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Deixa a curia Pedro

Deixa a curia Pedro

Deixa a curia Pedro

«Enquanto a instituição-Igreja não se espelhar nesse pobre de Nazaré andará sempre às voltas com escândalos derivados do poder que ela assumiu como eixo estruturador de toda sua organização. Vale recordar a frase do católico Lord Ancton, professor de história em Cambridge ao comentar o poder absoluto dos Papas renascentistas: “Todo poder corrompe e o absoluto poder corrompe absolutamente.”»

Leonardo Boff, 2013

17 de dezembro de 2019

Pedro Casaldáliga

(Tradução do original, em espanhol)

DEIXA A CÚRIA, PEDRO!

Deixa a Cúria, Pedro,
Desmonta o sinédrio e as muralhas,
Ordene que todos os pergaminhos impecáveis sejam substituídos
pelas palavras de vida e amor.

Vamos ao jardim das plantações de banana,
revestidos e de noite, a qualquer risco,
que ali o Mestre sua o sangue dos Pobres.

A túnica/roupa é essa humilde carne desfigurada,
tantos gritos de crianças sem resposta,
e memória bordada dos mortos anônimos.

Legião de mercenários assediam a fronteira da aurora nascente
e César os abençoa a partir da sua arrogância.
Na bacia arrumada, Pilatos se lava, legalista e covarde.

O povo é apenas um “resto”,
um resto de esperança.
Não O deixe só entre os guardas e príncipes.
É hora de suar com a Sua agonia,
É hora de beber o cálice dos pobres
e erguer a Cruz, nua de certezas,
e quebrar a construção – lei e selo – do túmulo romano,
e amanhecer
a Páscoa.

Diga-lhes, diga-nos a todos
que segue em vigor inabalável,
a gruta de Belém,
as bem-aventuranças
e o julgamento do amor em alimento.

Não te conturbes mais!

Como você O ama,
ame a nós,
simplesmente,
de igual a igual, irmão.

Dá-nos, com seus sorrisos, suas novas lágrimas,
o peixe da alegria,
o pão da palavra,
as rosas das brasas…
… a clareza do horizonte livre,
o mar da Galileia,
ecumenicamente, aberto para o mundo.

A cristologia poêtica de Pedro Casaldáliga

Texto do trabalho de Michael P. Moore, para a Faculdade de Teologia, Universidade de Salvador San Miguel, Argentina.

Profeticamente crítico da hierarquia da igreja, da qual ele faz parte!, em outro poema ousado, dedicado a João Paulo II, intitulado “Deixa a Cúria, Pedro”, Casaldáliga convida ao Papa, a seus sucessores …, a toda a Igreja, a se descentralizar, a se desinstalar, para marchar até um novo Getsêmani.

Deixa a Cúria, Pedro,
Desmonta o sinédrio e as muralhas,
Ordene que todos os pergaminhos impecáveis sejam substituídos
pelas palavras de vida e amor.

Vamos ao jardim das plantações de banana,
revestidos de noite, a qualquer risco,
que ali o Mestre sua o sangue dos Pobres.

Vale notar que as palavras “Mestre” e “Pobre” – o nome de Deus feito homem e o nome dos oprimidos, ambos sem confusão, mas sem separação – são escritas em maiúscula. E quase como um apelo exorta os pastores a manterem viva a utopia de Jesus de Nazaré e seu Reino de cores precisas.

Diga-lhes, diga-nos a todos
que segue em vigor inabalável,
a gruta de Belém,
as bem-aventuranças
e o julgamento do amor em alimento.

Além disso, Casaldáliga pede à Igreja que não seja cúmplice dos imperialismos que oprimem os mais pobres, em um ambiente móvel dos palácios de Pilatos e Caifás em nosso continente empobrecido.

Legião de mercenários assediam a fronteira da aurora nascente
e César os abençoa a partir da sua arrogância.
Na bacia arrumada, Pilatos se lava, legalista e covarde.

