura industrial em grande escada. A soja é o principal cultivo e ocupa quase 80% do total das áreas agrícolas da região.

Para a safra (colheita) de 2020 calcula-se que serão recolhidas 34 milhões de toneladas de soja, plantadas em 9,82 milhões de hectáres, só no Estado do Mato Grosso: uma superficie equivalente ao Pernambuco ou a Santa Catarina inteiros….sem uma árvore, sem um animal…apenas com soja para exportar à China e à Europa.

Vídeo da estrada que percorre a região do Araguaia, a BR158, em seu passo pelo municipio de Ribeirão Cascalheira, com quilômetros e quilômetros de soja.

A relação é muito clara e não admite muita discussão:o modelo agroindustrial é a principal causa da destruição ambiental, social e económica da Amazônia.

4. O Incendiário

No marco desta situação e desta história, temos de acrescentar ainda as declarações, o clima criado e as políticas implementadas pelo governo Bolsonaro na Amazônia: as ações intencionalmente orientadas a promover e apoiar o modelo agroindustrial e a elimininar, portanto, as formas de vida alternativas, respeituosas com as pessoas e o meio ambiente, vem sendo impostas desde 2019 e deixando um rastro de destruição, discriminação, racismo e concentração de renda em toda a região.

O trabalho que se tinha conseguido fazer nos últimos 40 anos, de conscientização, de olhar a diversificação da produção como uma riqueza para a Humanidade, de re-plantar zonas que tinham sido desmatadas, etc, está seriamente ameaçado.

Bolsonaro tem eliminando os mecanismos financeiros que ajudavam à preservação da Amazônia e esvaziado os órgãos públicos que se dedicam à vigilância ambiental, animando o desmatamento e a grilhagem de terras.

Assim, sobre a base de uma história caracterizada pela distribuição desigual de terras, pela desigualdade e a pobreza, pela escassa presença do estado e pela implementação de um modelo produtivo baseado na monocultura da soja e da pecuária extensiva, temos que acrescentar agora as políticas públicas que encorajam os latifundiários, negam a destruição da natureza e criminalizam os Povos Indígenas e a Sociedade Civil organizada. É fácil entender, então, que temos a conjuntura perfeita que explica porque a Amazônia, o Pantanal ou Cerrado estão sendo destruídos como nunca.

Raul Vico. Associação ANSA e Associação Araguaia com o Bispo Casaldáliga.

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Entrevista às irmãs de Pedro Casaldáliga

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Carme e Maria Casaldáliga viram seu irmão Pedro partir para a Amazônia aos 40 anos. Nunca mais voltou para casa. Da Plaça Ricard Viñas nº 10, na cidade de Balsareny, onde a família mora, as irmãs de Pedro Casaldáliga nos contam como têm vivido os mais de 50 anos de vida dedicados à defesa dos mais pobres de seu irmão.

20 de outubro de 2020

A vida de Pedro Casaldáliga

[Entrevista realizada em julho de 2020, poucos dias antes do bispo Pedro falecer]

Pedro Casaldáliga, com 11 anos, ou mesmo antes, tinha clareza que queria ser padre. Como a família acolheu essa decisão de um menino de 11 anos?

Carme: Ele sempre dizia que queria ser padeiro, mas tinha um padre que frequentava o Cortès del Pi (uma casa rural onde moravam primos do Pedro) e contava muitas histórias e também coisas da Guerra Civil e isso fez ele decidir ser padre. Ao entrar no seminário de Vic, logo pediu para ser missionário claretiano. Escreveu uma carta aos nossos pais contando.

Carta que en Pere Casaldàliga envià a la seva família des del seminari

Carta do seminário para sua mãe, Montserrat Pla. Imagem: Família Casaldáliga. Seleção: Cercle Cultural de Balsareny.

Como era o Pedro durante sua infância? Parece que já sendo adolescente tinha muita firmeza em suas ideias.

