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Os 6 princípios da mística de Casaldáliga

Os 6 princípios da mística de Casaldáliga

Os 6 princípios da mística de Casaldáliga

Os comentários –cautelosos ou apocalípticos ou clarividentes- acerca da conjuntura, proliferam, nestes dias, nos meios de comunicação. Não vou repetir “o óbvio ululante”. O problema está em saber ler a conjuntura à luz dos sinais dos tempos, descobrindo causas, interesses, “efeitos colaterais”, jogos de vida ou morte para a família humana.

21 de janeiro de 2020

A obra de Pedro Casaldáliga

Nesta hora kairós de mundialização e de maturidade de consciência, que é simultaneamente uma hora nefasta de novas prepotências, de macroditaduras, de fundamentalismos e de radicalizações, se impõe para nós, como um dom e como uma conquista, o diálogo, interpessoal, intercultural, ecuménico e macroecuménico.

Um diálogo de pensamentos, de palavras e de corações.

Não a simples tolerância, que se parece demais com a guerra fria, mas a convivência cálida, a acolhida, a complementariedade.

Esses processos de mudança, que são sonho e missão, reclamam de todos nós, cristãos ou não, uma forte espiritualidade, uma mística de vida.

Cada qual a viverá segundo a respectiva fé, porém sem essa espiritualidade não se faz caminho.

Pensando nisso, e a raíz do retiro espiritual que celebramos todos os anos a equipe pastoral da Prelazia à beira do Araguaia, naquele morro acolhedor de Santa Terezinha, eu resumia assim essa espiritualidade, tão nova e tão antiga, como sendo espiritualidade de:

1. Contemplação confiada

Abrindo-se mais gratuitamente ao Deus Abbá, que é, por autodefinição suprema, misericórdia, amor.

Uma contemplação mais necessária do que nunca nestes tempos de eficiências imediatas e de visibilidades.

Confiada, digo, porque tenho a impressão de que volta – o quiçá nunca foi embora- a religião do medo, do castigo, da prosperidade ou do fracasso, segundo como a gente se haver com Deus. Falta-nos, pois, confiança filial, infância evangêlica, a descontraida liberdade dos pequenos do Reino.

2. Coerência testemunhante

Tem-se repetido até a saciedade que vivemos na civilização da imagem, que o mundo quer “ver”.

O testemunho foi sempre uma espécie de definição do ser cristão. “Vocês serão minhas testemunhas”, dizia Ele por toda recomendação, por todo testamento.

E esse testemunho, hoje mais do que nunca, quando tudo se vê e tudo se sabe, tem de ser coerente, sem fisuras, na vida pessoal e na gestão estrutural da Igreja (que poderá ser a Igreja Católica ou uma Igreja Evangélica, o Vaticano, uma diocese, uma congregação religiosa, uma comunidade).

Veracidade e transparência pede o mundo, tão submetido à mentira e à corrupção.

3. Convivência fraterno-sororal

A isso se reduz o mandamento novo. Este é o desafio maior e o mais cotidiano para as pessoas, para as comunidades, para os povos.

Conviver, não coexistir apenas; conviver carinhosamente em fraternura e sororidade; não apenas em tolerância mútua. Ajudar a tornar a vida agradável.

Ser “sal da terra” deve significar isso também.

4. Acolhida gratuita e serviçal

Capacidade de encontro e de diaconia. Não somente descer do burro e atender o caído quando por casualidade a gente o encontrar à beira do caminho, mas se fazer encontradiço.

Acolher ás vezes somente com uma palavra ou com um sorriso, porém acolher sempre, gratuitamente. Fazer de todos os ministérios e de todas as profissões aquele serviço desinteressado e generoso que nos propunha aquele Senhor que não veio a ser servido mas a servir.

É mais facil celebrar uma eucaristia ritual que exercer um lava-pés engajado.

5. Compromisso profético

Continua a ser a hora, e talvez mais do que nunca, de se comprometer proféticamente contra o deus neoliberal da morte e da exclusão e em favor do Deus do Reino da Vida e da Libertação.

É preciso sugar da fé toda a sua força política.

Fazer da profecia uma espécie de hábito conatural -fruto específico do batismo para os cristãos e cristãs-, de denúncia, de anúncio, de consolação.

A caridade socio-política é a caridade mais estrutural. Vai às causas, não somente aos efeitos. Cuida a Vida. Transforma a História. Faz Reino.

6. Esperança pascal

Depois da “morte de Deus” e da “morte da Humanidade”, nesta posmodernidade facilmente sem sentido, e já no “final da história”, parece que a esperança não tem muito a fazer. Hoje, mais do que nunca, se impõe a esperança!. Ela é a virtude dos “depois de”.

“Contra toda esperança” (produtivista, consumista, imediatista, pasiva), esperamos.

