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Este era o papel da mulher na diocese de Casaldàliga

Este era o papel da mulher na diocese de Casaldàliga

Uma Igreja comunitária, sem hierarquias, com plena igualdade e sem etiquetas. Esta é a Igreja que o bispo claretiano, Pedro Casaldáliga promoveu em sua diocese, São Félix do Araguaia. Após sua morte em agosto, muitas vozes têm lembrado seu estilo eclesial e sua disposição. O jornal Alvorada, da Prelazia, publicou cinco breves testemunhas de mulheres que compartilharam a fé e a missão evangélica com o bispo Pedro.

“Pedro nos convidou a criar um modelo circular e inclusivo de Igreja, inserido na vida do povo, em suas lutas e resistências, diante das ameaças e violências do latifúndio e da ausência e omissão do Estado”. É o testemunho de Jeane Bellini, membro da equipe Casaldáliga entre 1983 e 2005.

Bellini explica que desde o início ele propôs “formar equipes mistas de homens e mulheres, leigos, religiosos e sacerdotes, sem hierarquias”. As equipes viviam com o povo e enfrentarvam juntos os desafios. “Aprendemos muito, foi um caminho marcado por momentos fortes de vitórias, mas também por muitas derrotas”, conta.

Uma Igreja – povo de Deus – sem hierarquias

 

A experiência com o povo juntava-se à experiência religiosa: “Nos inundamos da espiritualidade de Pedro, que permeava tudo o que ele fazia. Celebrávamos tudo: a vida, a morte, a luta, a derrota e a vitória”, diz Bellini.

Ela sublinha o privilégio de, ao longo de 22 anos, “fazer parte da construção de um modelo de Igreja – Povo de Deus, sem hierarquias”. Nunca usaram as etiquetas de leigo, leiga, padre, irmã ou bispo. “Nós nos reconhecíamos pelo nome, não pela categoria. Cada membro da Igreja, da equipe pastoral, assumiu e compartilhou essa missão”.

Essa é também a experiência de Selme de Lima Pontim, que viveu por mais de 20 anos na Prelazia de Casaldáliga: “Durante minha estada em São Félix, eu rezei missa muitas vezes, até mesmo na catedral. Eles nunca me proibiram, ao contrário, sempre me encorajaram a fazê-lo e a me preparar.

De Lima fez um curso no Centro de Estudos Bíblicos, CEBI por correspondência e cursou Teologia do Pluralismo Religioso pela Internet. Ele se lembra de “sentir sempre a alegria de Pedro” assim que ela estava avançando em sua formação. Na missa, ele não só lia o Evangelho, mas também dava algumas homilias, explica.

“Nunca houve nenhuma reunião separada entre padres e freiras para tomar decisões”.

 

A mãe de Dailir Rodrigues da Silva também era uma mulher ativa na comunidade de Casaldáliga. E Dailir nasceu e viveu na Prelazia de São Félix do Araguaia. Durante seis anos, ela foi agente pastoral. Fez parte dos Conselhos de várias comunidades locais e regionais e também da assembléia geral da Prelazia. “Eram lugares onde todos tinham o mesmo direito: uma voz e um voto”, disse Rodrigues.

A cultura democrática permeava o dia-a-dia das comunidades, sem distinção entre homens e mulheres, leigos ou padres: “Nunca houve um encontro separado entre padres e freiras para tomar decisões sobre a vida da comunidade ou da Prelazia. E lembra: “Tanto o Pedro como os outros tinham o mesmo direito de falar e decidir. Tudo era debatido, refletido ou votado”.

No fundo havia uma responsabilidade conjunta: “Nem o Evangelho nem a partilha da Palavra era responsabilidade exclusiva dos padres, mas uma responsabilidade de toda a comunidade”. E também “as casas das equipes pastorais eram casas da comunidade, não a casa do padre” onde “mulheres e homens eram recebidos e tratados com o mesmo carinho e respeito”.

 

“Por que as mulheres não podem celebrar missa?”

 

Tânia Oliveira viveu 20 anos com Casaldáliga. Três desses anos na casa de Pedro. No primeiro ano, com ele e a Irmã Irene. “Sempre me senti respeitada e valorizada como missionária leigo”, diz ela.

Uma vez sua filha, ainda bem nova, de seis ou sete anos de idade, perguntou ao bispo: “Pedro, por que as mulheres não podem celebrar a missa?” Pedro, respondeu, com um largo sorriso: “Gabriella, eu esperava ver isso acontecer”. Acho que não viverei o suficiente para vê-lo, talvez sua mãe o faça, mas tenho esperança de que você sim vai ver isso acontecer”. E acrescentou: “Não há nada que impeça as mulheres de fazer o mesmo que nós padres fazemos e, na verdade, acho que vocês podem fazê-lo muito melhor!”.

Casaldáliga tinha um caráter renovador. Maria Aparecida Rezende, que nasceu e ainda mora no Araguaia, conta que quando tinha 14 ou 15 anos, após sua primeira comunhão, ela começou a ser catequista. “Em uma ocasião, tivemos um encontro de jovens para preparar a missa. Era um dia de festa e tínhamos que organizar a igreja e preparar a missa com Pedro e o Padre Clélio”.

Houve uma discussão porque “os meninos queriam preparar a missa porque eram homens e não queriam limpar a igreja e os bancos”. Em certo momento, Pedro disse ao grupo: “Hoje teremos uma missa feminina. Os rapazes vão limpar a igreja”.

Rezende se lembra com surpresa: “Os meninos fariam ‘trabalho de mulher’?”….Conta que quando contou sobre o acontecido em sua casa, seus irmãos disseram que o pessoal da Prelazia era muito estranho. Mas, a Maria Aparecida tem clareza: “Pedro nos ensinou que fazer comida, lavar pratos e preparar a casa também era um trabalho de homens. O povo do interior, da roça, acharam muito estranho, mas aos poucos se acostumaram”.

