A “Missa dos Quilombos” foi celebrada em 20 de novembro de 1981 na cidade de Recife (PE), para mais de 8 mil pessoas. É considerada uma expressão artística e religiosa que busca honrar a luta e a resistência do povo negro no Brasil.
A Missa dos Quilombos combina elementos da tradição católica com ritmos e melodias afrobrasileiras, criando uma fusão única de música sacra e folclore. A obra se inspira na história e cultura dos “quilombos”, que eram comunidades de pessoas negras fugitivas em busca de liberdade e autonomia durante a época da escravidão no Brasil.
A Missa dos Quilombos é uma homenagem à cultura negra, uma celebração da resistência e um lembrete da importância da justiça social e inclusão na sociedade brasileira e além.
Em nome de um suposto Deus branco e colonizador, que nações cristãs têm adorado como se fosse o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, milhões de negros foram submetidos, durante séculos, à escravidão, desespero e morte. No Brasil, na América, na mãe África, no mundo.
Deportados como “peças” da ancestral Aruanda, eles encheram os canaviais e minas de mão de obra barata e inundaram os povoados com indivíduos sem cultura, clandestinos, inviáveis. (Ainda hoje, eles preenchem de subgente – para os senhores brancos e senhoras brancas e a lei dos brancos – as cozinhas, os cais, os bordéis, as favelas, os subúrbios, as prisões).
Para escândalo de muitos fariseus e alívio de muitos arrependidos, a Missa dos Quilombos confessa diante de Deus e da História essa máxima culpa cristã.
Mas um dia, uma noite, surgiram os Quilombos, e entre eles, o Sinai Negro de Palmares, e nasceu, de Palmares, o Moisés Negro, Zumbi. E a liberdade impossível e a identidade proibida floresceram, “em nome do Deus de todos os nomes”, “que faz toda carne, negra e branca, vermelha no sangue”.
Vindos “do fundo da terra”, “da carne do flagelo”, “do exílio da vida”, os Negros decidiram forçar “as novas Alvoradas” e reconquistar Palmares e retornar à Aruanda.
E estando ali, de pé, quebrando as muitas correntes em casa, na rua, no trabalho, na igreja, resplandecentemente negros sob o sol da Luta e da Esperança.
Cartaz do CD gravado posteriormente com a música da Missa dos Quilombos
Para escândalo de muitos fariseus e alívio de muitos arrependidos, a Missa dos Quilombos confessa diante de Deus e da História essa máxima culpa cristã.
Na música do negro minerador Milton e de seus cantores e músicos, oferece ao único Senhor “o trabalho, as lutas, o martírio do Povo Negro de todos os tempos e lugares”.
Como toda verdadeira Missa, a Missa dos Quilombos é pascal.
E garante ao Povo negro a Paz conquistada da Liberação. Pelos rios do sangue negro, derramado no mundo. Pelo sangue do Homem “sem figura humana”, sacrificado pelos poderes do Império e do Templo, mas ressuscitado da Ignomínia da Morte pelo Espírito de Deus, seu Pai.
Como toda verdadeira Missa, a Missa dos Quilombos é pascal: celebra a Morte e a Ressurreição do Povo Negro, na Morte e Ressurreição de Cristo.
Pedro Tierra e eu já empenhamos nossa palavra, iradamente fraterna,
com a Causa dos Povos indígenas, com a “Missa da Terra sem males”; e agora empenhamos a mesma palavra com a Causa do Povo Negro, com essa Missa dos Quilombos.
Chegou a hora de cantar o Quilombo que está por vir: estamos no momento de celebrar a Missa dos Quilombos, na esperança rebelde, com todos “os Negros da África, os Afros da América, os Negros do Mundo, em Aliança com todos os pobres da Terra”.
Pedro Casaldáliga. Apresentação da Missa dos Quilombos, 1982
Gostaria de evocar aqui a memória de Pedro Casaldáliga, tentando esboçar um pouco de sua figura multifacetada, concentrando-se em três características de sua personalidade: seu ser poeta, seu ser profeta e seu ser pastor. Combinando os três -que se iluminam e se alimentam mutuamente- e por meio de uma “fórmula” introdutória, eu diria: Na vida de Pedro, a palavra poética torna-se um anúncio e uma denúncia profética, expressada com total claridade, como sendo a obrigação de quem tem o dever de pastorear um povo cuja dignidade foi espezinhada.
1. Pedro-poeta
Em primeiro lugar, o Pedro-poeta a partir do qual ele se definiu muitas vezes:
“A poesia tem significado e significa muito para mim. Às vezes penso que se eu sou alguma coisa é isso, um poeta. E que mesmo como religioso e como sacerdote e como bispo, sou um poeta. Eu sinto, digo ou faço muitas coisas porque sou poeta. Você sabe que para mim poesia é a palavra emocionada, a realidade intuída e expressada em uma palavra de emoção.”
(T. Cabestrero, Diálogos en Mato Grosso con Pedro Casaldáliga, Salamanca, Sígueme 1978, 175).
Poesia, acrescento, para cantar a beleza sem tentar dissecá-la, e poesia para gritar tanta dor sem banalizá-la.
Pedro-poeta encontrou em seus versos-sem-verso a sua saída e o nosso consolo. Ele descobriu os logos poéticos como uma arma pacífica para se defender e explicar: “Depois do sangue, a palavra é o maior “poder”. Através dela se diz a si mesmo e diz o Universo, o Próximo, o Povo, a Morte, a Vida, Deus, calorosamente” (T. Cabestrero, El sueño de Galilea. Confesiones eclesiales de Pedro Casaldáliga, Madri, Claretianas 1992, 131).
