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Este era o papel da mulher na diocese de Casaldàliga

Este era o papel da mulher na diocese de Casaldàliga

Uma Igreja comunitária, sem hierarquias, com plena igualdade e sem etiquetas. Esta é a Igreja que o bispo claretiano, Pedro Casaldáliga promoveu em sua diocese, São Félix do Araguaia. Após sua morte em agosto, muitas vozes têm lembrado seu estilo eclesial e sua disposição. O jornal Alvorada, da Prelazia, publicou cinco breves testemunhas de mulheres que compartilharam a fé e a missão evangélica com o bispo Pedro.

“Pedro nos convidou a criar um modelo circular e inclusivo de Igreja, inserido na vida do povo, em suas lutas e resistências, diante das ameaças e violências do latifúndio e da ausência e omissão do Estado”. É o testemunho de Jeane Bellini, membro da equipe Casaldáliga entre 1983 e 2005.

Bellini explica que desde o início ele propôs “formar equipes mistas de homens e mulheres, leigos, religiosos e sacerdotes, sem hierarquias”. As equipes viviam com o povo e enfrentarvam juntos os desafios. “Aprendemos muito, foi um caminho marcado por momentos fortes de vitórias, mas também por muitas derrotas”, conta.

Uma Igreja – povo de Deus – sem hierarquias

 

A experiência com o povo juntava-se à experiência religiosa: “Nos inundamos da espiritualidade de Pedro, que permeava tudo o que ele fazia. Celebrávamos tudo: a vida, a morte, a luta, a derrota e a vitória”, diz Bellini.

Ela sublinha o privilégio de, ao longo de 22 anos, “fazer parte da construção de um modelo de Igreja – Povo de Deus, sem hierarquias”. Nunca usaram as etiquetas de leigo, leiga, padre, irmã ou bispo. “Nós nos reconhecíamos pelo nome, não pela categoria. Cada membro da Igreja, da equipe pastoral, assumiu e compartilhou essa missão”.

Essa é também a experiência de Selme de Lima Pontim, que viveu por mais de 20 anos na Prelazia de Casaldáliga: “Durante minha estada em São Félix, eu rezei missa muitas vezes, até mesmo na catedral. Eles nunca me proibiram, ao contrário, sempre me encorajaram a fazê-lo e a me preparar.

De Lima fez um curso no Centro de Estudos Bíblicos, CEBI por correspondência e cursou Teologia do Pluralismo Religioso pela Internet. Ele se lembra de “sentir sempre a alegria de Pedro” assim que ela estava avançando em sua formação. Na missa, ele não só lia o Evangelho, mas também dava algumas homilias, explica.

“Nunca houve nenhuma reunião separada entre padres e freiras para tomar decisões”.

 

A mãe de Dailir Rodrigues da Silva também era uma mulher ativa na comunidade de Casaldáliga. E Dailir nasceu e viveu na Prelazia de São Félix do Araguaia. Durante seis anos, ela foi agente pastoral. Fez parte dos Conselhos de várias comunidades locais e regionais e também da assembléia geral da Prelazia. “Eram lugares onde todos tinham o mesmo direito: uma voz e um voto”, disse Rodrigues.

A cultura democrática permeava o dia-a-dia das comunidades, sem distinção entre homens e mulheres, leigos ou padres: “Nunca houve um encontro separado entre padres e freiras para tomar decisões sobre a vida da comunidade ou da Prelazia. E lembra: “Tanto o Pedro como os outros tinham o mesmo direito de falar e decidir. Tudo era debatido, refletido ou votado”.

No fundo havia uma responsabilidade conjunta: “Nem o Evangelho nem a partilha da Palavra era responsabilidade exclusiva dos padres, mas uma responsabilidade de toda a comunidade”. E também “as casas das equipes pastorais eram casas da comunidade, não a casa do padre” onde “mulheres e homens eram recebidos e tratados com o mesmo carinho e respeito”.

 

“Por que as mulheres não podem celebrar missa?”

 

Tânia Oliveira viveu 20 anos com Casaldáliga. Três desses anos na casa de Pedro. No primeiro ano, com ele e a Irmã Irene. “Sempre me senti respeitada e valorizada como missionária leigo”, diz ela.