Fotografia de Selme Lima Pontim

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As 4 causas da destruição da Amazônia

As 4 causas da destruição da Amazônia

As 4 causas da destruição da Amazônia

2 de novembro de 2020

As causas de Pedro Casaldáliga

No ano passado foi notícia mundial: A Amazônia está sendo destruída por incêndios sem precedentes.

Fotografias chocantes das queimadas que atingiram matas e florestas apareceram nos noticiários de televisão, nos jornais e sites na Internet.

Muitas ONGs, movimentos e até atores internacionais publicaram documentos exigindo soluções diante desse crime ambiental contra a humanidade.

Queimada em uma das comunidades onde trabalhamos no Araguaia.

A realidade, porém, é que a Amazônia vem sendo queimada há muitos anos.

Há décadas que as famílias que moram aqui denunciam e reclamam que a destruição da floresta prejudica seus plantios, sua saúde e limita a sua capacidade de obter alimentos e até de dispor de água!

No entanto, 2019 e 2020 serão lembrados como anos em que a Amazônia queimou como fazia décadas não o fazia. A destruição deste bioma fundamental atingiu limites insuspeitados.

Por quê? O que aconteceu nesta região do Araguaia? Por que a Amazônia queima tanto? Estes são 4 dos motivos principais!

1. O cenário perfeito

A região da Prelazia de São Félix do Araguaia abrange uma área de aproximadamente 150.000 km2 dentro da Amazônia Legal . Está situada ao nordeste do estado de Mato Grosso, na divisa com o Tocantins e o Pará, a cerca de 1.200 km ao norte da capital brasileira, Brasília.

O primeiro elemento que precisamos considerar para entender os incêndios é, portanto, “as distâncias”: o espaço ocupado pela Prelazia de São Félix do Araguaia é maior que toda a Grécia ou toda a Nicarágua…e equivalente a todo o Ceará! .

A região do Araguaia se encontra na Amazônia Legal, a 1.200 ao norte de Brasília, entre os biomas Cerrado e Amazónico.

Nesta extensa região temos o privilégio de testemunhar uma rica transição de biomas: do Cerrado, o bioma mais biodiverso do mundo, até a Amazônia. Esse fato confere uma riqueza única de formas de vida vegetal e animal, que se estende desde as savanas do Cerrado até a densa floresta amazônica.

A característica geográfica mais marcante, no entanto, é que esta região está localizada entre dois dos grandes rios da América Latina: o Rio Araguaia e o Rio Xingu.

Também tem dentro de seus limites duas grandes e lendárias terras indígenas de proteção ambiental: o Parque Indígena do Xingu, a oeste e a Illa del Bananal, ao leste.

Esta configuração implica também que a região possui poucas estradas de acesso, muitas das quais em condições precárias.

A rodovia principal é a BR-158, que corta a região de norte a sul e ainda tem mais de 200 km sem asfalto. Isso significa que neste Araguaia viajar para qualquer cidade de mais de 50.000 habitantes significa fazer entre 15 e 24 horas de ônibus.

Vista aérea da cidade de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso, na divisa com o estado de Tocantins.

Trata-se de uma região pouco povoada, pois em 2010 (último censo oficial) moravam aqui 125.271 pessoas. Nenhum dos 15 municípios que formam a área da Prelazia de São Félix do Araguaia supera os 35 mil habitantes. Neles, 43% da população vive na área rural.

Confresa, atualmente com 30.000 habitantes (estimativa), e Serra Nova Dourada, onde moram 1.365 pessoas, são os municípios mais grande e mais pequeno respectivamente.

Nesse sentido, é preciso entender a Amazônia e, concretamente esta região do Araguaia como uma enorme extensão, do tamanho de alguns países, relativamente pouco habitada, onde as cidades estão separadas por grandes distâncias e as vias de acesso são muito precárias.

2. O material inflamável

No Araguaia, o principal sector económico são os serviços, que representam a metade da economia regional. A outra economia é a produção agrícola.

Os serviços incluem actividades como o comércio, a construção e as relacionadas com a administração pública.

Ja a produção no campo se concentra na cria extensiva de gado e na produção de soja e outros grãos em grande escada.

De fato, uma das particularidades da ocupação do território no Araguaia é a relação entre a população humana e o rebanho bovino: Aqui temos 22 cabeças de gado por cada habitante.

No Brasil há 53 hectares de terras dedicadas à pecuária: equivalentes a toda França.

Há de certo uma há uma causalidade estreita entre a baixa densidade populacional e o peso da pecuária: a pecuária extensiva precisa de grandes territórios para se desenvolver, com mão de obra escassa, para que processos limitados de acumulação de capital sejam gerados em relação ao espaço ocupado.

O resultado são as baixas taxas de densidade populacional em comparação com outras regiões com uma economia mais avançada e diversificada.

Este modelo económico foi construido sobre a base de uma forte política de incentivos fiscais que pretendia a instalação de grandes projetos agrícolas na Amazônia e que começou a ser incentivada sistematicamente na década de 1960…e que se tem fortalecido nas últimas décadas e adotado como política federal desde a chegada de Bolsonaro.

Ao mesmo tempo, as políticas públicas para os agricultores familiares tem priorizado o mesmo modelo produtivo das grandes : nesta região tem animado e incentivado financeiramente o desmatamento e a monocultura.

O modelo económico que os poderos escolheram para a região vem sendo implementado há 60 anos: primeiro, apoiado e financiado pela ditadura militar e executado pelo latifundio; e, nas últimas décadas, pelo financiamento público (de novo), veiculado pelas grandes coorporações sobre a base das escassas e mal executadas políticas realistas para a vida das famílias no campo.