A través de uma palavra poética que nasce dos lábios bem abertos e os punhos bem apertados, Casaldáliga nomeou, resgatou e recriou tudo (natureza, homem, histórias,…) a partir da sua profunda experiência do Mistério -com letra maiúscula- que o transformou em um verdadeiro místico “de olhos abertos” (J.B. Metz), ou seja: aquele que suspeita e descobre Deus onde Ele não parece estar: no cinzento sem sentido e no sofrimento inocente.
Lendo sua poesia, descubro que existe, por um lado, uma necessidade inevitável de nomear o Mistério (em linguagem não dogmática) e, por outro lado, um modesto respeito pelo Último para evitar manipulá-lo e não tentar esgotá-lo ou defini-lo. Para iluminar o primeiro, como testemunha de um Mistério que o envolve, o transborda e o impulsiona a se comunicar, basta lembrar:
“Yo hago versos y creo en Dios.
Mis versos
andan llenos de Dios, como pulmones
llenos del aire vivo”.
Primeiro ele se declara poeta… e depois crente!
A realidade é que Pedro está cheio de Deus. Seus pulmões, suas entranhas, seus desejos estão cheios de Deus e por isso ele precisa compartilhar esta Boa Nova. Falando de si mesmo, ele reconhece:
“Se eu não falasse de Deus e de Jesus seu Filho, sentir-me-ia como um traidor, mudo, morto. Distâncias apostólicas salvas, “o que seria de mim se eu não evangelizar”, o que seria de mim se eu fizesse poesia que não fosse evangélica, que não evangelizasse!”
(T. Cabestrero, El sueño…, 133).
O Mistério deve ser dito porque é uma parte essencial da vida; ele deve ser preservado, gritado e mantido em silêncio:
EL MISTERIO
Os quedaréis sin la vida
si le quitáis el misterio.
Hay que salvar el aroma
de la madera cortada.
La mano de Dios confina
con las murallas del mundo,
con la esperanza del hombre.
Jugarse el tipo, de gracia,
como los niños que juegan.
Servir bajo el día a día.
Crecer contra la evidencia.
Decir siempre una palabra
última de lucha, para
caer luego de rodillas
en silencio.
Silêncio e palavra; palavra e silêncio:
“Derramando palabras,
de mis silencios vengo
y a mis silencios voy.
Y en Tus silencios labras
el grito que sostengo
y el silencio que soy”.
E neste derramar de palavras que procuram nomear o Inamável, o poeta está consciente do risco constante de manipulação em que corremos quando falamos do Totalmente Outro:
“Como podemos deixar você ser apenas você mesmo, / sem reduzi-lo, sem manipulá-lo?”.
Manipulação que muitas vezes anda de mãos dadas com o fato de confundir Deus com nossas experiências e representações, sempre nossas e portanto sempre falíveis, sempre gaguejando, como ele escreve em uma de suas “Antifonas”:
“Direi de ti / minha última palavra / (Sempre penúltima / e sempre minha)”.
Quanto temos para aprender aqueles que temos a possibilidade de falar de Deus: bispos, padres, teólogos, catequistas, pregadores… Serão sempre nossas palavras interpretando o Inefável, pois conhecemos verdadeiramente Deus… mas o conhecemos como conhecemos todas as outras realidades: à maneira humana.
Para concluir esta primeira abordagem, gostaria de citar algumas palavras do próprio Casaldáliga, nas quais ele define sua vocação poética:
“A poesia é a resposta sensibilizada a tudo e a todos, em um encontro que pulsa a alma e compromete as opções. A minha prática poética é “no caminho”: vivendo, tocado por um momento forte, movido por um encontro, por uma leitura, evocando, sonhando com o amanhã, rezando”
(T. Cabestrero, O sonho…, 131).
Uma poesia, eu diria, nascida de um coração peregrino e amoroso, e de pés cansados e descalços, como sugere no poema “Pensa também com os pés”:
PIENSA TAMBIÉN CON LOS PIES
Piensa también
con los pies
sobre el camino
cansado
por tantos pies caminantes.
Piensa también, sobre todo,
con el corazón
abierto
a todos los corazones
que laten igual que el tuyo,
como hermanos,
peregrinos,
heridos también de vida,
heridos quizá de muerte.
Para Casaldáliga, a poesia e a profecia andam de mãos dadas:
“Para mim, todo poeta é um profeta (…). Veja que todo poeta escuta seu povo e o traduz em um grito, um clamor. Que todo poeta dá a seu povo, no momento histórico se for um poeta mais épico, ou a cada membro de seu povo no momento sentimental se for um poeta mais lírico, aquela palavra, aquela pista, aquele clima que os faz vibrar, que os faz viver.”
(T. Cabestrero, Diálogos…, 175-176).
Em primeiro lugar, ouvir e, em segundo lugar, verbalizar, emprestar palavras principalmente para os sem-voz. Poesia que brota da história concreta, de pés enlameados e de um coração comovido. A palavra comprometida nasce de seus lábios:
“Por causa de minha vocação pessoal e ideologia legítima, não acredito na poesia neutra. A pessoa é movida pela raiva diante da injustiça, da miséria e da arrogância. Comovemo-nos com compaixão diante dos pobres, diante do sofrimento humano.”
(T. Cabestrero, El sueño…, 133-134).