Uma vez sua filha, ainda bem nova, de seis ou sete anos de idade, perguntou ao bispo: “Pedro, por que as mulheres não podem celebrar a missa?” Pedro, respondeu, com um largo sorriso: “Gabriella, eu esperava ver isso acontecer”. Acho que não viverei o suficiente para vê-lo, talvez sua mãe o faça, mas tenho esperança de que você sim vai ver isso acontecer”. E acrescentou: “Não há nada que impeça as mulheres de fazer o mesmo que nós padres fazemos e, na verdade, acho que vocês podem fazê-lo muito melhor!”.

Casaldáliga tinha um caráter renovador. Maria Aparecida Rezende, que nasceu e ainda mora no Araguaia, conta que quando tinha 14 ou 15 anos, após sua primeira comunhão, ela começou a ser catequista. “Em uma ocasião, tivemos um encontro de jovens para preparar a missa. Era um dia de festa e tínhamos que organizar a igreja e preparar a missa com Pedro e o Padre Clélio”.

Houve uma discussão porque “os meninos queriam preparar a missa porque eram homens e não queriam limpar a igreja e os bancos”. Em certo momento, Pedro disse ao grupo: “Hoje teremos uma missa feminina. Os rapazes vão limpar a igreja”.

Rezende se lembra com surpresa: “Os meninos fariam ‘trabalho de mulher’?”….Conta que quando contou sobre o acontecido em sua casa, seus irmãos disseram que o pessoal da Prelazia era muito estranho. Mas, a Maria Aparecida tem clareza: “Pedro nos ensinou que fazer comida, lavar pratos e preparar a casa também era um trabalho de homens. O povo do interior, da roça, acharam muito estranho, mas aos poucos se acostumaram”.

Fotografia de Selme Lima Pontim

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Visita virtual-espiritual ao túmulo de Pedro Casaldáliga

Visita virtual-espiritual ao túmulo de Pedro Casaldáliga

Visita virtual-espiritual ao túmulo de Pedro Casaldáliga

Faça uma visita virtual-espiritual ao túmulo de Pedro Casaldáliga, conhecendo os lugares mais significativos de sua vida no Araguaia.

Aproveitando as imágens do Google Maps e com as fotografias que colocamos à sua disposição visitaremos espiritualmente a cidade de São Félix do Araguaia, onde Casaldáliga chegou em 1968 e morou até o dia de sua morte em 8 de agosto de 2020.

Imagem 1: o entorno

Essa é uma animação do lugar onde se encontra a cidade onde Casaldáliga viveu por mais de 50 anos e onde foi sepultado no passado 12 de agosto: São Félix do Araguaia.

A cidade está situada no centro-oeste do Brasil; no Mato Grosso; na divisa com o Tocantins; no extremo sul da Amazônia; a 1.200 km ao norte de Brasília.

São Félix do Araguaia conta hoje com 11.000 habitantes embora o município tem uma área equivalente a metade de toda a Bélgica.

Emancipado politicamente em 1976, a cidade está situada à margem de um dos grandes rios do Brasil, o Rio Araguaia. Lá, «o rio mais lindo do mundo», como o chamou Casaldáliga, atravessa a região de sul a norte, embora o faça em curvas sinuosas, como os grandes rios tropicais. De sua passagem por São Félix, ainda lhe restam mais de mil quilômetros para desaguar, juntando-se ao rio Tocantins, no Amazonas.

L'entorn de São Félix do Araguaia

Toda a Prelazia da qual Casaldáliga foi bispo está dentro da «Amazônia Legal» .

No entanto, a vegetação da região é fruto do encontro dos dois maiores biomas do Brasil: de um lado, encontramos inúmeras expressões vegetais típicas da savana mais biodiversa do mundo, o Cerrado; e, do outro lado, podemos nos sentir dentro da grande exuberância característica da floresta amazônica.

Imagem 2: a cidade

Aproximació a São Félix do Araguaia

Mais perto, a mil metros de altura, podemos avistar toda a cidade de São Félix, entre o rio Araguaia ao leste (à direita da imagem) e a saída da cidade pela estrada de terra (a Rodovia BR-242) à oeste (esquerda).