3. O combustível mais eficaz

Ao mesmo tempo em que a pecuária aumentou exponencialmente durante os últimos 15 anos (concretamente em 15 milhões de cabeças de gado), tem havido uma presença crescente da agricultura industrial em grande escada. A soja é o principal cultivo e ocupa quase 80% do total das áreas agrícolas da região.

Para a safra (colheita) de 2020 calcula-se que serão recolhidas 34 milhões de toneladas de soja, plantadas em 9,82 milhões de hectáres, só no Estado do Mato Grosso: uma superficie equivalente ao Pernambuco ou a Santa Catarina inteiros….sem uma árvore, sem um animal…apenas com soja para exportar à China e à Europa.

Vídeo da estrada que percorre a região do Araguaia, a BR158, em seu passo pelo municipio de Ribeirão Cascalheira, com quilômetros e quilômetros de soja.

A relação é muito clara e não admite muita discussão:o modelo agroindustrial é a principal causa da destruição ambiental, social e económica da Amazônia.

4. O Incendiário

No marco desta situação e desta história, temos de acrescentar ainda as declarações, o clima criado e as políticas implementadas pelo governo Bolsonaro na Amazônia: as ações intencionalmente orientadas a promover e apoiar o modelo agroindustrial e a elimininar, portanto, as formas de vida alternativas, respeituosas com as pessoas e o meio ambiente, vem sendo impostas desde 2019 e deixando um rastro de destruição, discriminação, racismo e concentração de renda em toda a região.

O trabalho que se tinha conseguido fazer nos últimos 40 anos, de conscientização, de olhar a diversificação da produção como uma riqueza para a Humanidade, de re-plantar zonas que tinham sido desmatadas, etc, está seriamente ameaçado.

Bolsonaro tem eliminando os mecanismos financeiros que ajudavam à preservação da Amazônia e esvaziado os órgãos públicos que se dedicam à vigilância ambiental, animando o desmatamento e a grilhagem de terras.

Assim, sobre a base de uma história caracterizada pela distribuição desigual de terras, pela desigualdade e a pobreza, pela escassa presença do estado e pela implementação de um modelo produtivo baseado na monocultura da soja e da pecuária extensiva, temos que acrescentar agora as políticas públicas que encorajam os latifundiários, negam a destruição da natureza e criminalizam os Povos Indígenas e a Sociedade Civil organizada. É fácil entender, então, que temos a conjuntura perfeita que explica porque a Amazônia, o Pantanal ou Cerrado estão sendo destruídos como nunca.

Raul Vico. Associação ANSA e Associação Araguaia com o Bispo Casaldáliga.

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3 motivos pelos quais o Brasil é o epicentro da COVID19

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Com 700 mil casos confirmados e mais de 36 mil mortos, o Brasil já é o terceiro país com mais mortes pelo Coronavirus em todo o mundo. Na Amazônia, a doença já atingiu mais de 181.000 pessoas. Quais são as razões por trás dessa tendência no Brasil?

8 de junho de 2020

As causas de Pedro Casaldáliga

O Brasil é o terceiro país do mundo mais afetado pelo Coronavirus, atrás apenas dos Estados Unidos e do Reino Unido. Embora, obviamente, a incidência do vírus se manifeste especialmente nas cidades com maior densidade populacional, o alto número de positivos detectados nos estados da Amazônia Legal surpreende as autoridades.

Os mais preocupante, no entanto, não são apenas os dados absolutos, mas o fato que o Brasil é o país onde a pandemia está se espalhando mais rapidamente.

O que essa tendência explica acima da média mundial?

1. A atitude de seu presidente

Desde o início da pandemia, e imitando Trump, o Presidente Bolsonaro lançou uma campanha para minimizar a gravidade do COVID-19.

Contrário a qualquer medida de isolamento ou confinamento,o presidente da extrema-direita tem mantido um discurso baseado na defesa de que o Coronavírus é um “gripezinha”.

Desde que assumiu a Presidência do Brasil, em 2019, Bolsonaro tem se caracterizado por suas declarações xenofóbicas, homofóbicas, contrárias aos povos indígenas e até favoráveis à ditadura militar e à tortura. Em seu governo, há mais de 3.000 militares ocupando várias responsabilidades, tendo substituído técnicos, cientistas e acadêmicos.

As ideias extravagantes e provocativas de Bolsonaro fizeram também com que dois ministros da saúde renunciassem em menos de 4 meses, em plena pandemia.

A relação é clara: toda vez que Bolsonaro aparece na televisão, no rádio ou nos jornais minimizando a gravidade da COVID19, mais pessoas vão às ruas ignorando as medidas de confinamento que prefeitos e governadores tentam implementar.

2. Um dos países mais desiguais do mundo

La família de la Darlete viu a l'Assentament Dom Pedro

A Darlete e seus 7 filhos vivem no assentamento Dom Pedro. O governo ajuda com R$205,00 por mês.

A Darlete mora no assentamento “Dom Pedro”, uma extensa comunidade rural onde há 400 famílias. Mãe de 7 filhos menores de idade, sua renda depende do que ela consegue vender na feira quinzenal de São Félix do Araguaia: algumas frutas, legumes e leguminosas que leva à feira em uma viagem de 6 horas na caçamba de um caminhão.

O único auxílio que a família da Darlete recebe são os 205,00 reais do Bolsa Família.

Na comunidade onde o Darlete mora, para ir ao médico (ou ao banco, ou aos correios) tem que fazer 3 horas de viagem por uma estrada de terra que na época das chuvas vira uma grande poça de lama. As mais de 400 famílias que vivem no assentamento Dom Pedro não possuem rede de água ou esgoto.