Devemos proclamar humildemente, porém sem complexos, nossa esperança pascal e escatológica. E devemos torná-la crível aquí e agora. Porque esperamos, agimos. O tempo e a história são o espaço sacramental da esperança.

Pedro Casaldáliga, Carta Cirular de 2002.

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“Em vez de olhar com nostalgia para um passado cristão que não existe mais, devemos ir adiante para evangelizar o mundo secularizado, agnóstico e pós-moderno de hoje”. O que podemos fazer? Como o cristianismo pode contribuir hoje? Esta é a reflexão do jesuíta Victor Codina.

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Em 30 de julho de 1968, Pedro Casaldáliga e Manuel Luzón chegaram em São Félix do Araguaia, na Amazônia. O próprio Casaldáliga explicava esse momento em uma entrevista de 2007.

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Aos 11 anos, Damião Paridzané foi levado de sua casa em um avião da FAB, junto a toda sua família e parentes.

Deportado da terra onde nasceu, Damião logo ficou sozinho, sem família: seu pai e seu irmão faleceram por causa de uma infeção de sarampo na remoção e a mãe dele foi levada para outra comunidade.

Em 2012 porém, após muitos anos de lutas, Damião, já com 60 anos, conseguiu pisar novamente seu chão e levar o seu povo com ele.

10 de janeiro de 2020

As causas de Pedro Casaldáliga

Em 1966, aviões da Força Aérea Brasileira deportaram os 264 indígenas Xavante que moravam na Terra Indígena Marãiwatsédé: em seu território ancestral estava sendo instalada a maior fazenda da América Latina.

Levados a mais de 400Km de sua casa natal, os indígenas foram recepcionados por uma epidemia de sarampo que matou mais de 100 pessoas.

«Longe de sua casa e com sua estrutura social fragilizada ocorreu a fragmentação do grupo por várias Terras Indígenas Xavante. Mas, os remanescentes de Marãiwatséde “sempre reivindicaram o retorno à sua região, empreendendo viagens anuais […] para visitar as aldeias e cemitérios antigos, além de recolher materiais nativos” que não encontravam nas outras Terras Indígenas onde estavam abrigados.», explica o indigenista Marcos Ramires.

A luta dos Xavante para retornar ao seu território continuou ao longo de décadas até que em 2012, após mais de 50 anos enfrentando os interesses de políticos e empresários, conseguiram recuperar as suas terras ancestrais.

Ano de 1966, quando eu tinha 11 anos de idade, houve um sobrevoo de um
avião da Força Aérea Brasileira (FAB) em Marãiwatsédé. (…) Esse avião posou na nossa aldeia e nos levou para a aldeia de São Marcos. O governo aproveitou que nós não falávamos português e chegou de surpresa para tirar nossa terra. Quando fomos levados pelo avião, deixamos nossos pertences na pista. Todos subiram no avião chorando. Deixamos nossas esteiras e baquetés, deixamos tudo!

Cacique Damião Paridzané

Depoimento a Pedro Casaldáliga

A orígem do conflito no Araguaia

Escreve Antônio Canuto em seu recente livro que «há pouco mais de 20 anos, quando começou a circular a notícia de que os Xavante voltariam à sua terra, na fazenda Suiá-Missú, muitos da região torciam o nariz e afirmavam que isso era conversa fiada, que nunca viram Xavante por aí.»

A realidade, porém, é que há registros dos Xavante no Araguaia desde a década de 1950, quando se produzeram diversos contatos entre eles e os retirantes não-índios que, aos poucos, iam chegando na região.

Os não-índios começaram a chegar ao Araguaia na década de 1950 e, aos poucos, se produziram os primeiros contatos -alguns violentos, com os povos indígenas. Fonte: Acervo FUNAI

De fato, a região do Araguaia começou a ser ocupada pelos não-índios no inicio do século XX, em uma migração espontânea de famílias que vinham do nordeste do Brasil à procura de um pedaço de terra para viver.

Fruto desse movimento, nasceu o povoado de São Félix do Araguaia -e muitos outros à beira do Rio. De lá, algumas famílias partiram «para o “sertão”, ou seja, para o interior do território até então ocupado apenas pelos Xavante», explica Marcos Ramires.

No entanto, antes de 1960, os encontros com os Xavante aconteceram de forma pontual, na imensidão da mata que ocupava a região, e há relatos tanto de encontros pacíficos quanto violentos.

Porém, como afirma Canuto, «a morte dos sertanejos, missionários e indigenistas sempre foi noticiada com estardalhaço para expor o caráter selvagem e violento dos indígenas. O que a eles aconteceu se torna totalmente invisível». 

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Feito desde o Araguaia e desde Barcelona!

