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O dia 8 de março

O dia 8 de março

Dia Internacional da Mulher foi instituído por força das lutas de mulheres, a partir do século XVII, pela igualdade de direitos entre os gêneros e pelo reconhecimento de seus direitos. Não se trata de data festiva, mesmo porque nada havia a ser festejado.

Nossas avós e mães nos contaram; naqueles tempos, à mulher era negado o direito de ir à escola; aprender a ler e a escrever constituía-se em crime gravíssimo. Sabendo escrever e ler, passariam elas a escrever a eventuais e imagináveis namorados. Era o pensamento dominante.

O Dia Internacional das Mulheres é produto desse não contentar-se com os limites impostos; produto das transgressões. Algumas pagaram caro.

A escritora Ligia Fagundes Telles conta que quando decidiu cursar a faculdade de Direito, sua mãe a alertou: “mas logo faculdade de direito, filha, um lugar só de homens?! Você não vai casar; homem não gosta de mulher inteligente.”

Até mais da metade do século vinte, a mulher era considerada incapaz para os atos da vida civil portanto, tutelada pelo pai ou irmão e depois pelo marido; uma peça de adorno ou uma serva.

Mas foram muitas as que não se conformaram com a condição que lhes era imposta e ousaram pensar grande; alçaram vôo; transgrediram.

Hoje, no ocaso da primeira década do século XXI, no pós modernismo (alguns ousam afirmar que no pós historia), ainda há muito que conquistar; muito pelo que lutar.

O Dia Internacional das Mulheres é produto desse não contentar-se com os limites impostos; produto das transgressões. Algumas pagaram caro.

A origem do dia tem sido, com freqüência, atribuída à morte, em razão de incêndio, de mais de cem operárias têxteis, ocorrida em 1857, em Nova York, Estados Unidos.

Organizações feministas têm se dedicado à pesquisa e ao resgate das lutas da mulher no mundo inteiro, trazendo à luz o que foi, deliberadamente, acobertado, negado ou desvirtuado.

Hoje, no ocaso da primeira década do século XXI, no pós modernismo (alguns ousam afirmar que no pós historia), ainda há muito que conquistar; muito pelo que lutar.

É verdade que as mulheres freqüentam faculdades; são doutoras; executivas; mandatárias de cargos públicos eletivos; juízas; promotoras; escritoras e cientistas, premiadas com o Nobel.

Inobstante, os seus salários são menores que os dos homens, exercendo as mesmas funções, e o número de mulheres nos parlamentos e no Executivo, estaduais e federal, ainda é muito pequeno. Apenas em cargos municipais é que se constata uma presença maior, talvez pelo fato de que ela, para exercer o mandato, não tenha que se mudar do local. É que sobre a mulher pesa a responsabilidade dos filhos e da casa e isto é um tributo que tem sido cobrado apenas dela.

Um pouco de memória

Várias organizações feministas têm se dedicado à pesquisa e nos oferecem dados que ajudam a desenrolar o novelo da história das lutas e transgressões de mulheres que nos antecederam e possibilitaram chegarmos até aqui.

Muitos são os acontecimentos apontados como tendo sido o responsável pela instituição da data, mas diversas pesquisas têm apontado a Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, realizada em 1910, na cidade de Copenhague, na Dinamarca, durante uma Conferência, em que Clara Zetkin e várias outras militantes, apresentaram uma Resolução contendo proposta de instituição, oficial, de um Dia Internacional das mulheres, que apesar de não mencionar uma data precisa, apenas mencionava o exemplo das socialistas norte-americanas, como sendo o fato que, mais provavelmente, deu origem ao Dia.

Outras fontes revelam que no dia 03 de maio de 1908, em Chicago, Estados Unidos, comemorou-se o primeiro Dia da Mulher, em que participaram pelo menos 1 mil e 500 mulheres, que reivindicavam igualdade econômica e política, sendo que no aspecto político, defendiam o voto feminino, dentro e fora do partido, e denunciavam a exploração e a opressão a que eram submetidas as mulheres.

Em 1909, o Dia da Mulher foi uma atividade oficial do partido socialista americano que contou com a organização do Comitê Nacional de Mulheres, em defesa do voto feminino, no dia 28 de fevereiro de 1909.

Em 1910, o Dia da Mulher foi comemorado em 27 de fevereiro, participando das atividades pelo menos 3 mil mulheres, que reivindicavam o direito ao voto.

No mês de agosto daquele ano, durante a Conferência de Mulheres socialistas, militantes socialistas propõem, e é aprovada, a instituição do Dia Internacional da Mulher a ser organizado em todos os países, sem, contudo, especificar data, sendo a reivindicação central o direito ao voto.

As alemãs comemoraram o Dia Internacional da Mulher no dia 19 de março de 1911. As suecas o comemoraram no dia 1º de maio também de 1911.

Em 1913, na Rússia czarista, realizou-se a Primeira Jornada Internacional das Trabalhadoras pelo voto feminino, havendo forte repressão em Petrogrado. Em 1914 não foi possível a organização de atividades, já que as principais organizadoras do Dia Internacional das Mulheres estavam presas.

Neste mesmo ano, na Alemanha, o Dia foi dedicado à luta pelo direito ao voto para as mulheres e comemorado, talvez pela primeira vez, no dia 8 de março, sem um motivo especial, mas porque teria sido a data mais viável naquele ano.

Em fevereiro de 1917, na Rússia, as manifestações das mulheres eram contra a guerra, a fome e a escassez de alimentos; tudo em meio a uma greve das operárias do setor têxtil. Tudo aconteceu no 23 de fevereiro (no calendário ortodoxo, 8 de março); era a comemoração do Dia Internacional das Mulheres na Rússia. Tais manifestações, que duraram dias, segundo pesquisadores, deram início à Revolução Russa.

A pesquisadora Renée Côté faz referência a documentos de 1921, Conferência Internacional das Mulheres Comunistas, em que uma “camarada” búlgara propõe o 8 de Março como data oficial para o Dia Internacional das Mulheres, lembrando a iniciativa das mulheres russas, o que, a partir de 1922, passou a ser a data oficial em todo o mundo.

Somente em 1975 é que a ONU – Organização das Nações Unidas – integrou a data ao seu calendário.

O real sentido do 8 de março

Luta. Este, o verdadeiro sentido do Dia Internacional da Mulher. Em memória de todas as que nos antecederam, por nós mesmas, devemos manter o Dia Internacional da Mulher (8 de março) como um dia, principalmente, de luta; em respeito a elas devemos manter acesa a “tocha” e entregá-la, com a mesma integridade, com a mesma dignidade às gerações futuras.

 

Maria José Souza Moraes. Publicado no jornal da Prelazia de São Félix do Araguaia, o Alvorada, em março-abril de 2010.

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