É esta santa raiva que leva um homem “no bom sentido da palavra, bom” (A. Machado), a lançar maldições como flechas disparadas contra as injustiças da história, reminiscente dos famosos “infortúnios” – “ai de vocês…” – do outro profeta, o profeta de Nazaré (cf. Mt 23,13 ss.):
TIERRA NUESTRA, LIBERTAD
(…)
¡Malditas sean
las cercas vuestras,
las que os cercan
por dentro,
gordos,
solos,
como cerdos cebados;
cerrando
con su alambre y sus títulos,
fuera de vuestro amor
a los hermanos!
(¡Fuera de sus derechos,
sus hijos
y sus llantos
y sus muertos,
sus brazos y su arroz!)
¡Cerrándoos
fuera de los hermanos
y de Dios!
¡Malditas sean
todas las cercas!
¡Malditas todas las
propiedades privadas
que nos privan
de vivir y de amar!
(…)
Mas toda essa denúncia, que em mais de uma ocasião desmascarou o pecado e o mal no mundo (e na igreja), é sustentada e iluminada por um horizonte firme de esperança:
“A morte continua sendo para mim a coisa mais séria da vida. Isso “me faz Páscoa”. Às vezes eu quase desesperei e perguntei a Deus por que tantas mortes estúpidas, aparentemente sem sentido, mortes por fome, por causa da distância, por não ter um mínimo de infra-estrutura, de cuidados médicos, etc., por tanta injustiça, “mortes morridas”, como dizem aqui, mortes que enlouqueceram. Por outro lado, é claro, a morte é “a Páscoa do Senhor”. Eu tenho fé, tenho esperança… aqui minha esperança afiou, afiou como uma lâmina enquanto eu cortei a carne da morte atual. Eu só posso esperar. Não há outra possibilidade.”
(T. Cabestrero, Diálogos…, 100)
Gostaria de iluminar esta característica de um profeta esperançoso com um dos muitos sonetos que ele escreveu sobre o assunto:
ENTONCES LO VEREMOS COMO ES
Porque lo espero a El, y porque espero
que, al encontrarlo, todos nos veamos
restablecidos por el sol primero
y el corazón seguro de que amamos;
porque no acepto esa mirada fría
y creo en el rescoldo que ella esconde;
porque tu soledad también es mía;
y todo yo soy una herida, donde
alguna sangre mana; y donde espera
un muerto, yo reclamo primavera,
muerto con él ya antes de mi muerte;
porque aprendí a esperar a contramano
de tanta decepción: te juro, hermano,
que espero tanto verLo como verte.
E deixe-me sublinhar apenas três características: o céu, a felicidade última, o destino último do homem, não será apenas ver e abraçar Deus, mas também todos aqueles que nos precederam (de uma forma particular, as vítimas de várias injustiças): “Espero tanto vê-Lo quanto vê-los”.
Em segundo lugar, este compromisso com o abraço ressuscitado é validado na capacidade anterior de morrer com aqueles que morreram antes de seu tempo:
“donde espera
un muerto, yo reclamo primavera,
muerto con él ya antes de mi muerte”,
E, finalmente, o convite que o poeta nos faz para “esperar na contramão / de tanta decepção”, que nos convida a pensar agora, cada um de nós, quais foram e são as decepções -pessoais e institucionais- com as quais e apesar das quais continuamos a acreditar, esperar e amar.…
3. Pedro-Pastor
E a última perspectiva que quero compartilhar neste rápido esboço de um retrato é a de Pedro-pastor, lembrando que ele só aceitou ser consagrado bispo quando se sentiu “fraternalmente pressionado” e convencido por seu próprio povo a aderir a esse ministério de serviço. Nascido poeta, ele foi “feito” bispo, como ele comenta com ironia sutil:
“Para informação dos amigos e sem qualquer discussão possível, é bom registrar a opinião de ninguém menos que o Papa João Paulo II, que também é poeta: “É mais fácil fazer um bom poeta do que fazer um bom bispo”. E ele o disse de mim quando, em sua primeira viagem ao Brasil, eu lhe dediquei aquele poema “João Paulo, Pedro só”. Já se sabe que o poeta nasce, mas, até o momento, os bispos se fazem.”
(T. Cabestrero, El sueño…, 132)
Desde o início, o simbolismo marcou todo o programa de seu ministério pastoral: ele nunca usou um bastão “tradicional”, anel ou mitra, mas um remo, um anel de palmeira (tucum) e um chapéu de palha. Todos esses elementos se referem àquela terra indígena oprimida e incomodam, pois, ainda hoje, são tantos sinais mantidos e que têm muito a ver com o Império Romano de outrora e pouco a ver com uma igreja samaritana. As palavras que ele escreveu no cartão de convite para comemorar sua consagração episcopal são comoventes – e, imagino, desafiadoras para mais de um bispo (23-10-1971):
“Tua mitra será um chapéu de palha sertanejo; o sol e o luar; a chuva e o sereno; o olhar dos pobres com quem caminhas e o olhar gloriosos de Cristo, o Senhor. Teu báculo será a verdade do Evangelho e a confiança do teu povo em ti. Teu anel será a fidelidade à Nova Aliança do Deus Libertador e ao povo desta terra. Não terás outro escudo senão a força da Esperança e a Liberdade dos filhos de Deus, nem usarás outra luva que o serviço do Amor”.
Ele nunca aceitou ser chamado por aqueles títulos que abundam e são tão populares em certos setores eclesiásticos, mas têm tão pouco a ver com o Evangelho: monsenhor, excelência, ilustre, santidade, eminência, etc… Ele pediu para ser chamado “Pedro” ou “Pedrinho”. O fato é que ele nunca deixou de sonhar com outra igreja que – além de ser uma, santa, católica e apostólica – tenha a nudez como sua característica definidora:
Yo, pecador y obispo, me confieso
de soñar con la Iglesia
vestida solamente de Evangelio y sandalias.