O detonante: a maior fazenda da América Latina

A Lei 4.216 de 1963, que extendia à Amazônia os beneficios fiscais previstos para o Nordeste,  inaugurou uma agressiva política de incentivos fiscais às empresas que fossem se instalar na Amazônia. A ideia era clara: «Dentro de um discurso nacionalista, os militares pregam a unificação do país. Além disso, era preciso proteger a floresta contra a “internacionalização”. Em 1966, o presidente Castelo Branco fala em “Integrar para não Entregar”», explica a BBC.

Em alguns casos, esses beneficios permitiam que o governo militar assumisse até 100% da totalidade dos projetos propostos, atraíndo dessa forma a instalação de grandes fazendas.

No Araguaia, destacaram-se a Codeara -protagonista de conflitos violentos ao norde da região, com 600.000 ha., e a Suiá-Missú, que chegaria a ter 1,5 milhões de hectares.

Paralelamente, muitos grupos industriais e financeiros, nacionais e estrangeiros, «passaram a abrir fazendas no nordeste do Mato Grosso, norte de Goiás e sul do Pará: Anderson Clayton, Goodyear, Nestlé, Mitsubishi, Liquifarm, Bordon, Swift Armour, Camargo Correa, Bradesco, Mappin, Eletrobrás, etc. Além de grandes fazendeiros tradicionais do sul que juntaram seu espírito empresarial aos cofres do Estado.», explicavam Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Müller, em 2008.

A fazenda Suiá-Missú foi instalada na Terra Indígena Marãiwatsédé, a 1.200Km ao norte de Brasília, na Amazônia Legal. Fonte: Agência Pública

No contexto dessa política de ocupação da Amazônia, o empresário paulistano Ariosto da Riva comprou do Estado do Mato Grosso a área onde moravam os Xavante. Mais tarde, se associou à família Ometto e instalaram na região a Agropecuária Suiá-Missu.

A fazenda foi criada em pleno território de Marãiwatsédé e contou, para sua “abertura” com o uso da mão-de-obra dos indígenas. O empreendimento tinha inicialmente mais de 800.000 hectares e foi considerado por alguns o maior latifúndio da América Latina.

[…] E os brancos começaram a se aproximar para roubar a terra. Então, cada vez mais, eles chegavam. A nossa tradição era dividir aldeia, porque o espaço era grande. Já estava perto de abare’u fazer a cerimônia, mas quando os brancos já estavam próximos o nosso uuu não tinha feito a cerimônia. Daí começou a encurralada atrás da terra. Eles eram espertos.

Tserewa'wa

Depoimento ao MPF

Mas, como explicam Armando Wilson Tafner Junior e Fábio Carlos da Silva, «conforme o rebanho ia aumentando, crescia a necessidade de formação de novos pastos o que levou ao aumento da área desmatada e eclosão de conflitos. Ariosto da Riva, que se associou inicialmente aos Ometto, logo desistiu da sociedade e vendeu sua parte nas terras para o Grupo Ometto devido a conflitos com posseiros e índios.

Esses conflitos passaram a incomodar o Grupo Ometto. Ariosto procurou novas terras desocupadas, mais ao Norte do Mato Grosso, onde hoje está localizado o município de Alta Floresta.

O Grupo Ometto fez o mesmo, vendeu suas terras a empresa Liquifarm Brasil S/A, depois de entrar em litígio com os índios Xavantes quando foram iniciar as obras para estabelecer o núcleo que levava o nome da tribo».

Segundo explica Pedro Casaldáliga em sua Carta Pastoral de 1971, a Fazenda Suiá-Missu possuía cerca de 695 mil hectares na década de 70, «extensão que superava a do próprio Distrito Federal. Tal acontecimento demonstra a capacidade econômica do grupo que controlava o empreendimento», explica o Ministério Público Federal.

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A terra é dos Xavante

Durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente de 1992, celebrada no Rio de Janeiro, os Xavante pressionaram as autoridades nacionais e internacionais e o presidente da Agip, Gabriele Cagliari, -que cometeria suicido pouco depois em uma prisão da Itália, acusado de corrupção, se comprometeu publicamente a devolver a área dos Xavante.

Porém, como relatava o jornal italiano La Repubblica em 1993: «o sonho dos xavante, expulsos de suas terras em 1966, permaneceu um sonho. Os 168 mil hectares da fazenda Suia Missu, no Mato Grosso, um ano depois, ainda são de propriedade da Agip Petroli».

O litigio com os Xavante ainda permaneceu sob a inação do governo brasileiro por mais de 5 anos, até que a Terra Indígena Marãiwatsédé foi homologada pelo presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, em 1998.

O cacique Damião Paridzané, que sempre lutou pelos direitos de seu povo, continua afirmando que os brancos podem lhes oferecer — como carros, bois ou combustível — logo acaba. Mas a terra que ele poderá deixar para seus descendentes, não perde seu valor e não se acaba em pouco tempo. Fonte: ANSA e OPAN ; Foto: Luis Mena

A demora do Governo Brasileiro para homologar a área e os interesses de fazendeiros e políticos da região provocou a invasão massiva da terra dos Xavante.