Carme: Ele era brincalhão como as outras crianças daqui, mas ele não gostava de brigas de jeito nenhum. Aqui em casa vinham muitas crianças brincar no telhado porque era grande. Lembro-me dos irmãos do Cal Paquela (Bonet), dos Vilelles … E se havia brigas, ele sempre tentava fazer as pazes.

Pere Casaldàliga (al cercle) d'excursió

Excursão de Pedro Casaldáliga (no círculo) e seus amigos de infância. Imagem: Família Casaldáliga. Seleção: Cercle Cultural de Balsareny.

O seu tio Luís, que também era padre, foi assassinado durante a Guerra Civil Espanhola enquanto tentava se esconder. Diz-se que esse fato, somado ao vínculo que o Pedro mantinha com seu tio Luís, o influenciou no modo como enfrentou a vida. Foi isso mesmo?

Carme: Sim, com certeza. O fato do nosso tio Luís ter sido assassinado na guerra, aqui perto, foi decisivo para o Pedro.

Maria: Em casa, nossos pais e a família não queriam falar muito nesse assunto; mas o tio Luís era muito jovem (33 anos) e foi um grande impacto para toda a família.

Quando Pedro Casaldáliga partiu para o Brasil como missionário em 1968, como se despediu de sua família e vocês dele?

Carme e Maria: Ele se despediu de todos e foi visitar parentes de outros lugares. O Luís de Cal Pastisseret o acompanhou. A Mercè de Cal Pastisseret nos contou que estando em Candáliga [a casa rural da família], do alto da escada, ele disse: «Deixe-me olhar com atenção, pois nunca mais verei este lugar.»

Todos pensaram que ele voltaria em pouco tempo, mas ele nunca mais voltou. Só nos encontramos novamente em Roma vinte anos mais tarde.

A Antonia de Ca l’Arnaus e o tio Jaumet de Cal Peret sempre disseram que ele seria bispo. A Antonia usava sempre um anel e dizia que quando ele fosse bispo, aquele anel seria para ele. Eram muito amigos com a Antonia. Foi uma despedida muito familiar. Todos pensaram que ele voltaria logo, mas ele nunca mais voltou. Nos encontramos novamente em Roma vinte anos mais tarde.

Pere Casaldàliga celebra la seva primera missa com a capellà a Balsareny

Pedro Casaldáliga depois de celebrar a sua primeira missa -como padre- em Balsareny. Imagem: Família Casaldáliga. Seleção: Cercle Cultural de Balsareny.

Uma vez lá, no interior do Mato Grosso, em São Félix do Araguaia, ele realmente foi ciente da complicada situação daquela região. Como ele contava para vocês da situação de lá? Como vocês viveram esses primeiros anos dele no Mato Grosso?

Carme : recebíamos uma carta a cada dois meses ou às vezes demorava mais. Algumas não chegaram. Imediatamente vimos que a situação era muito difícil, pois ele nos contava nas cartas. A gente partilhava as cartas com os demais membros da família e também com os vizinhos. Aquelas cartas eram esperadas por todos!

Maria : Sobretudo quando encontrou tantas crianças mortas: isso ele nos contou logo. Só chegar lá, já deram para ele crianças mortas para sepultar.

A cada cinco anos eles poderiam vir; mas ele não o fez, porque se ele viesse não o deixariam entrar novamente.

Carme : Ele disse: «Tenho que ter muito cuidado agora, porque eles também querem me matar.» Mesmo assim, ele não falava abertamente nas cartas, pois sabia que as mesmas eram lidas pela ditadura. Também chegava informação dos padres que estavam com ele, Pedrito, José Maria, Manuel e de outras pessoas que viviam com ele e vinham nos visitar. Os vizinhos da praça onde moramos, ao verem uma pessoa desconhecida, falavam: «mais uma visita do Padre Pedro», e indicavam para eles a nossa casa. Às vezes eles iam para o Brasil de barco e aproveitavam para levar muitas coisas que precisavam. A cada cinco anos eles poderiam vir; mas o Pedro não veio, porque se ele deixava o Brasil, não o deixariam entrar novamente.

