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Quem sou eu? qual é a minha história?

Quem sou eu? qual é a minha história?

Quem sou eu? qual é a minha história?

Estamos vivendo um tempo de disputas políticas, violências e egoísmos. Um tempo destruição ambiental. Muitos falsos profetas mentem para tentar nos incluir no seu grupo eleitoral ou nos seus negócios. Um tempo que exige atenção! e pensamento! Mas, com tanto discurso e tanta mentira, como saber? como saber?.

As três perguntas primeiras

Tente responder estas três perguntas

1. Quem sou eu?

2. Qual é a minha história?

3. Que valor tem essa terra?

e veja,

Quem sou eu?

1. Se eu não sou apenas eu e me preocupo pela juventude, pelos velhos, pelas mulheres pelo povo. Se eu não só apenas eu e sou também comunidade porque é com ela que vivoe é com ela que quero estar feliz. Se eu não sou apenas eu e prefiro chegar junto com outros a uma meta, em vez de sozinho, ainda que juntos caminhemos mais devagar. Se eu não sou apenas eu porque cuidar dos outros é tão importante como cuidar de mim e busco união e não divisão. Então, eu eu não sou apenas eu, eu sou nós.

2. Qual é a minha història?

Se a minha história, não é só minha, é de tantos que chegaram antes de mim e tantos que estavam aqui antes de mim: migrantes que buscavam um chão fugindo da miséria e exploração; populações que vendo sua terra invadida deram a vida para defender e preservar seu território. Se minha história é uma história de trabalho e luta compartilhada.
Então, a minha história não é apenas minha, é nossa.

3. Que valor tem esta terra?

Se o valor desta terra vai além do dinheiro, porque o cheiro da terra úmida, os pulos dos bichos e as gargalhadas das aguas limpas me tiram a solidão e me trazem alegrias gratuitas.

Se o valor desta terra não é só mercado, porque os sons de suas matas e de suas aguas e seus profundos silêncios, às vezes, valem mais do que qualquer coisa que eu possa ganhar ou trocar.

Se o valor desta terra não é só produção sem limite porque sinto o pulsar dos frutos sem veneno, o cheiro do ar limpo e transparente nas madrugadas, a satisfação ao ver as roças saudáveis, a vida da floresta em pé.

Então, não há dúvida, EU SOU NÓS e NÓS SOMOS TERRA.

Lola Campos, Operação Amazônia Nativa. 2018.

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Pedro Casaldáliga do Araguaia e do Llobregat

Pedro Casaldáliga do Araguaia e do Llobregat

Pedro Casaldáliga do Araguaia e do Llobregat

A terra onde só se nasce e morre

“A primeira semana de nossa estadia em São
Felix morreram quatro crianças e passaram por casa em
caixas de papelão, como sapatos, a caminho do
cemitério no rio. Nesse mesmo lugar, mais tarde, teríamos
que enterrar outras crianças e 
outros muitos adultos, muitas vezes sem sequer uma caixa e nem mesmo um nome “.

Creio na Justíça e na Esperança. Pedro Casaldáliga, 1975

Sete dias de caminhão desde São Paulo. Era o mês de julho de 1968 e os missionários Pedro Casaldáliga e Manuel Luzón chegaram às terras de São Félix do Araguaia, na Amazônia, 1.200 km ao norte de Brasília. Uma área do tamanho de todo o Portugal, “de rios e campos e floresta, ao noroeste do Mato Grosso, dentro da chamada Amazônia” legal “, entre os rios Araguaia e Xingu”, era sua “missão” e acabaria sendo também a sua terra.

A região do Araguaia pertence politicamente ao estado brasileiro de Mato Grosso, uma área duas vezes o tamanho da Espanha, mas com 3 milhões de habitantes: um “deserto” verde, no coração do Brasil, onde a floresta amazônica começa e termina um dos biomas mais importantes do mundo (embora bastante desconhecido), chamado Cerrado.

“A primeira coisa que chamou minha atenção foram as distâncias. Geográficas, sociológicas e espirituais. Foi como pousar em outro mundo. Havia proprietários de até um milhão de hectares de terra. Capitalismo feroz financiado pelos militares. Era a terra de ninguém, onde nascer e morrer era fácil e onde era difícil viver. Mas também era uma terra de sonhos lucrativos para os ricos.”