Na margem direita do rio Araguaia está a Ilha do Bananal, «a maior ilha fluvial do mundo», do tamanho de El Salvador, localizada entre os dois braços do Araguaia.

Na imagem também podemos ver o pequeno aeroporto municipal localizado no bairro chamado Vila Santo Antônio.

Abrindo o link do Google também se poderá ver a «casa do bispo» onde Casaldáliga morou por mais de 30 anos . É uma casa exteriormente muito semelhante às outras casas vizinhas, embora por dentro seja uma das mais simples de toda a rua, ainda hoje. Este era o ‘palácio episcopal’ da Prelazia.

Imagem 3: o centro

Centre de São Félix do Araguaia

Descemos mais um pouco para ver São Félix com mais detalhe. Em primeiro lugar, destaca-se esse «triângulo», que é o que poderíamos chamar de bairro «velho» da cidade. No topo, à direita, encontra-se o Cemitério Karajá, onde está a sepultura de Pedro Casaldáliga e para onde vamos. À direita o grande rio Araguaia, descendo para o norte (acima na imagem), em direção ao Amazonas.

No centro da imagem você também pode ver a igreja deste bairro triangular. Trata-se da Catedral de São Félix do Araguaia . Nela se poderá ver o mural que Casaldáliga ecomendou ao pintor Maximino Cerezo Barredo e que se tornou o ícone mais difundido e reconhecido da Igreja da Libertação. Na fachada da Catedral podemos ver outro grande mural, feito de azulejos, também de Cerezo Barredo, representando a Assunção de Maria, padroeira do templo (ambas as imagens, e outras do local, podem ser vistas no Google Maps ou indo AQUI).

À esquerda da imagem, vemos realçada novamente a «casa do bispo» , no final do bairro antigo, próxima do outro grande bairro da cidade. Foi Casaldáliga quem escolheu a casa, pela sua simplicidade e pela sua pobreza: as paredes de tijolo de barro, o telhado “Eternit”, as janelas de tábua que se fecham rodando uma tramela de madeira, o chão de cimento, sem cerâmica … e as portas sempre abertas. A porta do quarto de Casaldáliga foi sempre uma cortina simples: nunca teve porta em seu quarto.

Um pouco mais à direita da imagem, entre a casa de Pedro e a Catedral de São Félix, encontramos a sede da associação que Casaldáliga e a sua equipe fundaram durante a ditadura militar para trabalhar junto aos camponeses e os povos indígenas: a Associação ANSA , que ainda é referência de ação social no Araguaia graças a doações solidárias de pessoas ao redor do mundo.

Imagem 4: Os “missionários”

Primera Esglèsia

Descemos mais um pouco para chegarmos mais perto do centro de São Félix. Quando os missionários claretianos chegaram com Casaldáliga em julho de 1968, a cidade era apenas um povoado junto ao rio.

A menos de 100 metros do cais, havia a pequena capela sertaneja, o sino era sustentado por dois troncos de árvore. Por aquela pequena capela, aproximadamente uma vez a cada ano, passavam alguns missionários, principalmente salesianos, para celebrar missa e administrar os sacramentos às pessoas da região. Eram as famosas «desobrigas» (celebrações da Páscoa…).

P

Os claretianos Pedro, José María Gil e Leopoldo Belmonte, junto a um grupo de posseiros em frente à primera capela de São Félix. Imagem: Arquivo Prelazia de São Félix do Araguaia.

No local onde estava aquela primeira capelinha, foi erguida uma cruz como lembrança, que ainda podemos ver nas imagens que te oferecemos no GoogleMaps.

Casaldáliga morou primeiro ao lado dessa primeira capelinha. No quintal daquela primeira casa foram plantadas duas mangueiras , que hoje têm mais de 50 anos e se erguem majestosamente, reverenciando o rio Araguaia.