A situação não é melhor nas grandes cidades: 6% da população do Brasil -mais de 12 milhões de pessoas, mora em “favelas”, onde a densidade populacional é muito alta e a renda média não chega aos 500 reais por mês. Nessas grandes comunidades, muitas vezes também não há rede de água tratada, esgoto e nem coleta de lixo…

Por esses motivos, em boa parte do Brasil, ficar em casa é sinônimo de fome. Para muitas famílias, ir para a rua, se relacionar, vender seus produtos informalmente e continuar fazendo seu serviço diário é a única opção que têm para sobreviver.

3. Um sistema de saúde precário

Uma grande parte do sistema de saúde brasileiro é privada. Além disso, embora alguns aspectos do setor público de saúde tenham melhorado nos últimos anos, é um sistema muito precário que não atinge grande parte da população. No Brasil, uma grande parte da população não tem assistência médica.

No Araguaia, uma das regiões mais distantes e isoladas, um único hospital, com 1 respirador, é responsável por atender uma área equivalente a todo o Estado de Alagoas e muitas das comunidades rurais se encontram a 3 ou 4 horas do médico mais próximo.

Nesse contexto, o descontrole da doença é evidente e, além disso, é plausível pensar que há muitos mais casos que o sistema de saúde não está diagnosticando.

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Em 30 de julho de 1968, Pedro Casaldáliga e Manuel Luzón chegaram em São Félix do Araguaia, na Amazônia. O próprio Casaldáliga explicava esse momento em uma entrevista de 2007.

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O Papa Fransciso reivindica um novo modelo económico que inclua todas as pessoas e reconhece o papel fundamental dos mais humildes.

20 de abril de 2020

As causas de Pedro Casaldáliga

Aos irmãos e irmãs dos movimentos e organizações populares.

Queridos amigos,

Lembro-me com frequência de nossos encontros: dois no Vaticano e um em Santa Cruz de la Sierra e confesso que essa “memória” me faz bem, me aproxima de vocês, me faz repensar em tantos diálogos durante esses encontros e em tantas esperanças que ali nasceram e cresceram e muitos delas se tornaram realidade. Agora, no meio dessa pandemia, eu me lembro de vocês de uma maneira especial e quero estar perto de vocês.

Nestes dias de tanta angústia e dificuldade, muitos se referiram à pandemia que sofremos com metáforas bélicas. Se a luta contra o COVID-19 é uma guerra, vocês são um verdadeiro exército invisível que luta nas trincheiras mais perigosas. Um exército sem outra arma senão a solidariedade, a esperança e o sentido da comunidade que reverdecem nos dias de hoje em que ninguém se salva sozinho. Vocês são para mim, como lhes disse em nossas reuniões, verdadeiros poetas sociais, que desde as periferias esquecidas criam soluções dignas para os problemas mais prementes dos excluídos.

Eu sei que muitas vezes vocês não são reconhecidos adequadamente porque, para este sistema, são verdadeiramente invisíveis. As soluções do mercado não chegam às periferias e a presença protetora do Estado é escassa. Nem vocês têm os recursos para realizar as funções próprias do Estado. Vocês são vistos com suspeita por superarem a mera filantropia por meio da organização comunitária ou por reivindicarem seus direitos, em vez de ficarem resignados à espera de ver se alguma migalha cai daqueles que detêm o poder econômico. Muitas vezes mastigam raiva e impotência quando veem as desigualdades que persistem mesmo quando terminam todas as desculpas para sustentar privilégios. No entanto, vocês não se encerram na denúncia: arregaçam as mangas e continuam a trabalhar para suas famílias, seus bairros, para o bem comum. Essa atitude de vocês me ajuda, questiona e ensina muito.

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Feito desde o Araguaia e desde Barcelona!

Penso nas pessoas, especialmente mulheres, que multiplicam o pão nos refeitórios comunitários, cozinhando com duas cebolas e um pacote de arroz um delicioso guisado para centenas de crianças, penso nos doentes, penso nos idosos. Elas nunca aparecem na mídia convencional. Tampouco os camponeses e os agricultores familiares, que continuam a trabalhar para produzir alimentos saudáveis, sem destruir a natureza, sem monopolizá-los ou especular com a necessidade do povo. Quero que saibam que nosso Pai Celestial olha para vocês, vos valoriza, reconhece e fortalece em sua escolha. Quão difícil é ficar em casa para quem mora em uma pequena casa precária ou para quem de fato não tem teto. Quão difícil é para os migrantes, as pessoas privadas de liberdade ou para aqueles que realizam um processo de cura para dependências. Vocês estão lá, colocando seu corpo ao lado deles, para tornar as coisas menos difíceis, menos dolorosas. Congratulo a vocês e agradeço do fundo do meu coração. Espero que os governos entendam que os paradigmas tecnocráticos (sejam centrados no estado, sejam centrados no mercado) não são suficientes para enfrentar esta crise e nem os outros problemas importantes da humanidade. Agora, mais do que nunca, são as pessoas, as comunidades, os povos que devem estar no centro, unidos para curar, cuidar, compartilhar.

Eu sei que vocês foram excluídos dos benefícios da globalização. Não desfrutam daqueles prazeres superficiais que anestesiam tantas consciências. Apesar disso, vocês sempre sofrem os danos dessa globalização. Os males que afligem a todos, a vocês atingem duplamente. Muitos de vocês vivem o dia a dia sem nenhum tipo de garantias legais que os protejam. Os vendedores ambulantes, os recicladores, os feirantes, os pequenos agricultores, os pedreiros, as costureiras, os que realizam diferentes tarefas de cuidado. Vocês, trabalhadores informais, independentes ou da economia popular, não têm um salário estável para resistir a esse momento … e as quarentenas são insuportáveis para vocês. Talvez seja a hora de pensar em um salário universal que reconheça e dignifique as tarefas nobres e insubstituíveis que vocês realizam; capaz de garantir e tornar realidade esse slogan tão humano e cristão: nenhum trabalhador sem direitos.