Esta é a primeira imagem que temos da chegada de Pedro Casaldáliga e Manuel Luzón no Araguaia. Era agosto de 1968 e o Pedro estava com 40 anos.

Se posicionar ao lado dos pobres

Em face da violência, pobreza e escravidão, era necessário decidir: ou era ao lado dos meus pobres, com todas as consequências, ou a visão era pesada e os ricos eram favorecidos. Como explica Francesc Escribano: “Lá, as posições “mornas” não são apenas inúteis, mas também impossíveis. É por isso que Casaldáliga teve que agir. Ele fez opção inequivoca e radicalmente em favor dos pobres e dos oprimidos “.

Esta posição, no entanto, não foi fácil: significava declarar a guerra, abertamente, aos latifundiários e aos militares. A ditadura não demorou para colocar a Prelazia de São Félix do Araguaia na mira da repressão.

“Era hora de escolha, uma opção rasgada que era contra o meu próprio temperamento, contra o desejo natural de estar bem com todos, contra a formação da gentileza “evangélica” recebida… um rasgão que continua a se sentir na vida”.

A radicalidade de Casaldáliga, no entanto, não deve ser confundida com “excesso”. O Pedro tem absoluta clareza de ideias, é verdade; possui um compromisso inabalável, também; mas acima de tudo, Pedro é uma inteligência privilegiada que o levou a ser capaz de se opor aos poderosos protegendo os mais fracos. Pedro Casaldáliga é, acima de tudo, sabedoria.

Um bispo sem “enfeites”

Desde o primeiro dia, Casaldáliga foi um bispo diferente. Ele decidiu não usar mitra, nem báculo, nem anel. O anel episcopal que ele carrega é o que os índios Tapirapé deram. Ele sempre disse que não quer nenhum luxo ou conforto que não possa encontrar nas casas de seus vizinhos. A casa do bispo de São Félix, sempre está aberta a todos. Não teve TV nem geladeira até cumprir os 70 anos.

L’habitació de Pere Casaldàliga no ha tingut mai porta.

O bispo Pedro é uma pessoa “normal”. Com um senso de humor brilhante. Como escreveu Paco Escribano no mesmo artigo no Diário Ara: “Se eu tivesse que enfatizar uma característica da sua personalidade, poderia dizer a coerência, a radicalidade, a espiritualidade … mas a verdade é que o que mais me surpreendeu foi o seu senso de humor.”

Casaldáliga é capaz de ver além, de sentir coisas que os outros não sentem. A sua presença nos faz sentir uma profunda onda de renovação interior. Mas, ao mesmo tempo, o bispo lava a louça do almoço, coloca as roupas sujas pra lavar ou varre o quintal com toda a naturalidade. A humildade de Casaldáliga é vivida com toda tranquilidade. O luxo, ou mesmo o conforto, não fazem parte da sua vida. Pronto. A pobreza é e tem sido o seu modo normal de viver.

Pedro muda o mundo

Achamos que não é exagerado dizer que o mundo não é o mesmo depois da vida, obra e trabalho de Pedro Casaldáliga. Ele chegou em uma região esquecida, onde “não conseguimos encontrar nenhuma infraestrutura administrativa, nenhuma organização de trabalho, nenhum controle. A lei era a lei do mais forte. O dinheiro e o 38 eram impostos” e, 50 anos depois, encontramos um povo vivo que luta; movimentos sociais que ajudam e denunciam os que mais sofrem e, sobretudo, uma sociedade mais consciente dos desafios que a Humanidade tem pela frente.

Se hoje podemos falar em meio ambiente, em desigualdades, em povos indígenas ou em direitos trabalhistas é, em grande parte, graças ao trabalho e à visão de Casaldáliga.

É verdade que no Araguaia ainda sofremos as conseqüências de lidar com os poderosos. É verdade que a pobreza e a fome ainda fazem parte do cotidiano desta região. Nós não podemos dizer que a guerra ganhou.

Mas Pedro Casaldáliga foi fundamental para que hoje, especialmente na América Latina, encontremos sindicatos, pastorais sociais, ONGs, movimentos associativos e até uma Igreja diferente. Essa é a esperança que Pedro semeou e que cresce “apesar dos pesares neoliberais e eclesiásticos”, como ele diz.