Este verso me lembra uma imagem do ano passado, em uma das celebrações fúnebres, onde Pedro descansava com os pés descalços, apenas cobertos com o livro da Palavra. Um símbolo de sua procura pelo Reino na igreja. Uma igreja despojada de superficialidades, de ritos insignificantes e palavras vazias, a fim de concentrar-se no essencial da pobreza:
POBREZA EVANGÉLICA
No tener nada.
No llevar nada.
No poder nada.
No pedir nada.
Y, de pasada,
no matar nada;
no callar nada.
Solamente el Evangelio,
como una faca afilada.
Y el llanto y la risa en la mirada.
Y la mano extendida y apretada.
Y la vida, a caballo, dada. Y
este sol y estos ríos
y esta tierra comprada,
por testigos de la Revolución ya estallada.
¡Y mais nada!
“Sonhar com uma igreja diferente também implica apressar a utopia, incentivando e implementando reformas concretas”. Em um relatório de 1986 – 30 anos antes de o Papa Francisco fazer dele um item prioritário na agenda eclesial -, listando algumas das sombras da Igreja, Pedro denunciou: “A lentidão pseudo-eterna de nossas reformas em cúrias e códigos. Especialista na eternidade, a Igreja frequentemente deixa o Tempo passar…”. (P. Casaldáliga, Al acecho del Reino, Madrid, Nueva Utopía 1989, 179).
E, eu acrescentaria, deixar o tempo passar não é apenas uma questão cronológica, mas uma questão kairológica: “O mal não será / perder o trem da História, / mas perder o Deus vivo / que viaja naquele trem”. E sem certas reformas que não são apenas urgentes, mas impossíveis de adiar mais, será a igreja que verá este trem passar.
Pedro do Araguaia, porque primeiro ele fez com seu exemplo em São Félix, depois teve a coragem de questionar Pedro de Roma, naquele poema duro dedicado a João Paulo II:
“Deja la curia, Pedro,
desmantela el sinedrio y la muralla,
ordena que se cambien todas las filacterias impecables
por palabras de vida, temblorosas”.
Pedro lutou por uma igreja pobre, dos pobres e para os pobres… para que não houvesse mais pobres! Porque ele estava convencido de que o que Deus quer é a igualdade de todos os seus filhos para que eles possam viver em verdadeira e livre fraternidade, como escreveu em um poema irônico intitulado “Igualdade”:
“Si Cristo es
la riqueza
de los pobres,
¿por qué no es
la pobreza
de los ricos,
para ser
la igualdad
de todos?”
E uma observação final para sublinhar a harmonia com a tão falada “igreja em saída”. No poema já citado, dedicado a um predecessor (“Deixe a cúria, Pedro”), ele o exorta -e, nele, a todos os crentes- a se deslocarem em direção às periferias, onde o Povo (sobre)vive, abandonado. Eu cito apenas alguns versos:
Vamos al Huerto de las bananeras,
revestidos de noche, a todo riesgo,
que allí el Maestro suda la sangre de los Pobres.
La túnica inconsútil es esta humilde carne destrozada,
el llanto de los niños sin respuesta,
la memoria bordada de los muertos anónimos.
Legión de mercenarios acosan la frontera de la aurora naciente
y el César los bendice desde su prepotencia.
En la pulcra jofaina Pilatos se abluciona, legalista y cobarde.
El Pueblo es sólo un «resto»,
un resto de Esperanza.
No Lo dejemos sólo entre guardias y príncipes.
Es hora de sudar con Su agonía,
es hora de beber el cáliz de los Pobres
y erguir la Cruz, desnuda de certezas,
y quebrantar la losa—ley y sello— del sepulcro romano,
y amanecer
de Pascua.
Para concluir este rápido e incompleto esboço de sua cativante figura, gostaria de lembrar um pequeno poema que, talvez, possa resumir seu triplo ministério como poeta, profeta e pastor ou, melhor ainda, qual era toda sua vocação: buscar o verdadeiro e sempre inatingível Rosto de Deus para modelar e mudar sua própria vida e, então, oferecê-la como uma “condição de possibilidade” para humanizar um pouco mais a Igreja e o Mundo, desde sua proposta programática de “Humanizar a humanidade praticando a proximidade”:
Para cambiar de vida
hay que cambiar de Dios.
Hay que cambiar de Dios
para cambiar la Iglesia.
Para cambiar el Mundo
hay que cambiar de Dios
Autor: Michael Moore. Tradução: Raul Vico, Fundação Pedro Casaldáliga.
Em uma de suas últimas manifestações, Pedro Casaldáliga nos convocava a optarmos verdadeiramente pelos pobres”. Mas, sabemos o que isso realmente significa? Ele mesmo explicava.
5 de dezembro de 2021
As causas de Pedro Casaldáliga
A Opção pelos Pobres continua sendo a opção pelos pobres, literalmente.
Quero dizer: os pobres são a escolha definitiva de Deus, do Deus de Jesus. A Bíblia inteira e, acima de tudo, a palavra, a vida, a morte e a ressurreição de Jesus, confirmam-nos nesta consciência teológica de que Deus escolheu, escolhe e continuará a escolher os pobres seus filhos – a maioria – proibidos de serem totalmente humanos, por sistemas de arrogância e marginalização.