Também gostaria de convidá-los a pensar no “depois”, porque esta tempestade vai acabar e suas sérias consequências já estão sendo sentidas. Vocês não são uns improvisados, têm a cultura, a metodologia, mas principalmente a sabedoria que é amassada com o fermento de sentir a dor do outro como sua. Quero que pensemos no projeto de desenvolvimento humano integral que ansiamos, focado no protagonismo dos Povos em toda a sua diversidade e no acesso universal aos três T que vocês defendem: terra e comida, teto e trabalho. Espero que esse momento de perigo nos tire do piloto automático, sacuda nossas consciências adormecidas e permita uma conversão humanística e ecológica que termine com a idolatria do dinheiro e coloque a dignidade e a vida no centro. Nossa civilização, tão competitiva e individualista, com suas taxas frenéticas de produção e consumo, seus luxos excessivos e lucros desmedidos para poucos, precisa mudar, se repensar, se regenerar. Vocês são construtores indispensáveis dessa mudança urgente; além disso, vocês possuem uma voz autorizada para testemunhar que isso é possível. Vocês conhecem crises e privações … que com modéstia, dignidade, comprometimento, esforço e solidariedade, conseguem transformar em uma promessa de vida para suas famílias e comunidades.

Mantenham vossa luta e cuidem-se como irmãos. Oro por vocês, oro com vocês e quero pedir ao nosso Deus Pai que os abençoe, encha vocês com o seu amor e os defenda ao longo do caminho, dando-lhes a força que nos mantém vivos e não desaponta: a esperança. Por favor, orem por mim que eu também preciso.

Fraternalmente,

Cidade do Vaticano, 12 de abril de 2020, Domingo de Páscoa.

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O coronavírus mantém o mundo em choque. Em vez de combater as causas estruturais da pandemia, os governos estão se concentrando apenas em medidas de emergência.

3 de abril de 2020

As causas de Pedro Casaldáliga

Conversamos com Rob Wallace sobre os perigos do COVID-19, a responsabilidade do agronegócio e as soluções sustentáveis para combater doenças infecciosas.

Wallace é um biólogo evolutivo e fitogeógrafo para a saúde pública nos Estados Unidos. Ele trabalha em vários aspectos de novas pandemias há 25 anos e é o autor do livro Big Farms Make Big Flu (Grandes Fazendas Produzem Grandes Gripes, em português).

Quão perigoso é o coronavírus?

Depende de onde você esteja no momento do surto local de COVID-19: nível inicial, nível máximo, tardio. Depende também do tipo de resposta que as instituições de saúde pública estejam dando na sua região. De quais sejam seus dados demográficos, de quantos anos você tem, se você é imunologicamente saudável no momento da infecção ou de como está a sua saúde subjacente. Você também pode ser uma pessoa não diagnosticável por sua imunogenética, a genética subjacente que fornece uma resposta imune ao vírus e o vírus pode não ter nenhum sintoma.

Então, todo esse alarme em torno do vírus é apenas uma estratégia para assustar às pessoas?

Não, certamente não. O COVID-19 apresentava uma taxa de mortalidade ou de estatísticas por morte do virus (CFR – Case Fatality Rate-) de 2 a 4% no início do surto em Wuhan. Fora de Wuhan, o CFR parece cair para cerca de 1% e até abaixo disso, mas também parece aumentar em pontos aqui e ali, mesmo em lugares na Itália e nos Estados Unidos. Seu alcance não parece ser muito alto comparado a, por exemplo, a Síndrome Respiratória Aguda a 10% (SARS); a Gripe de 1918, 5-20%; a Gripe aviária H5N1, 60%; e em alguns lugares, o Ebola, de 90%. Mas certamente excede 0,1% de CFR da incidência de gripe sazonal. No entanto, o perigo não é apenas uma questão de taxa de mortalidade, mas também temos que enfrentar o que é chamado de penetração na taxa de ataque da comunidade: qual a penetração do surto em toda a população mundial.

Poderia ser mais específico?

A rede global de viagens possui conectividade recorde. Sem vacinas ou antivírus específicos para coronavírus ou qualquer imunidade no momento, mesmo um vírus com apenas 1% de mortalidade pode ser um perigo sério. Com um período de incubação de até duas semanas e mais e mais evidências de transmissão antes da doença – antes que saibamos que as pessoas estão infectadas – poucos locais estão livres de infecção. Por exemplo, se o COVID-19 registrar 1% das mortes, o processo de infecção de quatro bilhões de pessoas resultará em 40 milhões de mortes. Uma pequena proporção de grandes números pode representar grandes números.

Estes são dados alarmantes, considerando que a virulência do patógeno é consideravelmente menor …

Absolutamente, e estamos apenas no início do surto. É importante entender que muitas novas infecções mudam ao longo das epidemias. Infectividade, virulência ou ambas podem ser atenuadas. Por outro lado, outros surtos aumentam em virulência. A primeira onda da pandemia de gripe, na primavera de 1918, foi uma infecção relativamente leve. Foram a segunda e terceira ondas daquele inverno e até 1919 as que mataram milhões.

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Feito desde o Araguaia e desde Barcelona!

Mas epidemiologistas céticos dizem que menos pessoas estão infectadas e morreram de coronavírus do que com a gripe sazonal típica. O que você acha?