Como está hoje o bispo Pedro Casaldáliga

Dom Pedro continua morando em São Félix do Araguaia. Ele nunca voltou para a Catalunha, nem quando a mãe dele faleceu. Ele vive há alguns anos com o Parquison e, agora, aos 91 anos, “ele não se expressa profusamente com palavras e escritos, que sempre foram muito marcantes. E isso certamente é um grande sofrimento. Mas Pedro se comunica de outras maneiras, com gestos, olhares, apertões fortes em nossas mãos, e nos dá a bênção com os gestos de suas mãos. As pessoas sabem que ele está lá, é o Pedro, e que ele nos reconhece “, explicou Maria Júlia Gomes Andrade à revista Brasil de Fato.

As mais de 500 pessoas que são atendidas anualmente pela associação que ele fundou no Araguaia ainda precisam de muito apoio, mas o caminho está mais claro porque a luz dele está conosco!

O Pedro continua a ser inspiração, força e compromisso. Do Araguaia, trabalhamos com a organização que ele fundou em 1974. Apoiamos os trabalhadores sem terra, os camponeses que querem plantar, as mulheres vulneráveis e os povos indígenas que ainda enfrentam muitos desafios.

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Como está o Bispo Pedro Casaldáliga

Como está o Bispo Pedro Casaldáliga

Como está o Bispo Pedro Casaldáliga

“Para descansar
eu quero só
esta cruz de pau
como chuva e sol
estes sete palmos
e a Ressurreição!”

(Poema “Cemitério do Sertão”, de Dom Pedro Casaldáliga)

A maldita escravidão

Há cerca de 20 anos Dom Pedro Casaldáliga celebrou uma missa no dia de finados num dos cemitérios de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso. Ao final, ele disse na presença do povo e agentes pastorais: “Quero que vocês todos escutem muito bem, porque vou falar algo muito sério: é aqui que eu quero ser enterrado”. O “aqui” era o que o povo da região chama de “Cemitério Karajá”, onde foram enterrados muitos indígenas, e outros tantos trabalhadores que vinham de muitas partes e eram explorados nas fazendas de gado. O lugar onde foi enterrada a gente mais humilde daquela terra. O cemitério dos mais pobres.

Das coisas que mais chocaram Dom Pedro quando ele chegou nessa região do Mato Grosso em 1968, era a situação dos “peões”, trabalhadores assalariados que migravam de vários estados na ilusão da vida que iria melhorar no trabalho nas grandes fazendas. Muito era prometido por quem os recrutava, e já durante a viagem e depois no próprio trabalho muitas dívidas eram sendo atribuídas… A maldição da escravidão por dívida. E fugas eram duramente reprimidas, com a tradição de cortar as orelhas dos trabalhadores que buscavam escapar daquele martírio.

Os camponeses e Pedro Casaldáliga

A situação dos pequenos posseiros e dos vários povos indígenas da região não era muito diferente, nessa terra das maiores concentrações fundiárias durante a ditadura militar. Na Carta Pastoral de 1971, “Uma Igreja da Amazônia em Conflito com o Latifúndio e a Marginalização Social”, Pedro faz uma forte denúncia de todas essas situações, de uma região tão desigual, posicionando a Igreja – a recém-criada Prelazia de São Félix do Araguaia – do lado dos mais pobres.

“Nós – bispo, padres, irmãs, leigos engajados – estamos aqui, entre o Araguaia e o Xingu, neste mundo, real e concreto, marginalizado e acusador, que acabo de apresentar sumariamente. Ou possibilitamos a encarnação salvadora de Cristo neste meio, ao qual fomos enviados, ou negamos nossa Fé, nos envergonhamos do Evangelho e traímos os direitos e a esperança agônica de um povo de gente que é também povo de Deus: os sertanejos, os posseiros, os peões; este pedaço brasileiro da Amazônia. Porque estamos aqui, aqui devemos comprometer-nos. Claramente. Até o fim. (Somente há uma prova sincera, definitiva, do amor, segundo a palavra e o exemplo do Cristo). Não queremos bancar os heróis, os originais. Nem pretendemos dar lição a ninguém. Pedimos só a compreensão comprometida dos que compartilham conosco uma mesma Esperança.” Carta Pastoral 1971.