O Pedro sempre dizia que «o bom humor é amigo da esperança». Em muitas entrevistas ele expressa com alegria e cordialidade a sua mensagem de esperança em defesa da justiça, da liberdade, da paz e do amor. Esse jeito brincalão faz parte do DNA Casaldáliga? Ou é uma virtude que se manifestava e se acentuava no Pedro?

Carme : É o seu estilo. Ele sempre estava animado e alegre. O restante de nós não somos tão de brincar. Ele levava a alegria muito dentro.

Maria : Tem outras coisas que sim levava da família: o nosso pai também gostava muito de cinema e se interessava pela cultura. Ele lia o jornal todos os dias. Varias vezes foi ao cinema em Manresa e até ia caminhando para a Biblioteca de Sallent, pois aqui não tinha.

Sabíamos que havia repressão e que havia perigo, mas a notícia da morte de João Bosco nos assustou ainda mais.

O assassinato do mártir João Bosco em 1976, quando foi confundido com o bispo Casaldáliga, além de ter causado indignação e tristeza; fez vocês perceber de uma maneira diferente as ameaças que o Pedro teve que enfrentar?

Maria : Nos primeiros anos já vimos que as cartas eram lidas e por isso ele não colocava o nome de Casaldàliga, pois teriam ficado com elas. Já vimos que havia repressão e que havia perigo, mas quando ficamos sabendo da morte de João Bosco sentimos muito mais medo. Pensávamos muito nisso, mas infelizmente, não podíamos fazer muito…

A vovó sofreu muito com o fato de seu filho não ter voltado e ela estar tão longe. Quando ela já estava muito desorientada, muitas vezes a ouvíamos gritar da sala: “Pedro, Pedro …!

Se passaram 20 anos desde que seu irmão Pedro foi embora de Balsareny e se encontraram por primeira vez em todo esse tempo em Roma. Como foi esse encontro?

Carme: Foi muito emocionante. A gente sempre o levava no pensamento, mas ter a oportunidade de se encontrar novamente com ele… faltaram dias. Além disso, como somos muitos na família, todos queríam estar com ele e falar com ele. Partilhamos muitas lembranças e conversamos muito. Em um restaurante onde almoçamos, nos contou que nunca mais tinha comido berinjela…

Sobrinhas:  Fazia muitos anos que não o víamos e algumas de nós nem o conhecíamos: era a primeira vez que o víamos. Foi um reencontro e logo se fez muito próximo, como se tivéssemos nos encontrado recentemente, pelo jeito que ele era e também porque se falava muito dele em casa: a nossa avó falava dele todos os dias.

Pere Casaldàliga amb la seva mare, al nadal de 1966

Pedro Casaldáliga com a mãe, no Natal de 1966. Imagem: Família Casaldáliga. Seleção: Cercle Cultural de Balsareny.

Carme: A mãe pedia para as meninas fazer uma prece: «Santo Antônio do porquinho, ajudai meu pai; Santo Antônio Maria Claret ajudai meu tio». Nós sabíamos que ele queria estar lá no Mato Grosso; sabíamos que era isso que ele gostava e sempre o apoiamos.

Maria: Quando minha mãe estava muito doente e muito confusa, lembro que um dia, vendo uma foto que tínhamos do Pedro, ela começou a dizer: «Esse Pedro, esse Pedro … , que nunca vem nos visitar!»

Sobrinhas: a vovó sofreu muito com o fato de seu filho não ter voltado e ela estar tão longe. Quando ela já estava muito velinha, muitas vezes a ouvíamos chamar ele do quarto: «Pedro, Pedro, …!».

 

Entrevista feita por Jordi Vilanova e publicada na revista El Sarment em julho de 2020

 

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4 momentos imprescindíveis da despedida de Casaldáliga

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Muitas têm sido as celebrações de despedida e homenagem a Pedro Casaldáliga. Organizações, igrejas, movimentos sociais, grupos e muitas comunidades se lembraram com carinho da figura de Pedro.

Aqui estão alguns dos mais representativos.