A opção pelos pobres é “para os pobres”: fundamentalmente, para aqueles quem não tem, que não podem, que vivem as “deficiências” da vida normal, economicamente: falta de terra, moradia, saúde, educação, participação. Os proibidos de viver plenamente sua dignidade como pessoas, filhos e filhas de Deus, irmãos e irmãs.
Optar sempre significa “virar-se para”, entregar-se, comprometer-se.
Quando se escolhe os pobres, escolhe-se também ser contra as causas, as estruturas e os sistemas que fazem os pobres e os impedem de viver com dignidade a condição humana, histórica, de filhos e filhas de Deus, irmãos e irmãs.
Hoje, essa opção pelos pobres é mais actual ainda. Há duas razões para isto. Os pobres são cada vez mais, na América Latina, em todo o Mundo. E eles são mais pobres; o empobrecimento é maior […].
A “opção pelos pobres” também é mais atual hoje, porque há muitos interesses que querem desatualizá-la. Entre os poderosos, é claro, mas também na consciência de muitos cristãos que estão cansados ou adormecidos ou sendo egoístas.
Muitos estão cansados, dizem eles, de ouvir falar da opção pelos pobres…aí, eu gosto de lhes responder que os pobres estão provavelmente muito mais cansados de ser pobres.
Simultâneamente, esta opção tornou-se mais actual do que nunca, porque também se tornou mais dialéctica. Este cansaço, este desejo de marginalizar a opção pelos pobres, de considerá-la como já passada, se encontra com um movimento ascendente de consciência popular, na América Latina de uma forma muito especial, mas também em todo o Terceiro Mundo e nos sectores de solidariedade da sociedade do Primeiro Mundo, nos meios de comunicação social, na mídia alternativa, etc.
Podemos dizer de forma global que as maiorias oprimidas, proibidas, marginalizadas (como são os pobres, economicamente; mas também algumas culturas, até agora consideradas subculturas, culturas menores, culturas marginais) estão adquirindo uma consciência clara não só dos seus direitos, iguais aos direitos de qualquer outro povo ou cultura, ou de qualquer outra pessoa humana; estão adquirindo consciência do seu protagonismo na história.
Os teólogos e sociólogos da libertação frequentemente nos falam da “lógica da maioria”. Poderíamos, deveríamos falar hoje sobre a crescente conscientização das maiorias e do protagonismo das maiorias. De uma maneira meio difusa, às vezes; de uma maneira mais consciente, outras vezes, percebe-se, sente-se na vida social a reivindicação pela igualdade entre os vários setores de cada país e entre os países ou nações entre si.
As estruturas (a própria ONU, o FMI, o Banco Mundial) ainda estão aí marginalizando, excluindo, e essa própria exclusão cria uma maior conscientização da iniquidade do sistema sócio-político-econômico que nos foi imposto, como exasperação, como “o máximo” do capitalismo transnacionalizado, que considera a sociedade humana apenas como um mercado, que proclama o direito exclusivo de uma minoria insignificante e justifica a exclusão da imensa maioria.
Ao contrário do que a própria Bíblia – palavra de Deus – diz a respeito do “restante de Israel” – símbolo sacramental de toda a humanidade, progressivamente liberado e salvo- o neoliberalismo proclama o direito e o futuro de uma minoria que exclui à grande maioria da humanidade.
O triunfo do neoliberalismo coincide -é causa e efeito, em parte- com a queda do socialismo real, com o recuo -ou pelo menos a transição- de certas revoluções sociais e políticas mais radicais.
O pragmatismo do neoliberalismo se sustenta feliz na destruição de muitas utopias. E esse pragmatismo, que tem a economia e a mídia em suas mãos, é facilmente justificado no posicionamento imaturo, cansado ou fatalista de muitos que pensam que as coisas são “desse jeito mesmo”.
A virada para a direita da economia é também, muitas vezes, a virada das Igrejas, das religiões. Aquele “isto é o máximo” proclamado pelo neoliberalismo, de um jeito conformista ou de um jeito fatalista, também acaba sendo muitas vezes “o máximo” da aceitação, do conformismo, do próprio povo.
Na Igreja, nas últimas décadas, sobretudo desde o pontificado de João Paulo II, estamos experimentando uma involução, um verdadeiro conservadorismo eclesial e eclesiástico.
Além disso, o Concílio Vaticano II foi uma verdadeira revolução eclesial e abriu o horizonte para muitas utopias, dentro e até fora da Igreja.
Há alguns anos, muitos estão tentando cortar as asas dessa utopia que o Concílio Vaticano II abriu.
Na América Latina, como em nenhuma outra região do mundo, o Conselho levantou o eco e a prática de Medellín até Puebla. Em nossa Igreja latino-americana, o Concílio foi encarnado, localizado em uma nova teologia própria, a teologia da libertação; em um ministério pastoral explícito de múltiplas pastorais que chamamos de “específicas” que significavam fundamentalmente a acolhida, o clamor das maiorias marginalizadas e dos vários setores dessa marginalização: indígenas, negros, camponeses, mulheres, menores, migrantes.
A utopia se fez a carne e o sangue da nossa igreja, e muito particularmente das bases majoritárias da nossa Igreja; especificamente nas próprias comunidades de base.
É curioso lembrar como estão obcecado em suavizar, perfilar, condicionar, a opção pelos pobres, acrescentando aquela “nem exclusiva, nem excludente”, enquanto esquecem que a economia, a política, a sociedade em suas estruturas e poderes, são cada vez mais exclusivas e excludentes.