A luta dos indígenas era bem conhecida na região, mas os 6 anos que se passaram desde a promessa de devolução da área indígena (na ECO-92) até o reconhecimento oficial da mesma em 1998, possibilitou a invasão da área por não-índios.

Nesse impasse, políticos e empresários, com a cumplicidade de advogados e até de registradores promoveram uma fraudulenta “reforma agrária particular” com a intenção de ocupar a área e dificultar a volta dos Xavante.

Deixa esse povo que está aqui querendo trabalhar, viver dessa terra, porque o índio vem pra cá, ele não vai produzir nada. Se os índios trabalhassem, produzissem, tudo bem, a gente ia respeitar o direito deles também, só que eles vão atrapalhar nossa região.

Filemon Limoeiro

Ex-Prefeito de São Félix do Araguaia, em 20 de junho de 1992

De fato, já em 1992, após a empresa italiana anunciar que iria devolver a área aos Xavante, políticos locais, empresários e advogados incentivaram a população a invadir o território Xavante.

Bom exemplo disso são as consignas ouvidas em uma reunião na área em disputa, transmitida ao vivo pela Rádio Mundial FM no dia 20 de junho e cujo áudio completo disponibilizamos a seguir:

Essa tentativa de dividir uma área que era dos Xavante, porém, se deu na lógica dos incentivadores: «A divisão da área, não se deu de forma equitativa. Enquanto grandes latifúndios eram formados nas terras tidas como de “boa qualidade”, por figuras “importantes” da região, as matas e o Cerrado, localizados em regiões cuja terra era considerada ruim, foram loteadas e entregues aos pequenos posseiros que ainda teriam que derrubar a vegetação para poder plantar e criar seus animais», explica Marcos Ramires.

O território dos Xavante foi ocupado e a sua vegetação destruída. Na fotografia, feita por nós, pode ser ver claramente o grau de destruição de uma área que era floresta. Foto: Liebe Lima / AXA.

Para completar, após tantos anos de invasão e de implantação de fazendas -grandes, médias e pequenas, dedicadas sobretudo à criação de gado, Marãiwatsédé -que significa “mata alta” na lingua Xavante, tinha perdido 80% de sua vegetação original.

De fato, essa tendência tem continuado até os dias de hoje, pois as invasões tem continuado. Resultado disso, até 2017, tinham sido desmatados 105.062 hectares da Terra Indígena.

Mas nossa floresta não está em pé, não tem floresta. Só encontramos pasto para todos os lados, sem floresta, e estamos vivendo aqui agora.

Estevão Tsimitsuté

Depoimento ao MPF

A volta dos Xavante

Em 2003, os anciãos de Marãiwatsédé expressaram o desejo de voltar à terra de seus ancestrais antes de morrerem.

Os jovens guerreiros sentiram-se na obrigação de propiciar-lhes esse retorno. Por isso, nesse mesmo ano, 280 pessoas se deslocaram até as portas da sua terra, crianças, jovens, adultos e velhos Xavante queriam voltar a viver em casa.

Porém, ao tentarem entrar na área -que tinha sido reconhecida legalmente fazia 5 anos, os Xavante foram impedidos pelos invasores, que bloquearam a BR-158 com a ajuda dos políticos e fazendeiros da região.

Quando os Xavante tentaram voltar a sua terra ancestral, os invasores interditaram as estradas e, com a ajuda de empresários e políticos com interesses na área, impediram a entrada dos indígenas. Foto: Arquivo FUNAI

Sem poder entrar em sua própria terra, foram forçados a ficar acampados embaixo de lonas pretas, às portas de sua casa ancestral por mais de 8 meses.

Ao longo desse tempo, sem assistência e sem recursos, faleceram 3 crianças e outras 14 tiveram que ser internadas.

Nessa situação, o TRF1 autorizou finalmente a volta dos Xavante e julgou por unanimidade que os ocupantes não indígenas agiram de má-fé e não têm direito à indenização.

No entanto, «a decisão teve recurso e em setembro, o vice-presidente do TRF1, Daniel Dias, voltou a suspender o processo por força de recursos interpostos pelos fazendeiros, representados pelo advogado Luiz Alfredo Feresin de Abreu, irmão da senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)», explica a agência Repórter Brasil.

Na região, todos nós sabíamos que o conflito poderia ser iminente e que a situação criada entre uns e outros dificilmente poderia acabar bem.

Mas, finalmente, nos últimos meses de 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) ordenou a remoção dos invasores e a entrada efetiva do Povo Xavante na Terra Indígena Marãiwatsédé.

No dia 7 de novembro de 2012 começaram a entregar no local as notificações que pedian a saída dos invasores.

Finalmente, após quarenta e seis anos de exilio, os Xavante tiveram definitivamente reconhecido o direito ao usufruto de seu território.