O povo é apenas um “resto”,
um resto de esperança.
Não O deixe só entre os guardas e príncipes.
É hora de suar com a Sua agonia,
É hora de beber o cálice dos Pobres

Cumplicidade eclesial que lembra dolorosamente a vida e a morte de Dom Romero:

¡Pobre pastor glorioso,
abandonado
por teus proprios irmãos de báculo e de Mesa…!
(As curias não podiam te entender:
nenhuma sinagoga bem estruturada pode entender o Cristo)

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No centro-oeste do Brasil, entre as bacias dos rios Xingu e Araguaia, mais de 100 famílias de agricultores vivem e preservam a Amazônia. No meio desta riqueza que vem sendo usurpada pelo agronegócio, há experiências de plantio capazes de produzir alimentos e gerar renda cuidando deste entorno natural de todos/as. Conheça!

20 de novembro de 2019

Liebe Lima

A região Xingu Araguaia é parte da Amazônia legal, estado de Mato Grosso, divisor de águas entre as bacias dos rios que lhes dão o nome.

Está na transição entre a floresta e o Cerrado e, além destes biomas, tem varjões alagados com vegetações únicas no mundo, como os murundus que ficam qualhados de muricis depois que as águas secam. Tem Cerrado baixo, onde ficam os nascedouros das águas e dos peixes e tem Cerrado alto que vai se misturando com a mata.

Essa imensa riqueza se traduz na palavra diversidade e, nisso, o Brasil é o país mais rico do mundo.

Vista aèrea de São Félix do Araguaia. A região se encontra na área de transição do Cerrado e da Amazônia, o que lhe confere características particulares.

250 famílias produzindo junto à floresta

É nessa diversidade que, anualmente, em torno de 250 pessoas de assentamentos rurais, urbanos e indígenas do Povo Karajá, trabalham coletando um variado cardápio de frutas nativas na natureza, como também, enriquecendo os quintais onde plantam outras variedades de espécies que entregam para a ANSA –  Associação de Educação e Assistência Social Nossa Senhora da Assunção, quem organiza e passa recolhendo a produção nos assentamentos, beneficia as frutas e mantém a agroindústria “Araguaia Polpa de frutas”, em São Felix do Araguaia, MT, realizando a mobilização das comunidades no que tange a esta cadeia de valor da sociobiodiversidade.

O objetivo é ser uma alternativa de geração de renda que mantenha o Cerrado e a floresta em pé.

Sociobiodiversidade se escreve junto

Sociobiodiversidade é uma palavra que se escreve junto: comunidades e diversidade, significando o papel das pessoas na preservação dos ecossistemas, estabelecendo uma relação de reciprocidade entre Ser Humano e Natureza, em que ambos coexistem na reprodução da vida.

Já as “cadeias de valor da sociobiodiversidade” são atividades de produção realizadas a partir do manejo, extração e beneficiamento de produtos da natureza, respeitando seus ciclos e capacidade de se reabastecerem e continuarem existindo, produzindo e gerando renda.

Em essência, são práticas que se colocam como alternativas aos modelos de produção extensivos que, para existir, extinguem a diversidade com a derrubada de grandes áreas de floresta e cerrado, somado ao uso abusivo de agrotóxicos que contamina a terra e a água.

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O desafio de plantar em áreas deforestadas

Os plantios de sistemas agroflorestais que consorciam espécies frutíferas e florestais é parte de sustentação importante na cadeia das frutas.

Na região Xingu Araguaia esses plantios são chamados de “casadão” e foram implantados inicialmente com o apoio da Comissão Pastoral da Terra – CPT, em várias parcelas de moradores do Assentamento Dom Pedro que aderiram a ideia de quebrar o paradigma de derrubar para produzir e passaram a plantar para produzir.

Utilizando este sistema -que é na verdade um “jeito” completo de viver a agroecologia, foram feitos pequenos projetos que ofertaram mudas de espécies frutíferas, telas para cercar e proteger nascentes e as mais variadas espécies de sementes para compor o sistema.

O viveiro é parte dessa engrenagem de onde saem muitas das mudas que vão ser usadas nos plantios de casadão e também é o destino que recebe as sementes e demais materiais orgânicos descartados no processo de produção da fábrica de polpas. Tudo se aproveita, o lixo orgânico vai para a compostagem e as sementes se transformam anualmente nas mais de 6.000 mudas de 20 espécies diferentes que retornam para a terra de onde vieram. Assim os ciclos de plantios, frutificação, coleta e beneficiamento das frutas vão se nutrindo pelas muitas mãos de agricultores, indígenas e colaboradores da ANSA que se dedicam a fazê-los prosperar.