Pedro Casaldáliga

O latifúndio continúa no coração

O latifúndio continuava presente no coração das preocupações do Pedro, 34 anos depois de sua chegada ao Brasil. Pedro teve sempre essa reflexão profunda de entender que as mudanças estruturais não aconteceriam só por uma vitória mais à esquerda nas eleições. As maiores mudanças precisariam vir da consciência e organização do povo. E vida pastoral para o Pedro passava fortemente por contribuir na organização do povo na sua luta por direitos, nessa região do Mato Grosso que escolheu viver. Mas toda essa história de muita profundidade de reflexões e ação política foi tratada por apoiadores do presidente eleito em São Félix do Araguaia e região, como um “bispo petista” nessas eleições presidenciais despolitizadas e manipuladas de 2018. Um bispo petista que ainda precisa ser combatido.

Como está o Bispo Casaldáliga

E o bispo Pedro, como é chamado na cidade, continua aqui. O forte avanço do “Irmão Parkison” com quem ele convive há cerca de 20 anos deixa fortes marcas. Os 90 anos (quase 91!) também. Não mais se expressa com profusão de palavras e escritos, que sempre foram muito marcantes. E isso certamente é um grande sofrimento. Mas Pedro se comunica de outras formas, com gestos, olhares, apertos fortes nas nossas mãos, e nos dá a benção com os gestos das mãos dele. A gente sabe que ele está ali, que é o Pedro, e que ele nos reconhece. E trata bem cada um que chega na casa, seja gente do povo da cidade que vai vê-lo, seja algum indígena Karajá (Iny), seja alguma visita que vem de longe.

E a casa dele continua também sendo um refúgio para os Karajá de passada por São Félix, vindos de alguma das várias aldeias que existem na Ilha do Bananal, do outro lado do Rio Araguaia. Sabem que ali vão ter um copo de água fresca, vão ter um lugar para descansar das andanças pela cidade. E sabem que sempre será dado um prato de comida na hora do almoço. Estive cinco dias em São Félix e, em todos os dias, passaram por ali algum Iny, a maioria da aldeia Santa Izabel, a que fica mais pertinho da cidade. No penúltimo um jovem Iny estava passando mal e se dirigiu para lá. Parecia sentir muita dor, e disse que havia vomitado sangue. Conseguimos falar com a responsável pelo distrito de saúde indígena regional, que mandou um carro para buscá-lo. Aquele jovem indígena sabia que teria um refúgio naquela casa, com o “povo do bispo Pedro”.

A epígrafe

Na epígrafe está apenas a primeira parte do poema “Cemitério do Sertão”. Mas Pedro continua: “Mas para viver, eu já quero ter, a parte que me cabe, no latifúndio seu, que a terra não é sua, seu doutor Ninguém. Mas para viver, terra e liberdade, eu preciso ter”. A luta do Pedro e sua Igreja comprometida sempre foi pela justiça e pela vida.

Pedro é luta. Pedro é inspiração. Pedro é exemplo. E a doença e a velhice de Pedro não devem ser entendidas apenas como um sofrimento. Deve nos provocar uma “profunda reflexão do significado de 90 anos de vida dedicados à resistência contra o capital e a defesa dos pobres”, palavras da professora e lutadora mineira Maria José Silva. E que possamos, todos e todas nós, nos inspirar em Dom Pedro Casaldáliga para os tempos difíceis que nosso país atravessa e atravessará. Que a esperança ativa e indignada nos guie!

 

Este texto é dedicado ao padre Félix Valenzuela e à Telma Araújo, pessoas muito amigas, há muito tempo, do Pedro.

Maria Júlia Gomes Andrade é antropóloga e coordenadora do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM).

Texto publicado originalmente no portal Brasil de Fato. Pedro Casaldáliga do Araguaia.

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Ameaças de morte ao Bispo Casaldáliga

Ameaças de morte ao Bispo Casaldáliga

Ameaças de morte ao Bispo Casaldáliga

Nas décadas de 70 e 80, a Amazônia estava sendo distribuída entre os amigos da ditadura. A lei, era a lei do mais forte. Se opor ao latifúndio era arriscar a vida. Esta é a historia da cidade ganhada na enxada e na tentativa de assassinato.