Marãiwatsédé hã
Tôtsena ti’a na watsiri’ãmo Wahõiba duré
Höiba-téb’ré hã, Ãhawimbã Date itsanidza’ra hã
Ahãta te Oto aimatsa’ti’ a na Ítémé we’re’iwadzõ
mori hã adza Oto ãma wawa’utudza’rani
Ti’a’a’a’ana… Ai’uté hã ãma ipótódza’ra hã
Tedza Oto ãma tsitébrè ti’a’a’a’ana.

A Terra Marãiwatsédé está em nossos
corações e em nossas almas
Ainda pequenos nos retiraram deste lugar
Mas hoje reconquistamos nossa terra,
nosso lar Agora de volta vou descansar nesta terra,
nesta terra, nesta terra…
Aquí eu nasci e nesta terra vão se criar nossas crianças

Marcio Tserehité Tsererãi’ré

A saída dos invasores, porém, não seu de forma pacífica e foi necessária a intervenção da Força Nacional para poder retirar as pessoas que permaneciam na área. Houve enfrentamentos organizados com a policia e atos vandálicos para destruir (ainda mais) a terra dos indígenas.

Fruto desses meses de tensão que vivemos no Araguaia, o Bispo Pedro Casaldáliga teve que abandonar a sua casa, aos 84 anos, pelas ameaças de morte recebidas e com o objetivo de facilitar, na medida do possível, a devolução da terra aos Xavante.

Nesse território, os ancestrais, nossos bisavós viviam em cima da terra. Esse território é origem do povo de Marãiwatsédé, nessa terra amada foi criado o povo de Marãiwatsédé. Agora a desintrusão já começou, os anciões esperam muito tempo para tirar os não índios da terra, sofreram muito. A vida inteira sofrendo, esperando tirar os fazendeiros grandes.

Damião Paradizané

Primeiro Cacique de Marãiwatsédé

A situação dos Xavante hoje

Mais de 1.000 Xavante moram hoje na Terra Indígena Marãiwatsédé.

No entanto, os A‘uwê Uptabi (“gente verdadeira”), como eles se autodenominam, retornaram a uma terra que tem sido destruída; bem diferente daquela que conheceram 50 anos atrás.

Marãiwatsédé, que foi o lar farto dos Xavante por séculos, enfrenta hoje o desafio vital da escasez de alimentos, da falta de água, dos solos degradados por causa do desmatamento e, ainda, as invasões pontuais e os incêndios criminosos que, ainda hoje, se registram na área.

Retornar a uma terra que foi desmatada, queimada e invadida por mais de 50 anos é o desafio que enfretam os jovens Xavante de Marãiwatsédé. Foto: Liebe Lima / AXA.

Apesar dessas dificuldades, os Xavante estão conseguindo se apropriar de seu território ancestral e construir novas aldeias, como é seu costume.

Aos poucos, entre todos/as, estamos ajudando a recuperar ambientalmente a sua terra (mas sabemos que é um processo de décadas) e, com ela, recuperando os rituais Xavante e re-construíndo seu modo de viver e ser.

O caminho é longo e vai ser muito difícil. As ameaças não faltam.

Mas, o Povo Xavante de Marãiwatsédé não tem medo. Para eles, a esperança sempre vence!

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«Enquanto a instituição-Igreja não se espelhar nesse pobre de Nazaré andará sempre às voltas com escândalos derivados do poder que ela assumiu como eixo estruturador de toda sua organização. Vale recordar a frase do católico Lord Ancton, professor de história em Cambridge ao comentar o poder absoluto dos Papas renascentistas: “Todo poder corrompe e o absoluto poder corrompe absolutamente.”»

Leonardo Boff, 2013

17 de dezembro de 2019

Pedro Casaldáliga

(Tradução do original, em espanhol)

DEIXA A CÚRIA, PEDRO!

Deixa a Cúria, Pedro,
Desmonta o sinédrio e as muralhas,
Ordene que todos os pergaminhos impecáveis sejam substituídos
pelas palavras de vida e amor.

Vamos ao jardim das plantações de banana,
revestidos e de noite, a qualquer risco,
que ali o Mestre sua o sangue dos Pobres.

A túnica/roupa é essa humilde carne desfigurada,
tantos gritos de crianças sem resposta,
e memória bordada dos mortos anônimos.

Legião de mercenários assediam a fronteira da aurora nascente
e César os abençoa a partir da sua arrogância.
Na bacia arrumada, Pilatos se lava, legalista e covarde.

O povo é apenas um “resto”,
um resto de esperança.
Não O deixe só entre os guardas e príncipes.
É hora de suar com a Sua agonia,
É hora de beber o cálice dos pobres
e erguer a Cruz, nua de certezas,
e quebrar a construção – lei e selo – do túmulo romano,
e amanhecer
a Páscoa.

Diga-lhes, diga-nos a todos
que segue em vigor inabalável,
a gruta de Belém,
as bem-aventuranças
e o julgamento do amor em alimento.