Eu seria o primeiro a celebrá-lo se esse surto provar ser um fracasso. Mas esses esforços para descartar o COVID-19 como um perigo potencial, citando outras doenças mortais – especialmente a gripe – são um recurso retórico mal utilizado para falar sobre a preocupação com o coronavírus.

O COVID-19 está apenas começando seu caminho epidemiológico e, diferentemente da gripe, não temos vacina ou imunidade coletiva para interromper a infecção e proteger as populações mais vulneráveis.

Então, a comparação é errada?

Não faz sentido comparar dois patógenos em momentos diferentes em suas curvas de desenvolvimento. Sim, a gripe sazonal infecta bilhões em todo o mundo, matando, conforme estimado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), até 650.000 pessoas por ano. O COVID-19, no entanto, está apenas começando o seu caminho epidemiológico e, diferentemente da gripe, não temos vacina ou imunidade coletiva para conter a infecção e proteger as populações mais vulneráveis.

Mesmo que a comparação seja enganosa, ambos os vírus pertencem ao grupo específico de RNA, os quais afetam a área da boca e da garganta e, às vezes, também os pulmões. Ambos são bastante contagiosos.

Essas são semelhanças de superfície que não levam em consideração uma diferença significativa entre os dois patógenos. Sabemos muito sobre a dinâmica da gripe. Sabemos muito pouco sobre o COVID-19, que é cheio de incógnitas. De fato, existem muitas informações sobre o comportamento do COVID-19 que não serão conhecidas até que o surto seja totalmente desenvolvido. Ao mesmo tempo, é importante entender que isso não é o COVID-19 versus a gripe sazonal. É o COVID-19 e a gripe. O surgimento de múltiplas infecções que podem se transformar em pandemia, atacando as populações em conjunto, deve ser a principal e central preocupação.

Você está pesquisando epidemias e suas causas há vários anos. No seu livro ‘Grandes fazendas produzem grandes gripes’, você tenta fazer conexões entre as práticas agrícolas industriais, a agricultura orgânica e a epidemiologia viral. Quais são essas conexões?

O perigo real de cada novo surto é o fracasso, ou melhor, a recusa voluntária de tentar entender que cada novo COVID-19 não é um incidente isolado. O aumento do efeito dos vírus está intimamente ligado à produção de alimentos e à lucratividade das empresas multinacionais.

Quem quer entender por que os vírus estão se tornando mais perigosos deve pesquisar o modelo industrial da agricultura e, mais especificamente, a produção pecuária. Hoje, poucos governos e poucos cientistas estão preparados para fazê-lo. Com os novos surtos, governos, mídia e até a maioria dos centros médicos estão tão focados na emergência que descartam as causas estruturais que estão levando vários patógenos marginalizados a se tornarem um fenômeno global inesperado.

“O aumento da ocorrência de vírus está intimamente ligado à produção de alimentos e à lucratividade das empresas multinacionais”

Quem são os responsáveis?

Eu mencionei agricultura industrial. O grande capital está na vanguarda da apropriação de terras nas últimas florestas primárias e pequenas propriedades agrícolas ao redor do mundo. Esses investimentos geram desmatamento e um *desenvolvimento* que provoca o surgimento de doenças. A diversidade funcional e a complexidade que envolvem essas enormes extensões de terra estão se racionalizando até o ponto que patógenos, que antes permaneciam fechados, estão se espalhando pelas comunidades locais. Em resumo, centros de capital, como Londres, Nova York e Hong Kong, precisam ser considerados como os principais pontos críticos da doença.

Mas, de quais doenças estamos falando?

Atualmente, não existem patógenos livres da influência do capital. Até os mais remotos são afetados mesmo à distância. Ebola, zika, coronavírus, febre amarela novamente, uma variedade de gripe aviária e peste suína africana estão entre muitos patógenos que saem das áreas mais remotas (dos ecossistemas selvagens) e chegam até as áreas peri-urbanas, capitais regionais e, de lá, para a rede global de viagens. Dos morcegos no Congo até matar pessoas que estão tomando o sol em Miami em apenas algumas semanas.

“Molts nous patògens prèviament controlats per ecologies forestals de llarga evolució estan sent alliberats, amenaçant el món sencer”

Qual é o papel das empresas multinacionais?

O Planeta Terra é uma grande parte da Fazenda-Planeta, tanto em termos de biomassa quanto da terra utilizada. O agronegócio busca conquistar o mercado de alimentos. Quase todo o projeto neoliberal é organizado em torno de esforços para apoiar as empresas baseadas nos países industrializados mais avançados a roubar terras e recursos dos países mais fracos. Como resultado, muitos desses novos patógenos previamente controlados por ecologias florestais de longa evolução estão sendo liberados, ameaçando o mundo inteiro.

Quais são os efeitos dos métodos de produção do agronegócio?

A agricultura comandada pelo capital que substitui mais ecologias naturais oferece as condições perfeitas para os patógenos desenvolverem os fenótipos mais virulentos e infecciosos. Nenhum sistema poderia ter sido melhor projetado para gerar doenças mortais.

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Como é possível?

A expansão das monoculturas genéticas animais remove qualquer barreira imunológica para diminuir a transmissão. As grandes densidades populacionais facilitam taxas de transmissão mais altas. Tais condições de superlotação diminuem a resposta imune. A alta produtividade, como parte indissolúvel de qualquer produção industrial, fornece continuamente novos materiais suscetíveis ao vírus e que se alimentam da evolução da virulência. Em outras palavras, o agronegócio está tão focado nos lucros que produzir um vírus que poderia matar bilhões de pessoas é considerado um risco que vale a pena correr.