14 de junho de 2019

A vida de Pedro Casaldáliga

Casaldáliga sorriu, alegre; mas também ficava em silêncio

O Pedro sempre sentiu intensamente a pequena cidade de Serra Nova.

O conflito de mais de 40 anos com a Fazenda Bordom esteve sempre presente. Sempre na lembrança. Inclusive depois que o Pedro não pode ir mais visitar a comunidade de lá, o seu pensamento sempre está com as famílias da Bordom.

Depois de terem tentado assassinar ele e da violência que os latifundiários da Bordom impuseram ao povo do Araguaia, a sua desapropriação total em 2009 se traduziu em uma alegria imensa para o Pedro.

Celebramos o momento na casa dele, com um almoço simples, mas muito emocionante, em lembrança de tanto sofrimento e cheio de esperança. O Pedro sorria, alegre, mas também calava; como quem sente profundamente a dor passada pelo povo.

Terra para pocos, com os recursos de todos

A partir do golpe militar de 1964 é dada nova orientação com relação à ocupação das terras na Amazônia: «O Governo Federal, através de incentivos fiscais e crédito facilitado, privilegia a instalação de amplos latifúndios cujos proprietários são, na maioria das vezes, empresários do Centro-Sul.»

A enorme área de Amazônia começava a ser distribuída entre os amigos dos militares.

Para garantir e proporcionar a infraestrutura básica que as atividades dos latifundiários necessitavam, o poder público criou órgãos específicos para apoiar tais atividades: «o Banco da Amazônia S/A (BASA), a Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (SUDECO), e a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM)».

O eixo desta nova política de ocupação da Amazônia girou entorno, portanto, à concessão de generosos incentivos fiscais e de crédito barato para as empresas interessadas em investir na Amazônia. Par isso, apolítica de incentivos fiscais é uma das causas fundamentais da expansão das grandes empresas agropecuárias à custa e em detrimento da agricultura familiar.

O resultado: a especulação

O resultado dessa política foi a intensa especulação de terras, desencadeada com força na década de 1960, e o incentivo ao desenvolvimento agrícola e pecuário, sem qualquer tipo de cuidado ambiental, o que gerou um quadro de expressiva degradação ambiental.

Ao mesmo tempo, a ausência de direitos trabalhistas, previdenciários, etc condenavam muitos dos trabalhadores dessas fazendas a viver na ilegalidade e na precariedade mais absoluta: no Mato Grosso, ainda hoje, ter carteira assinada e um salário digno é luxo!

A Empresa Bordon ameaçou com me matar e também ao Moura, e incendiaram a cidade. Fomos esperados de emboscada, na mata, pelo capataz da plantação, Benedito Boca-Quente. A “boca quente” era a do seu revólver. Eles colocaram um preço na minha vida: mil cruzeiros, um revólver 38 e um bilhete de saída da região.

Pedro Casaldáliga

Tentativa de assassinato ao Bispo Casaldáliga

Em 1972, a fazenda Bordón cercou a cidade de Serra Nova e começou a expulsar os posseiros e queimar seus quartéis, usando pistoleiros que intimidavam a cidade. Pedro foi para a Serra Nova para dar apoio aos agricultores. Enquanto estava lá, decidiu ir ao quartel-general da fazenda conversar com o gerente.

Benedito Boca Quente, funcionário da fazenda e com a reputação de homem valente, sabendo que o bispo iria para a sede, contratou um pistoleiro para matá-lo. Ele deu-lhe um revólver e dinheiro para a fuga. Pedro foi com Lulu, líder dos posseiros que depois seria preso pelos militares. O pistoleiro se escondera na floresta e espreitava seus passos. Passaram perto dele, mas o pistoleiro não disparou. O gerente da fazenda parecia pálido quando Pedro chegou.

O atirador, antes de fugir, foi e contou à equipe pastoral o que havia acontecido com ele. Quando ele estava escondido, ele começou a lembrar que, quando criança, sua mãe lhe disse que quem matou um padre estava indo para o inferno. Ele, sabendo que ia matar um bispo, ficou com medo e desistiu do “serviço”.