Não te conturbes mais!

Como você O ama,
ame a nós,
simplesmente,
de igual a igual, irmão.

Dá-nos, com seus sorrisos, suas novas lágrimas,
o peixe da alegria,
o pão da palavra,
as rosas das brasas…
… a clareza do horizonte livre,
o mar da Galileia,
ecumenicamente, aberto para o mundo.

A cristologia poêtica de Pedro Casaldáliga

Texto do trabalho de Michael P. Moore, para a Faculdade de Teologia, Universidade de Salvador San Miguel, Argentina.

Profeticamente crítico da hierarquia da igreja, da qual ele faz parte!, em outro poema ousado, dedicado a João Paulo II, intitulado “Deixa a Cúria, Pedro”, Casaldáliga convida ao Papa, a seus sucessores …, a toda a Igreja, a se descentralizar, a se desinstalar, para marchar até um novo Getsêmani.

Deixa a Cúria, Pedro,
Desmonta o sinédrio e as muralhas,
Ordene que todos os pergaminhos impecáveis sejam substituídos
pelas palavras de vida e amor.

Vamos ao jardim das plantações de banana,
revestidos de noite, a qualquer risco,
que ali o Mestre sua o sangue dos Pobres.

Vale notar que as palavras “Mestre” e “Pobre” – o nome de Deus feito homem e o nome dos oprimidos, ambos sem confusão, mas sem separação – são escritas em maiúscula. E quase como um apelo exorta os pastores a manterem viva a utopia de Jesus de Nazaré e seu Reino de cores precisas.

Diga-lhes, diga-nos a todos
que segue em vigor inabalável,
a gruta de Belém,
as bem-aventuranças
e o julgamento do amor em alimento.

Além disso, Casaldáliga pede à Igreja que não seja cúmplice dos imperialismos que oprimem os mais pobres, em um ambiente móvel dos palácios de Pilatos e Caifás em nosso continente empobrecido.

Legião de mercenários assediam a fronteira da aurora nascente
e César os abençoa a partir da sua arrogância.
Na bacia arrumada, Pilatos se lava, legalista e covarde.

O povo é apenas um “resto”,
um resto de esperança.
Não O deixe só entre os guardas e príncipes.
É hora de suar com a Sua agonia,
É hora de beber o cálice dos Pobres

Cumplicidade eclesial que lembra dolorosamente a vida e a morte de Dom Romero:

¡Pobre pastor glorioso,
abandonado
por teus proprios irmãos de báculo e de Mesa…!
(As curias não podiam te entender:
nenhuma sinagoga bem estruturada pode entender o Cristo)

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Ofereceu uma chicara de café aos militares enquanto revistavam a escola à procura de elementos “subversivos”; levou para imprimir clandestinamente o primeiro documento episcopal de Casaldáliga… em um avião do exército! Além disso, é responsável de que o Arquivo da Prelazia de São Félix do Araguaia tenha mais de 300 mil documentos e seja uma referência na história do Brasil e da América Latina.

12 de novembro de 2019

A vida de Pedro Casaldáliga

Viveu na casa de Pedro Casaldáliga. Ocupou um pequeno quarto com vista para a área interior, onde acontence uma boa parte da vida da casa do bispo. Ao lado de sua pequena, mas resistente cama de madeira, típica da maioria das casas da Prelazia, havia um piano protegido da poeira do Araguaia por um pano marrom escuro.

De tempos em tempos, as notas daquele velho piano espalhavam-se pela casa e a elevavam -ainda mais alto- em uma aura de paz divina emanando da terra e do compromisso radical de Pedro e Irene.

Desafiando os poderes estabelecidose  arriscando sua vida todos os dias, o compromisso de Casaldáliga atraiu um grande número de religiosos e leigos que queriam mudar as coisas no Brasil.

A Irene Franceschini, a tia Irene, foi uma dessas pessoas. Era uma religiosa, da ordem das Irmãs de São José. Chegou a São Félix quando a situação era mais tensa e difícil, deixou tudo para trás e entregou-se de corpo e alma a um povo e uma terra que definitivamente se tornaram seu povo e sua terra.

Francesc Escribano

El Periódico de Catalunha, 2008

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Feito desde o Araguaia e desde Barcelona!

¿Quem foi?

Irene Maria Paula Franceschini, nascida em São Paulo em 1919, foi filha de um músico ítalo-brasileiro que chegou ocupar a 28ª cadeira da Academia Brasileira de Música. Neta do Conde José Vicente de Azevedo. Tão frágil e delicada, quanto obstinada e perseverante. Pianista, professora de música e religiosa da Congregação das Irmãs de São José de Chambéry.

Depois de passar a metade da vida dedicada a ensinar música na escola da Congregação em São Paulo, Irene sentiu o impulso de ser “missionária” e, ao ficar sabendo que pediam voluntários para ir à recém-criada Prelazia de São Félix do Araguaia, decidiu se apresentar.