“O agronegócio está tão focado nos lucros que causar um vírus que poderia matar um bilhão de pessoas é considerado um risco que vale a pena correr”.

Como fariam isso?

Essas empresas podem terceirizar os custos de suas operações epidemiologicamente perigosas para todo o restante. Desde os próprios animais até os consumidores, os trabalhadores agrícolas, o entorno local e os governos de todas as jurisdições. O dano é tão grande que, se devolvêssemos esses custos para os balanços das empresas, o agronegócio, como sabemos, terminaria para sempre. Nenhuma empresa poderia suportar os custos dos danos que causa.

Muitos meios de comunicação colocam o inicio do coronavírus no mercado de alimentos exóticos em Wuhan. É isso mesmo?

Sim e não. Há dicas espaciais apontando aqui. O acompanhamento dos contatos de infecção relacionados apontam ao mercado atacadista de frutos do mar de Hunan em Wuhan, onde foram vendidos animais selvagens. A amostragem ambiental parece apontar para o extremo oeste do mercado, onde estavam esses animais selvagens. Mas a que distância e até onde devemos ir? Quando exatamente começou a emergência? Focar nesse mercado é também não considerar a origem na agricultura silvestre no interior e sua crescente capitalização.

Globalmente, e na China, os alimentos silvestres estão sendo incorporados como mais um setor econômico. Mas o relacionamento deles com a agricultura industrial vai além do simples compartilhamento dos mesmos sacos de dinheiro. À medida que a produção industrial (suínos, aves e afins) se expande para a floresta primária, empurra todos aqueles que cultivam alimentos silvestres para mais fundo na floresta para encontrar animais selvagens, e isso faz aumentar a disseminação de novos patógenos, incluindo o COVID-19.

El COVID-19 no és el primer virus que es desenvolupa a la Xina i el govern tracta d’ocultar.

Sí, però aquesta no és una manera d’actuar específicament xinesa. Els Estats Units i Europa també han servit com a origen per a noves grips, recentment l’H5N2 i l’H5Nx, i les seves multinacionals i representants neocolonials van impulsar l’aparició de l’ebola a l’Àfrica occidental i el zika al Brasil. Els funcionaris de salut pública dels EUA van protegir els agronegocis durant els brots de l’H1N1 (el 2009) i l’H5N2.

“As multinacionais e representantes neocoloniais europeus e norte-americanos impulsaram o surgimento do Ebola na África Ocidental e do Zika no Brasil”

A reestruturação neoliberal do sistema de saúde piorou tanto a pesquisa quanto o atendimento geral ao paciente, por exemplo, nos hospitais. Como um sistema de saúde melhor poderia combater o vírus?

Há a terrível história de um funcionário da empresa de dispositivos médicos de Miami, que voltou da China com sintomas de gripe, fez a coisa certa para sua família e comunidade e exigiu o exame do COVID-19 em um hospital local. Ele estava preocupado com que sua opção mínima de Obamacare não cobrisse os testes. E estava correto, pois o teste custou US$3.720,00. Uma demanda nos EUA poderia ser que durante um surto de pandemia, o governo federal pagasse todas as contas médicas pendentes relacionadas aos testes e tratamentos de infecção após um resultado positivo. Afinal, queremos incentivar as pessoas a procurar ajuda, em vez de esconder e infectar outras pessoas, porque não podem pagar pelo tratamento. A solução óbvia é um serviço nacional de saúde, com todo o pessoal necessário e equipado para lidar com emergências em toda a comunidade, para que a cooperação comunitária nunca seja desencorajada.

Assim que o vírus é descoberto em um país, os governos de todo o mundo reagem com medidas autoritárias e punitivas, como quarenta obrigatórias de todas as áreas de terra e cidades. Tais medidas drásticas são justificadas?

O uso de um surto para testar o controle autocrático após o surto demonstra a imoralidade e a natureza desonesta da gestão capitalista de desastres. Em relação à saúde pública, defendo a verdade e a compaixão, que são importantes variáveis ​​epidemiológicas. Sem elas, as leis perderão o apoio da população. Um senso de solidariedade e respeito mútuo é uma parte essencial para obter a cooperação que precisamos para sobreviver juntos a essas ameaças. Quarentenas automáticas com o apoio certo – brigadas de vizinhos treinados, caminhões para fornecer alimentos porta a porta, autorizações de trabalho e seguro-desemprego – podem levar a esse tipo de cooperação. Estamos todos juntos nisso.

Como você sabe, na Alemanha, o AfD é um partido nazista “de fato”, com 94 cadeiras no Parlamento. A extrema direita e outros grupos em associação com os políticos do AfD usam a crise do coronavírus. Eles espalham relatos falsos sobre o vírus e exigem medidas mais autoritárias do governo: restringindo voos e entradas de migrantes, fechando fronteiras e quarentena forçada.

A extrema direita quer usar o que hoje é uma doença global para racializar as proibições de viagens e o fechamento de fronteiras. É claro que isso é sem sentido. Nesse ponto, e como o vírus já está se espalhando por todo o lugar, o mais razoável é trabalhar para melhorar a resistência do sistema de saúde, para que independentemente de quem esteja infectado, possamos ter os meios para tratá-lo e curá-lo. E, é claro, que parem de roubar a terra aos povos originais e causar o êxodo em primeiro lugar, somente dessa maneira podemos impedir que os patógenos surjam.

Que parem de roubar a terra aos povos originais e causar o êxodo dos mesmos em primeiro lugar, somente dessa maneira podemos impedir que os patógenos surjam.

Quais poderiam ser as mudanças sustentáveis?