12 de setembro de 2020

A vida de Pedro Casaldáliga

Sepultamento em São Félix do Araguaia

O Centro Comunitário “Tia Irene” testemunhou o funeral do Pedro Casaldáliga no Araguaia. Na noite anterior, todo o seu povo teve a oportunidade de se despedir de Pedro em uma vigília repleta de poesia, música e esperança.

No dia seguinte, 12 de agosto, foi realizado o funeral, seguido do sepultamento no Cemitério Karajá, próximo ao Rio Araguaia.

Missa fúnebre em Balsareny

Na cidade onde Pedro nasceu e onde ainda mora uma boa parte da sua família, em Balsareny, no dia 15 de setembro se fez uma missa-funeral, em uma celebração austera e ao mesmo tempo acolhedora.

Para além dos parlamentos e das memórias emocionantes, é de destacar que foram colocados tanto o altar como o exterior da igreja, para além de um retrato do Pedro Casaldáliga, vários elementos carregados de simbolismo que representam a vida do bispo.

Homenagem de movimentos sociais do Brasil

Vários movimentos sociais no Brasil que Pedro Casaldáliga ajudou a criar e, em alguns casos, liderou, prestaram homenagem ao bispo um mês após sua morte.

Um vídeo com muitas testemunhas falando sobre o legado de Casaldáliga no Brasil.

Tributo da Argentina

Coordenado pelo Centro Nueva Tierra , uma ampla gama de organizações argentinas também prestaram homenagem a Pedro Casaldáliga.

Entre as testemunhas, Michael Moore, grande conhecedor da obra poética de Casaldáliga e Gerardo Bassi, responsável pela conta do Twitter dedicada a citações de Pedro Casaldáliga.

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Aos 30 dias do falecimento de Pedro Casaldáliga

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Hoje, faz um mês que o Tio Pedro faleceu.

Não foi uma morte violenta ou repentina, como talvez ele tivesse imaginado, mas isso não a faz menos triste.

Sinto tristeza, vazio, orfandade que com o passar dos dias, e com um pouco mais de calma, depois de alguns dias intensos: de preocupação primeiro, e de mensagens e homenagens depois, torna-se cada vez mais intenso.

No entanto, ao mesmo tempo, se faz mais forte também o sentimento de alegria e de gratidão porque, como diz meu bom amigo David Fernández, “o milagre é que ele tenha vivido” e que a gente possa ter acompanhado, mesmo de longe, essa vida tão radical, coerente e completa…
Tanto no nível individual quanto da Associação Araguaia com o Bispo Casaldáliga, sinto que agora temos a responsabilidade e o compromisso de continuar apoiando as Causas que permanecem e estão mais vivas do que nunca. Com a certeza de que ele ainda é a luz que irá nos acompanhar para sempre nesta “caminhada” com Esperança.
Glòria Casaldàliga
Pere Casaldàliga amb Maritxu Ayuso a casa seva a São Félix do Araguaia
Hoje faz 30 dias desde a tua Páscoa, querido Pedro, e ainda estou em orfandade.

Mas lentamente, a tua Esperança aconchega este vazio.
A tua pegada será luz no mais profundo da minha vida.
As tuas sandálias já estão consagrando nosso caminho, a luta e a Utopia por um mundo mais justo.

Obrigado, São Pedro do Araguaia!!!

Maritxu Ayuso

Zilda Martins amb en Pere Casaldàliga a São Félix
Pedro foi um grande profeta do povo, um poeta sensível e profundo, mas acima de tudo, para mim, foi uma pessoa muito divertida, humilde, risonha e simples, que sempre me tratou muito bem e me incentivou a fazer meu trabalho no Arquivo da Prelazia de São Félix.

Hoje, sinto falta de sua presença. Me sinto um pouco mais “perdida” diante das dificuldades. Mas, vou tentar colocar em prática tudo o que ele me ensinou. Sei que é difícil e que somente pessoas com a coragem e a fé de Pedro podem alcançá-lo como ele, mas tenho certeza de que ele continuará a me encorajar e a me dar forças.

Zilda Martins

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