Hoje, como nunca antes, a opção pelos pobres deve ser radical. Deveria estar ao serviço da maioria, incluindo – é claro, e com muita lucidez, e até as últimas conseqüências – a opção pelos pobres “outros”, a opção pelas culturas “empobrecidas” por estarem proibidas, marginalizadas ou mal consideradas.
Não é que tudo esteja escuro, nem aceitamos o pessimismo como horizonte. De uma maneira informal e difusa -como a economia informal ocorre na sociedade- na própria sociedade e na Igreja, muito especificamente, dentro do movimento popular, seja ele social ou eclesial, há uma conscientização, uma organização e uma praxis alternativa, que provêm dos pobres.
Da opção pelos pobres, então, ainda tem os pobres e ainda tem o Deus libertador dos pobres.
Dia Internacional da Mulher foi instituído por força das lutas de mulheres, a partir do século XVII, pela igualdade de direitos entre os gêneros e pelo reconhecimento de seus direitos. Não se trata de data festiva, mesmo porque nada havia a ser festejado. Nossas avós...
Decolonizar nossa teologia e espiritualidade? Desconstruir a visão eurocêntrica e abraçar com todas as consequências uma teologia não colonizada? Este é o convite deste texto.
A "Missa dos Quilombos" foi celebrada em 20 de novembro de 1981 na cidade de Recife (PE), para mais de 8 mil pessoas. É considerada uma expressão artística e religiosa que busca honrar a luta e a resistência do povo negro no Brasil. A Missa dos Quilombos combina...
Eunice Dias de Paula tem morado mais de 40 anos junto ao Povo Apyãwa na Prelazia de São Félix do Araguaia. Essa é a sua experiência junto a Pedro Casaldáliga
Relembre a vida e o legado inspirador de Pere Casaldàliga, um incansável defensor dos direitos humanos. Honre sua memória e faça uma visita virtual ao seu túmulo, onde seu espírito de justiça e solidariedade perduram.
Casaldáliga chegou à Amazônia brasileira em 30 de julho de 1968. Ele nunca mais voltou para a Catalunha. Este é um fragmento de seu testemunho escrito por ele mesmo e algumas das primeiras imagens que temos de sua chegada à região do Araguaia.
Esse é “o mais antigo jornal alternativo no Brasil ainda em circulação”
Como afirma o Bispo Casaldáliga, o Jornal Alvorada é “o mais antigo jornal alternativo no Brasil ainda em circulação”. Neste ano completa 50 anos, renovado, atualizado e com boa saúde. Sempre fiel a seus princípios comuncativos e de transformação.
17 de maio de 2020
A obra de Pedro Casaldáliga
No mês de janeiro nosso jornalzinho “ALVORADA” completou 50 anos.
Foi o primeiro ‘jornal’ do nosso Araguaia.
São 50 anos de registros de como andou nossa Prelazia, mas, sobretudo, de registros da vida e das lutas do povo desta região.
O primeiro número de “ALVORADA” – Folha da Prelazia de São Félix, assim se chamou, apareceu em janeiro de 1970. Uma folha única, mimeografada.
Procurava-se um nome para esta folha, quando chegou de Santa Terezinha, de voadeira, o Pe. Francisco Jentel. A voadeira tinha o nome de “Alvorada”.
Foi a inspiração para o nome deste primeiro veículo de comunicação que surgia na região.
Capa de última edição do Jornal Alvorada, 1º trimestre de 2020
A abertura do primeiro número identifica a região a ser abrangida pela publicação e seu objetivo. Assim dizia:
Nesta hora de desenvolvimento, a folha “Alvorada” visa ser:
– correio de amizade
-programa de renovação
– mensagem de Evangelho.
Uma “folha” de sol e sereno, nas alegrias de todos, nas comuns necessidades, para o trabalho de melhoramento a que nós estamos chamados”.
O restante do primeiro número apresentava o PROGRAMA PASTORAL com as normas e indicações para receber o Batismo, o Matrimônio e a Primeira Comunhão e anunciando a realização das Campanhas Missionárias.
O segundo número tem data – 29/3/70. “Páscoa”. Trouxe um pequeno editorial sobre a Páscoa e notícias as mais diversas como a ida do Pe. Pedro Casaldáliga a Goiânia para tratamento, a visita do Secretário de Educação do Município a São Félix, (São Félix era um distrito de Barra do Garças), a inauguração do Cine Samira, o anúncio de que Luciara teria motor de luz, alguns casamentos, o funcionamento do Ginásio Estadual do Araguaia, entre outros.
Trouxe também um pequeno comentário sobre o Batismo e começou a divulgar as partes principais da Encíclica de Paulo VI “Desenvolvimento dos Povos (Populorum Progressio)” que continuou nos seguintes números.
Uma voz que incomodava
Nos 50 anos de existência “ALVORADA” foi a voz, quase isolada, que denunciou a violência e as arbitrariedades das autoridades e do latifúndio em nossa região e que estimulou a união entre os trabalhadores.
“ALVORADA”, amado por muitos, odiado por outros, ganhou notoriedade nacional, quando um número forjado apareceu na tela da Globo, tentando incriminar o trabalho de nossa Igreja.
“ALVORADA” tem sido matéria de estudo para alguns que se interessam pela imprensa alternativa a serviço dos marginalizados.
Em seus 50 anos, ALVORADA continua sendo fiel aos seus objetivos, publicando notícias das comunidades, divulgando o Evangelho e a caminhada da Igreja no Brasil e no mundo.