A produção de alimentos precisa mudar drasticamente para reduzir o surgimento de novos surtos de vírus. A autonomia do agricultor e um setor público forte podem impedir o surgimento ambiental de cadeias unidirecionais de contágio e infecções não controladas. Introduzir variedades de gado e de culturas, assim como uma reestruturação estratégica, tanto no nível das fazendas quanto regional. Permitir que os animais forrageiros se reproduzam no local para transmitir imunidades testadas. Conectar a produção justa com logística justa. Apoiar subsídios de preços e aos consumidores que ajudem à produção agroecológica. É importante que essas medidas sejam defendidas contra as compulsões que a economia neoliberal impõe a indivíduos e comunidades, bem como as ameaças de repressão estatal lideradas pelas forças do capital.

Quais devem ser as demandas da esquerda revolucionária contra a dinâmica crescente dos surtos?

A agroindústria como modo de reprodução social deve terminar para sempre, mesmo que seja apenas em prol da saúde pública. A produção de alimentos altamente capitalizada depende de práticas que põem em perigo toda a humanidade, neste caso, ajudando a desencadear uma nova pandemia mortal. Deveríamos exigir que os sistemas alimentares fossem socializados de maneira a evitar o surgimento de tais patógenos perigosos em primeiro lugar. Isso exigirá, em primeiro lugar, a reintegração da produção de alimentos às necessidades das comunidades rurais. Também exigirá práticas agroecológicas que protejam o meio ambiente e os agricultores na medida em que são eles os que cultivam nossos alimentos. Em geral, devemos curar as falhas metabólicas que separam nossas ecologias de nossas economias. Em síntese, temos todo um planeta para ganhar.

Entrevista publicada originalmente em Marx.21.  Tradução ao português nossa. Publicada no 18 de março de 2020 na revista Directa, AQUI. 

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31 de março de 2020

As Causas de Pedro Casaldáliga

Na América Latina já tem se confirmado casos de coronavirus em todos os países do Continente. Na Amazônia, segundo informa a Rede Eclesial Panamazónica (REPAM), há 1.580 casos confirmados e 49 falecidos, em 7 de abril de 2020. A pandemia não se encontra, portanto, tão espalhada e nem atinge tantas pessoas quanto na Europa ou na Ásia. Podemos dizer que está ainda na fase inicial.

No entanto, existe um grande preocupação por parte da população daquí pelo impacto e as conseqüências que poderia ter a crise do coronavirus.

A região do Araguaia tem mais de 150.000Km2 de extensão, é maior, portanto, que alguns países europeus como Portugal, por exemplo… só que apenas temos hospitais. Também não temos respiradores ou medicamentos necessários para o tratamento da doença.

Como em muitos outros lugares do Brasil, o trabalho informal, muitas vezes na rua, é a base do sustento de muitas famílias que vivem em condições precárias. Só em São Félix do Araguaia, a nossa associação atende mais de 500 pessoas (sobre uma população de 5.000) que vivem abaixo da linha da pobreza. Ou seja, que sobrevivem com menos de meio salário mínimo por pessoa.

Este cenário de fragilidade social e económica explica porque tem se tomado medidas preventivas, de confinamento e isolamento social, desde o começo da ameaça. As conseqüências podem ser trágicas.

Da mesma forma, os povos indígenas são os mais vulneráveis ao avanço do virus. Os povos Karajá, Tapirapé e Xavante, que vivem com nós no Araguaia tem um acesso muito difícil ao sistema de saúde: por exemplo, desde a terra Marãiwatsédé, onde moram mais de 1.200 Xavante, até o hospital mais próximo tem mais de 5 horas de viagem.

Os povos indígenas se encontram em uma situação de vulnerabilidade e precisam de cuidados, atenção e respeito.

Os povos Karajá, Tapirapé e Xavante estão entre os mais vulnerávies do Araguaia.

O QUE ESTAMOS FAZENDO PARA ENFRENTAR O CORONAVIRUS

Na Associação temos seguido as medidas recomendadas pelos órgãos públicos responsáveis e estamos em contato permanente com as comunidades para podermos responder às necessidades e avaliar a melhor maneira de adaptar nossos projetos, considerando as circunstâncias alarmantes.

No momento, não temos conhecimento de que alguém de nossas equipes ou de nossos projetos esteja afetado pela doença.

No entanto, como medida de prevenção, temos estabelecido medidas que reduzem nossa exposição a áreas e/ou fatores de risco e que permitem a continuação de nossa atividade.

Nas áreas de risco, principalmente em assentamentos e comunidades indígenas, suspendemos temporariamente nossa atividade porque, acima de tudo, o mais importante é a segurança das pessoas por e para quem trabalhamos, nossa equipe e os demais cidadãos.

Em assentamentos e comunidades indígenas, suspendemos temporariamente nossa atividade porque, acima de tudo, o mais importante é a segurança das pessoas.

Na sede da Associação, em São Félix do Araguaia, temos a estrutura adequada para trabalhar à distância.

Nesse sentido, temos adotado as seguintes iniciativas:

Coordenação com autoridades municipais para estarmos atentos à evolução do risco.

– Pertencemos a rede de proteção social do cidadão brasileiro em situação de vulnerabilidade social.

– Apoio para que as comunidades consigam seus alimentos dentro de seus próprios espaços e tenham que se locomover o mínimo necessário.

– Estamos em contato permanente com as famílias que moram nas comunidades onde trabalhamos, para saber como se encontram e poder atendê-las, caso seja necessário.

A contenção e mitigação da propagação da doença são de responsabilidade de toda a sociedade e, para isso, é necessário ficar em casa.

Agora, mais do que nunca, cuidar da nossa saúde é cuidar da saúde de todas/os e nossa associação possui a tecnologia e o equipamento necessários para continuar e monitorar nosso trabalho.

Por isso, fiquemos em casa. Cuidemos da gente.

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