Daquela varando sobre o rio, em uma noite de luar, Casaldáliga escreveu seu poema para o Che, escutando comentários internacionais sobre ele no rádio de onda curta:

«Escucho, al transistor, cómo te canta
la juventud rebelde,
mientras el Araguaia late a mis pies,
como una arteria viva,
transido por la luna casi llena.
Se apaga toda luz. Y es sólo noche

….

Primeira Capela e casa dos Padres em São Félix

«A casa que se vê ao lado é a primeira casa da Prelazia, onde o Pedro e eu moramos em 1969 e 1970. Era uma casa com apenas um quarto e a cozinha. Foi a casa onde se hospedava Leonardo Vilas-Boas e depois, até a nossa chegada, foi uma casa onde se vendia carne. Durante o ano de 1970 foi construída outra casa, porque a equipe foi crescendo e onde hoje é a sede da Prefeitura Municipal … ». (Leopoldo Belmonte)

Esta nova casa, bem como a casa das irmãs de São José, vindas para se incorporar à Prelazia recém criada, foram construídas na primeira fileira de casas à beira do rio, em frente à capela. Logo foi necessário construir uma igreja maior, que é a atual Catedral da Prelazia de São Félix do Araguaia.

Imagem 6: O funeral

Centro Comuniário Tia Irene

Ao Norte de São Félix do Araguaia, já quase na saída da cidade, poderá ver o prédio do «Ginásio», a primeira escola de ensino fundamental completo que a região teve. Era a prioridade pastoral para o desenvolvimento integral do Araguaia. A Irmã Irene Franceschini, chanceler da Prelazia e alma do impressionante Arquivo da mesma, foi também a secretária dessa primeira escola.

Apesar de ter sido desmantelado pela ditadura em 1973 o «Ginásio Estadual do Araguaia» tornou-se referência da educação na região e no estado de Mato Grosso e foi semente da formação política de muitos e muitas no Araguaia.

O prédio do ginásio foi transformado em Centro Comunitário para as diversas atividades da Prelazia e hoje se chama, «Centro Comunitário Tia Irene» , em homenagem à mulher que dedicou sua vida ao Araguaia. Nesse local se realizou a celebração eucarística da Páscoa de Pedro, que muitos de nós e vários milhares de pessoas em todo o mundo acompanhamos online.

No dia do enterro de Casaldáliga, a procissão saiu para a rua (em direção ao rio), dobrou à esquerda, para o norte, levando o corpo de Casaldáliga para o cemitério, a cerca de 200 metros. Seu caixão foi carregado pelo povo, pelos agentes de pastoral e pelos «guerreiros indígenas Xavante», pintados com suas cores rituais.

[Pensemos por um momento no significado de valor histórico da imagem de um Povo Indígena carregando o corpo de um bispo, talvez único neste Continente indígena conquistado pela Cruz e pela Bíblia: guerreiros de um Povo Indígena sepultam com as mais altas honras um bispo missionário que sempre foi «contra a Conquista e sua mal chamada evangelização»].

Imagem 5: O lugar da ressurreição

Tomba on descansa Pere Casaldàliga

Esta é uma vista de perto do túmulo de Pedro Casaldáliga. Estamos perto o suficiente para «adivinharmos» a terra que abraça seu caixão, embaixo de um pé de Pequi (pequizeiro, Caryocar brasiliense), a 50 metros da água do Araguaia, que beija e mima, com devoção, o humilde morro do cemitério.

Este retângulo vertical, sugerido por suas pequenas paredes, é o cemitério onde foram sepultados os ancestrais indígenas, «legítimos imperadores da América», como Casaldáliga os chama na «Missa da Terra sem males»

Praticamente até o início do século 20, toda a região era habitada apenas por esses povos e São Félix só teve habitantes não indígenas a partir de 1941. Porém, com a chegada do agro-capitalismo, principalmente a partir dos anos 60, – desta vez não em busca de ouro, mas de terra, latifúndio -, o cemitério teve que receber os trabalhadores sem terra; os ‘peões‘ maltratados e mortos pelos latifundiários e as companhias do agronegócio; as crianças morrendo de fome e malária … e a própria população local.

Casaldáliga explica com paixão testemunhal em seu «diário de missão» como a sua alma se quebrava com os enterros que ele próprio celebrou nos seus primeiros anos de missão neste cemitério.