Assim, chegou ao Araguaia em 1971 após uma viagem de mais de 3 semanas, de ônibus e a cavalo, de sua São Paulo natal até o interior da Amazônia: 1.918 Km.

Era uma época brava. Vivia-se sob o regime militar e tudo era proibido, com exceção do que era ditado pelos militares de plantão. E até a esses senhores a Tia Irene enfrentou com uma calma e uma firmeza capaz de desconcertá-los, como na ocasião em que um grupo de militares do Exercito aqui esteve para investigar se a Prelazia mantinha ligações com a Guerrilha do Araguaia.

A Tia Irene era secretária do GEA – Ginásio Estadual do Araguaia -, que funcionava no Centro Comunitário. O Comandante queria fazer a revista no dia seguinte, no horário oficial; no dia seguinte, ele chegou, acompanhado de soldados armados, às sete horas da manhã; a Tia Irene ainda não tinha as coisas arrumadas como ele ordenara, o que o deixou irritado. Questionada, a Tia Irene, com a firmeza e calma que lhe eram peculiares, respondeu que o horário oficial era o do Estado de Mato Grosso e não o de Brasília e continuou a fazer o seu trabalho, deixando o Comandante desconsertado.

Maria José Souza Moraes

Advogada da Prelazia de São Félix do Araguaia desde 1982

A mulher do bispo ?

A Imrã Irene passou mais de 30 anos ao lado do bispo Casaldáliga, cuidando da administração de sua casa, atendendo discretamente às visitas que o Pedro recebe e também entregando-se totalmente à missão de trabalhar junto às pessoas mais cartentes do Araguaia.

Alguns dos camponeses que passavam regularmente pela casa de Casaldáliga em busca de alimento ou apoio, talvez não muito conscientes das castas imposições da Igreja Católica, Apostólica e Romana -sempre tão distante dos “trópicos”, comentavam com naturalidade e uma boa dose de inocência que a “mulher do bispo” tinha atendido eles. A sempre fiel e presente Irene.

Mas além do papel de “chanceler” da casa de Casaldáliga, em toda a região de Araguaia, Irene era conhecida como “Tía Irene”: Irene contribuiu decisivamente para que na região muitas mulheres aprendessem a ler e escrever, pois foi uma das fundadoras e promotoras dos primeiros projetos de alfabetização para adultos na Amazônia.

Com elas, também formou grupos organizados que, pela primeira vez, lutaram pelos seus direitos e se organizaram para agir politicamente por suas liberdades.

Em São Félix foi secretária do Ginásio Estadual Araguaia (GEA), foi fundadora e presidente da Associação Nossa Senhora da Assunção (ANSA), trabalhou em serviços de administração e de chancelaria, assumiu inúmeros trabalhos pastorais e foi até sua morte a alma do rico arquivo da mesma Prelazia. Foi confidente e conselheira, sobretudo das mulheres e com elas criou o Clube das Mães. Os pobres e sofredores sempre encontraram nela um coração solidário.

Pedro Casaldáliga, 2008

A revolução delicada e firme

Em 1972, a repressão militar caiu sobre a Prelazia de São Félix do Araguaia. Os soldados entraram nas casas agitando o fantasma do comunismo (tão “útil” em toda a América Latina) e também registraram a pequena escola da Prelazia em busca de armas e sinais de conexão com o Guerrilha do Araguaia, que, na verdade, tinha atuação muito mais para o leste.

«Eles (os militares) acreditavam que tínhamos ligações com a guerrilha. Só que a Guerrilla del Araguaia estava muito longe daqui, no Estado do Pará. Desconfiados, os soldados queriam ver tudo. Mandaram chamar toda a gente para fotografar e tirar impressões digitais. As meninas, por mais simples que fossem, foram consertar os cabelos porque, afinal, elas iam fazer um retrato delas…”.

Irene Franceschini

No meio de toda essa confusão, Irene ofereceu-lhes um café enquanto esperavam…

Conhecendo muito bem o peso político de sua atividade e dedicando-se a ela com a força de quem sabe que está “na resistência”, a Irmã Irene tinha plena consciência do risco que corria e da situação de repressão e violência em que se encontravam.

Na verdade, outros de seus colegas da Prelazia não tiveram tanta sorte, e muitos deles foram presos, torturados ou assassinados, como o pai João Bosco Bournier que foi baleado na cabeça por um policial militar na cidade de Ribeirão Cascalheira por defender duas mulheres que estavam sendo torturadas na delegacia.

Radicalmente coherente, directa e “severa”

A Tia Irene, junto com o bispo Pedro Casaldáliga e um grupo de leigos/as fundaram a Associação ANSA , a organização de solidariedade a serviço da dignidade dos direitos e da construção de uma cidadania plena dos povos indígenas, dos camponeses e daqueles que mais sofrem na região do Araguaia.