Dia Internacional da Mulher foi instituído por força das lutas de mulheres, a partir do século XVII, pela igualdade de direitos entre os gêneros e pelo reconhecimento de seus direitos. Não se trata de data festiva, mesmo porque nada havia a ser festejado. Nossas avós...
Decolonizar nossa teologia e espiritualidade? Desconstruir a visão eurocêntrica e abraçar com todas as consequências uma teologia não colonizada? Este é o convite deste texto.
A "Missa dos Quilombos" foi celebrada em 20 de novembro de 1981 na cidade de Recife (PE), para mais de 8 mil pessoas. É considerada uma expressão artística e religiosa que busca honrar a luta e a resistência do povo negro no Brasil. A Missa dos Quilombos combina...
Eunice Dias de Paula tem morado mais de 40 anos junto ao Povo Apyãwa na Prelazia de São Félix do Araguaia. Essa é a sua experiência junto a Pedro Casaldáliga
Relembre a vida e o legado inspirador de Pere Casaldàliga, um incansável defensor dos direitos humanos. Honre sua memória e faça uma visita virtual ao seu túmulo, onde seu espírito de justiça e solidariedade perduram.
Casaldáliga chegou à Amazônia brasileira em 30 de julho de 1968. Ele nunca mais voltou para a Catalunha. Este é um fragmento de seu testemunho escrito por ele mesmo e algumas das primeiras imagens que temos de sua chegada à região do Araguaia.
Os comentários –cautelosos ou apocalípticos ou clarividentes- acerca da conjuntura, proliferam, nestes dias, nos meios de comunicação. Não vou repetir “o óbvio ululante”. O problema está em saber ler a conjuntura à luz dos sinais dos tempos, descobrindo causas, interesses, “efeitos colaterais”, jogos de vida ou morte para a família humana.
21 de janeiro de 2020
A obra de Pedro Casaldáliga
Nesta hora kairós de mundialização e de maturidade de consciência, que é simultaneamente uma hora nefasta de novas prepotências, de macroditaduras, de fundamentalismos e de radicalizações, se impõe para nós, como um dom e como uma conquista, o diálogo, interpessoal, intercultural, ecuménico e macroecuménico.
Um diálogo de pensamentos, de palavras e de corações.
Não a simples tolerância, que se parece demais com a guerra fria, mas a convivência cálida, a acolhida, a complementariedade.
Esses processos de mudança, que são sonho e missão, reclamam de todos nós, cristãos ou não, uma forte espiritualidade, uma mística de vida.
Cada qual a viverá segundo a respectiva fé, porém sem essa espiritualidade não se faz caminho.
Pensando nisso, e a raíz do retiro espiritual que celebramos todos os anos a equipe pastoral da Prelazia à beira do Araguaia, naquele morro acolhedor de Santa Terezinha, eu resumia assim essa espiritualidade, tão nova e tão antiga, como sendo espiritualidade de:
1. Contemplação confiada
Abrindo-se mais gratuitamente ao Deus Abbá, que é, por autodefinição suprema, misericórdia, amor.
Uma contemplação mais necessária do que nunca nestes tempos de eficiências imediatas e de visibilidades.
Confiada, digo, porque tenho a impressão de que volta – o quiçá nunca foi embora- a religião do medo, do castigo, da prosperidade ou do fracasso, segundo como a gente se haver com Deus. Falta-nos, pois, confiança filial, infância evangêlica, a descontraida liberdade dos pequenos do Reino.
2. Coerência testemunhante
Tem-se repetido até a saciedade que vivemos na civilização da imagem, que o mundo quer “ver”.
O testemunho foi sempre uma espécie de definição do ser cristão. “Vocês serão minhas testemunhas”, dizia Ele por toda recomendação, por todo testamento.
E esse testemunho, hoje mais do que nunca, quando tudo se vê e tudo se sabe, tem de ser coerente, sem fisuras, na vida pessoal e na gestão estrutural da Igreja (que poderá ser a Igreja Católica ou uma Igreja Evangélica, o Vaticano, uma diocese, uma congregação religiosa, uma comunidade).
Veracidade e transparência pede o mundo, tão submetido à mentira e à corrupção.
3. Convivência fraterno-sororal
A isso se reduz o mandamento novo. Este é o desafio maior e o mais cotidiano para as pessoas, para as comunidades, para os povos.
Conviver, não coexistir apenas; conviver carinhosamente em fraternura e sororidade; não apenas em tolerância mútua. Ajudar a tornar a vida agradável.
Ser “sal da terra” deve significar isso também.
4. Acolhida gratuita e serviçal
Capacidade de encontro e de diaconia. Não somente descer do burro e atender o caído quando por casualidade a gente o encontrar à beira do caminho, mas se fazer encontradiço.
Acolher ás vezes somente com uma palavra ou com um sorriso, porém acolher sempre, gratuitamente. Fazer de todos os ministérios e de todas as profissões aquele serviço desinteressado e generoso que nos propunha aquele Senhor que não veio a ser servido mas a servir.
É mais facil celebrar uma eucaristia ritual que exercer um lava-pés engajado.
5. Compromisso profético
Continua a ser a hora, e talvez mais do que nunca, de se comprometer proféticamente contra o deus neoliberal da morte e da exclusão e em favor do Deus do Reino da Vida e da Libertação.
É preciso sugar da fé toda a sua força política.
Fazer da profecia uma espécie de hábito conatural -fruto específico do batismo para os cristãos e cristãs-, de denúncia, de anúncio, de consolação.
A caridade socio-política é a caridade mais estrutural. Vai às causas, não somente aos efeitos. Cuida a Vida. Transforma a História. Faz Reino.