Aliando preservação e renda no dia-a-dia

Genésio Alves começou o trabalho com as frutas junto com a iniciativa que deu origem à fábrica de polpas. Já se passaram quase 20 anos e ele conta que “gosta muito é de estar no meio dos agricultores, cada dia tem um aprendizado novo, uma história interessante”. Desde o ano 2000 que a ANSA começa a estruturar a fábrica com o objetivo de criar mais um elo da cadeia, comprando a produção das famílias que aderiram aos plantios de casadão e também daquelas que coletam na natureza, produzindo e comercializando as polpas de frutas e outros produtos, a exemplo dos picolés com sabores do cerrado.

Setembro já é época da safra de caju e as distâncias percorridas para recolher as frutas nas mãos dos produtores chegam até a 170 Quilômetros em estradas com pouca manutenção que dão acesso aos assentamentos e municípios próximos a São Félix do Araguaia. Cada viagem traz até 400 Kg de uma coleta que chega a 15 mil kg ao ano só de caju. O período de estio é a época de maior produção de frutas na região, logo as cagaitas, mangabas, pequi, buriti, manga e murici carregam e é um intenso trabalho para beneficiar em tempo uma matéria prima bastante perecível e delicada.

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Feito desde o Araguaia e desde Barcelona!

Para Maria Aparecida, uma das colaboradoras da ANSA que cuida do beneficiamento das frutas na linha de produção, a fortaleza está em ser baseado no trabalho da Agricultura Familiar, em motivar as pessoas a plantarem cada vez mais, possibilitando a oferta de um alimento natural e produzido com as frutas boas da região. Quando se chega ao produto final, muitas conversas e encontros foram feitos para difundir uma cultura de valorização das atividades produtivas que sejam mais amigáveis à natureza, ampliando na população a consciência sobre a importância da preservação de recursos hídricos e florestais.

As cadeias do leite e da mandioca continuam sendo os carros chefes na geração de renda nos assentamentos onde a ANSA desenvolve suas atividades na região, no entanto, os plantios e manejo do casadão vem crescendo e produzindo tanto as frutas como sementes florestais que são coletadas e entregues para a ARSX – Associação Rede de Sementes do Xingu, sendo, portanto, uma fonte de diversificação de alimentos bons na mesa que promove a segurança alimentar para as famílias. Estas cadeias de produção alternativas e os excedentes é que incrementam a renda através da venda direta dos produtos da Agricultura Familiar nas feiras livres do entorno.

Estes são os resultados obtidos e os desafios que vem pela frente

Até outubro de 2019 foram 395 hectares de áreas restauradas com base na técnica de plantio do casadão em 369 áreas diferentes de assentamentos rurais e uma renda de mais de R$500.000,00 que chegaram para camponeses e indígenas como pagamento de 670 toneladas de frutas desde o ano de 2003 até 2018. A fábrica de polpa de frutas é uma instalação de 300 M² de área construída, totalmente equipada e operando com o credenciamento do Ministério da Agricultura, tendo a diante os desafios que as distâncias e a má qualidade das estradas impõem à expansão da comercialização.

O que você pode fazer para preservar a Amazônia

Na balança de pesos e medidas do que se fez até aqui trabalhando com as pessoas e comunidades, muito do que conquistamos está no espaço simbólico do que se planta e colhe para além do chão, mas principalmente, na caminhada que se caminha junto, semeando relações no campo da solidariedade para consolidar grupos que se vejam unidos para os enfrentamentos cotidianos que são os mesmos para quem vive e deseja continuar vivendo da terra, seja ela aqui ou aculá, seja indígena, camponês ou quilombola. Pois na linha da história, ambos estão entre os que foram oprimidos pela estrutura social que oferece muito a poucos e muito pouco para muitos.

No Brasil somos uma sociedade com distribuição de renda entre os mais desiguais do mundo, a sociedade onde 5% da população detém a mesma riqueza que os outros 95% restantes.

Então…É preciso seguir juntos!

Produzindo e consumindo frutas e comidas boas da Agricultura Familiar, valorizando os produtos regionais e cadeias produtivas que mantém a floresta em pé podemos ajudar a construir um mundo melhor.

Cada um de nós podemos dar nossa contribuição!

Publicado originalmente na página da Articulação Xingu Araguaia (AXA)

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