A esperança supera o medo

Em 1973, a Equipe Pastoral da Prelazia escrevia:

“Serra Nova está situada nas costaneiras da Serra do Roncador, a aproximadamente 150 Km de São Félix. (…) De dezembro a abril só se chega a Serra Nova de téco-téco ou a cavalo. Sua população atual é de 180-200 famílias, num total aproximado de 1.400 pessoas. Todos camponeses, vivendo da terra da qual retiram o arroz de cada dia. Como em toda a região, não há luz elétrica e nem água encanada. O maior problema de Serra Nova atualmente é a falta de terra de lavoura disponíveis para toda a população”.

A Empresa Bordom efetivamente, reivindicava as terras onde moravam as famílias de Serra Nova como próprias e o conflitou começou. Para os moradores do local, perder as terras era perder a vida.

Como explica Liebe Lima, da Articulação Araguaia Xingu en què participa a ANSA, “em maio de 1973 era tempo de preparar o solo para esperar a chegada das chuvas em setembro e lançar as sementes na terra. Veio a necessidade de combater a fome e a comunidade tomou a decisão de enfrentar as cercas da fazenda BORDON correndo o risco de serem presos e expulsos, pois a lei não estava com eles. Fizeram um abaixo assinado e enviaram para o INCRA informando sua decisão e denunciando as ameaças que sofriam. Não houve o que lhes fizessem arredar o pé dali, nem mesmo a prisão de um camponês sob a lei de segurança nacional por 30 dias em Barra do Garças”.

A correlação de forças era muito desigual, mas a determinação de permanecer na terra foi maior que o medo de ficar e enfrentar.

A luta, porém, teve seu fruto e em 2009: “A Procuradoria Federal Especializada (PFE) junto ao Incra garantiu a declaração de improdutividade da fazenda Bordolândia, no Mato Grosso. O imóvel, de mais de 50 mil hectares, fica nos municípios de Bom Jesus do Araguaia e Serra Nova Dourada, nordeste do estado. Agora, não há mais empecilhos jurídicos que ameacem o desfecho da desapropriação da área, que vai assentar cerca de 700 famílias de trabalhadores rurais”.

A Bordom, finalmente, é do povo!

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Porque este site: Catalunha e Brasil

Porque este site: Catalunha e Brasil

Porque este site: Catalunha e Brasil

Desde a Associação Araguaia com o Bispo Casaldáliga estamos vivendo com preocupação a atual situação política no Brasil.

A extrema direita governa o país desde o mês de janeiro e o discurso de ódio para os grupos minoritários; em favor da posse e uso de armas; contra a liberdade dos povos indígenas; negacionistas das mudanças climáticas evidentes e contra a dignidade das mulheres, estão começando a tomar forma em políticas que promovem a pobreza, a exclusão, o racismo e a falta de liberdade.

Vendo que o avanço da extrema direita e, em geral, da “política do ódio” não é apenas um problema brasileiro, mas afeta a todos nós de perto, desde a Associação Araguaia com o Bispo Casaldáliga pensamos que é necessário dar um passo adiante no compromisso de defender as “causas do Bispo Pedro” que temos assumido desde a nossa fundação em 1989.

Multiplicar a esperança

Por estes motivos, este ano, queremos fortalecer os laços com a associação que o Bispo Pedro fundou no Brasil, a Associação ANSA, de São Félix do Araguaia, com o objetivo de apoiar os projetos e atividades que realizam, dia a dia, concretamente, em favor das pessoas mais vulneráveis ​​da região do Araguaia e na luta pela democracia, a justiça, a solidariedade e a esperança.

Para dar este passo, no entanto, precisamos do seu apoio e da sua participação, seja divulgando os canais, participando neles ou se tornando sócio. 

Você escolhe!

Novos canais de comunicação

Entre todos/as temos lançado dois novos canais de comunicação, para que você possa saber em primeira mão qual é a situação no Brasil, quais são os problemas da Amazônia, como tem sido e é o trabalho do bispo Casaldáliga todo este tempo, etc … queremos fazer de lá, sem intermediários ou grandes ONGs: da Catalunha ao Araguaia.

Além disso, neste novo site vamos informá-lo sobre tudo o que estamos fazendo aqui na Espanha e no Brasil. Vamos fazer “entre Llobregat e Araguaia”.

Por agora você pode nos seguir no Twitter com o usuário: @CasaldaligaANSA

e Facebook na página Casaldàliga-ANSA que acabamos de lançar.

Vamos responder ao medo com união!

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