6. Esperança pascal
Depois da “morte de Deus” e da “morte da Humanidade”, nesta posmodernidade facilmente sem sentido, e já no “final da história”, parece que a esperança não tem muito a fazer. Hoje, mais do que nunca, se impõe a esperança!. Ela é a virtude dos “depois de”.
“Contra toda esperança” (produtivista, consumista, imediatista, pasiva), esperamos.
Devemos proclamar humildemente, porém sem complexos, nossa esperança pascal e escatológica. E devemos torná-la crível aquí e agora. Porque esperamos, agimos. O tempo e a história são o espaço sacramental da esperança.
Dia Internacional da Mulher foi instituído por força das lutas de mulheres, a partir do século XVII, pela igualdade de direitos entre os gêneros e pelo reconhecimento de seus direitos. Não se trata de data festiva, mesmo porque nada havia a ser festejado. Nossas avós...
Decolonizar nossa teologia e espiritualidade? Desconstruir a visão eurocêntrica e abraçar com todas as consequências uma teologia não colonizada? Este é o convite deste texto.
A "Missa dos Quilombos" foi celebrada em 20 de novembro de 1981 na cidade de Recife (PE), para mais de 8 mil pessoas. É considerada uma expressão artística e religiosa que busca honrar a luta e a resistência do povo negro no Brasil. A Missa dos Quilombos combina...
Eunice Dias de Paula tem morado mais de 40 anos junto ao Povo Apyãwa na Prelazia de São Félix do Araguaia. Essa é a sua experiência junto a Pedro Casaldáliga
Relembre a vida e o legado inspirador de Pere Casaldàliga, um incansável defensor dos direitos humanos. Honre sua memória e faça uma visita virtual ao seu túmulo, onde seu espírito de justiça e solidariedade perduram.
Casaldáliga chegou à Amazônia brasileira em 30 de julho de 1968. Ele nunca mais voltou para a Catalunha. Este é um fragmento de seu testemunho escrito por ele mesmo e algumas das primeiras imagens que temos de sua chegada à região do Araguaia.
Quando o jornal Alvorada foi lançado, em 1970, os veículos de comunicação no Brasil viviam sob forte censura imposta pelas autoridades militares.
A censura imposta à imprensa recaiu também sobre a Igreja. Sobre duas formas a Igreja progressista foi atingida: censura sobre a ação e pronunciamentos de bispos e religiosos e a censura nos veículos de comunicação das Dioceses espalhadas por todo o país.
Os setores progressistas da Igreja Católica, articulados com movimentos populares e de esquerda, declararam resistência aos governos militares, assumindo um importante papel político no Brasil.
É nesse contexto que, a recém criada Prelazia de São Félix do Araguaia, cria o primeiro meio de comunicação escrita da Amazônia, o jornal Alvorada. Hoje, 49 anos depois e con frequência bimensal, se imprimem e distribuem 2.000 exemplares.
O jornal é estimulado em um momento em que lideranças episcopais, estimuladas pelo CELAM, em Medellín, passaram a adotar práticas “libertadoras”. Dessa forma, o surgimento de rádios comunitárias, de revistas, circulares, etc se espalha pelas diversas dioceses e prelazias do País.
Quando foi lançado, o jornal Alvorada atuou como é o principal veículo de comunicação de uma área de aproximadamente 150 mil Km² no noroeste de Mato Grosso.
No “vale dos esquecidos”, como é chamada a região pelos próprios moradores, não havia telefone, televisão, rádio ou correio. Não havia nem mesmo energia elétrica.
ALVORADA na terra e na vida da gente. Sol quente e chuva brava sobre o Araguaia. O Araguaia traz tudo em seu banzeiro, basta saber olhar.
O verão seco de perseguição machucou, doeu e ensinou. Mas quem tem coragem e Esperança está de pé. ALVORADA vem dizer que a vida continua, ALVORADA é um momento de palestra para nós, que fazemos parte do Povo de Deus, que se arranhou neste serão, entre o Araguaia e o Xingu.
Jornal Alvorada, edição de janeiro de 1974
Até o final dos anos 1970, poucas pessoas estavam envolvidas no processo de produção do jornal, como redação das notícias e impressão. Na linha de frente sempre, a presença do bispo Dom Pedro Casaldáliga, irmã Irene, padre Falieiro (quem fazia as ilustrações do jornal) e um grupo de jovens agentes de pastoral, entre eles, Pontim e Moura.
Alvorada pra nós, pra muitas pessoas em São Felix é como se fosse a Bíblia, entendeu? A gente só tem certeza… Se sair uma notícia aqui no Mato Gosso […] na Globo […] a gente presta atenção, mas a gente só vai ter certeza mesmo, a gente só vai confiar quando sair no Alvorada. Então eu considero assim, pra mim e pra muitos, a gente lê o Alvorada como se fosse a Bíblia, entendeu? Assim, é uma coisa sagrada pra nós principalmente.
Lindaura Paiva
O Alvorada traz uma linguagem simples e se vale muito de fotos e ilustrações, principalmente do pintor Cerezo Barredo.
Todas as atividades da Prelazia têm, no Alvorada, um espaço importante para informação, divulgação e formação permanente, como a página de formação bíblica e saúde e educação, dois históricos problemas sociais da região. [Gonzaga, Agnaldo Divino]
Em uma região, ainda marcada pelas carências sociais e pelas distâncias que dificultam a comunicação, o Alvorada faz-se significativo. É também distribuído em várias regiões do Brasil e em outros países. [Gonzaga, Agnaldo Divino]
Recent Comments