Mas, acima de tudo, a irmã Irene Franceschini trabalhou com as mulheres do Araguaia. Mulheres que sofreram (e sofrem) diretamente os efeitos cruéis de uma sociedade machista. As mulheres que nesta terra do extremo oeste do país foram condenadas às tarefas domésticas e subordinadas a “seus homens”: primeiro aos seus pais, depois a seus irmãos homens, mais tarde aos seus maridos e, muitas vezes, para terminar, até aos seus filhos homens. A Irmã Irene as ajudou a serem mais cientes de suas forças, de seus direitos, do seu potencial, dentro e fora de casa. Lado a lado com elas, dia após dia, compartilhando a ação, foram se transformando em sujeitos políticos desta história do Araguaia.

A Irmã Irene era assim: firme, direta, severa, não tegiversava, não transigia nem fazia concessões, quando se tratava de direitos e justiça, principalmente quando estavam em jogo questões ligadas aos posseiros, aos sem terra, aos indígenas e às mulheres, enfim às camadas excluídas de direitos da justiça. Tinha uma capacidade admirável de indignar-se com as injustiças e as vislumbrava mesmo nos atos que se revestiam de uma aparência de justos.

Maria José Souza Moraes, 2008

Seja a nossa pequena -e sempre insuficiente lembrança, aos 11 anos de sua ressureição e aos 100 anos de seu nascimento, em São Paulo, no dia 16 de novembro de 1919.

Obrigado Tia, muito obrigado.

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O texto a seguir é de Leonardo Boff , teólogo brasileiro e companheiro de Casaldáliga. O escrito foi publicado pela primeira vez no blog pessoal de Boff, em 10 de novembro de 2015 e nós fizemos a síntese a seguir.

Uma das afirmações básicas do novo paradigma científico e civilizatório é o reconhecimento da inter-retro-relação de todos com todos, constituindo a grande rede terrenal e cósmica da realidadade.

Coerentemente a Carta da Terra, um dos documentos fundamentais desta visão das coisas, afirma: «Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados e juntos podemos forjar soluções includentes» (Preâmbulo, 3).

Uma Encíclica profética

O Papa Francisco em sua encíclica sobre O cuidado da Casa Comum se associa a esta leitura e sustenta que «pelo fato de que tudo está intimamente relacionado e que os problemas atuais requerem um olhar que leve em conta todos os aspectos da crise mundial» (n.137), se impõe uma reflexão sobre a ecologia integral pois só ela dá conta dos problemas da atual situação do mundo.

Esta interpretação integral e holística ganha uma força inestimável dada a autoridade com que se reveste a figura do Papa e a natureza de sua encíclica, dirigida a toda a humanidade e a cada um de seus habitantes.

Não se trata mais apenas da relação do desenvolvimento com a natureza, mas do ser humano para com a Terra como um todo e com os bens e serviços naturais, os únicos que podem sustentar as condições físicas, químicas e biológicas da vida e garantir um futuro para a nossa civilização.

O dia é agora

O tempo é urgente e corre contra nós. Por isso, todos os saberes devem ser ecologizados, vale dizer, postos em relação entre si e orientados para o bem da comunidade de vida.

Igualmente todas as tradições espirituais e religiosas são convocadas a despertarem a consciência da humanidade para a sua missão de ser a cuidadora dessa herança sagrada recebida do universo e do Criador que é a Terra viva, a única Casa que temos para morar.

Junto com a inteligência intelectual deve vir a inteligência sensível e cordial e mais que tudo a inteligência espiritual, pois é ela que nos relaciona diretamente com o Criador e com o Cristo ressuscitado que estão fermentando dentro da criação, levando-a junto conosco para a sua plenitude em Deus (nn.100; 243).

O Papa cita o comovente final da Carta da Terra que resume bem a esperança que deposita em Deus e no empenho dos seres humanos: «Que nosso tempo seja lembrado pelo despertar de um nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, pela intensificação da luta pela justiça e pela paz e pela alegre celebração da vida» (n. 207).

A sensibilidade perdida

O drama do homem atual é ter perdido a capacidade de viver um sentimento de pertença, coisa que as religiões sempre garantiam. O que se opõe à religião não é o ateísmo ou a negação da divindade. O que se opõe é a incapacidade de ligar-se e religar-se com todas as coisas.

Hoje as pessoas estão desenraizadas, desconectadas da Terra e da anima que é a expressão da sensibilidade e da espiritualidade.

Se não resgatarmos hoje a razão sensível que é uma dimensão essencial da alma, dificilmente nos movemos para respeitar o valor intrínseco de cada ser, amar a Mãe Terra com todos os seus ecossistemas e vivermos a compaixão com os sofredores da natureza e da humanidade.

Leonardo Boff. Texto completo e original AQUI.

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