Por isso, em seus últimos anos, pediu, «se não fosse um privilégio», ser sepultado ali, junto com os índios, os sem-terra, os peões, as crianças,…as pessoas anônimas do Araguaia, os mais pobres, «quase sempre sem caixão, muitas vezes sem nome»…

Imagem 6: Diante do túmulo de Casaldáliga

Pedro Casaldàliga descansa pa beira do Rio Araguaia

Você está diante do túmulo de Pedro Casaldáliga.
Recolha-se, em um momento de silêncio,
em plena comunhão com este irmão.

Obrigado por ter nos acompanhado

Para facilitar a visita, você pode usar os links a seguir:

Uma vez com o mapa de São Félix na tela, identifique esses seis pontos (cada um marcado com seu pequeno círculo como um marcador de local):

1) Na avenida que cruza a cidade ao pé do morro, encontramos a Casa do bispo Pedro Casaldáliga: AQUÍ

2) Um pouco mais pra direita (indo para o rio), veremos a Associação ANSA, fundada por Casaldáliga e a sua equipe en plena ditadura militar para trabalhar junto aos camponeses e indígenas e que ainda funciona graças às doações solidárias.

3) Na mesma avenida, podemos encontrar a Catedral Nossa Senhora da Assunção, onde o Pedro celebrava missa todos os domingos.

4) A primeira Igrejinha (capelinha) de São Félix do Araguaia, antes de ter sido criada a Prelazia, na beira do rio Araguaia, próxima à Prefeitura Municipal.

5) No lugar mais ao norte da cidade, poderemos ver o túmulo de Pedro Casaldáliga, no cemintério Karajá, no lugar mais ao norte da cidade.

6) Antes, poderemos ver o Centro Comunitário ‘Tia Irene’, lugar de reuniões da Prelazia e de toda a cidade, construído com a solidariedade da Catalunha e onde se encontra o Arquivo da Prelazia de São Félix do Araguaia, que tem mais de 250 mil documentos classificados.

Em cada um desses lugares, se você clicar no pequeno círculo, poderá ver varias fotografias que estamos postando. São muitas imagens, incluindo a celebração do sepultamento de Casaldáliga.

José Maria Vigil e
Raul Vico, Associação ANSA

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e as suas Causas

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As 4 causas da destruição da Amazônia

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2 de novembro de 2020

As causas de Pedro Casaldáliga

No ano passado foi notícia mundial: A Amazônia está sendo destruída por incêndios sem precedentes.

Fotografias chocantes das queimadas que atingiram matas e florestas apareceram nos noticiários de televisão, nos jornais e sites na Internet.

Muitas ONGs, movimentos e até atores internacionais publicaram documentos exigindo soluções diante desse crime ambiental contra a humanidade.

Queimada em uma das comunidades onde trabalhamos no Araguaia.

A realidade, porém, é que a Amazônia vem sendo queimada há muitos anos.

Há décadas que as famílias que moram aqui denunciam e reclamam que a destruição da floresta prejudica seus plantios, sua saúde e limita a sua capacidade de obter alimentos e até de dispor de água!

No entanto, 2019 e 2020 serão lembrados como anos em que a Amazônia queimou como fazia décadas não o fazia. A destruição deste bioma fundamental atingiu limites insuspeitados.

Por quê? O que aconteceu nesta região do Araguaia? Por que a Amazônia queima tanto? Estes são 4 dos motivos principais!

1. O cenário perfeito

A região da Prelazia de São Félix do Araguaia abrange uma área de aproximadamente 150.000 km2 dentro da Amazônia Legal . Está situada ao nordeste do estado de Mato Grosso, na divisa com o Tocantins e o Pará, a cerca de 1.200 km ao norte da capital brasileira, Brasília.

O primeiro elemento que precisamos considerar para entender os incêndios é, portanto, “as distâncias”: o espaço ocupado pela Prelazia de São Félix do Araguaia é maior que toda a Grécia ou toda a Nicarágua…e equivalente a todo o Ceará! .

A região do Araguaia se encontra na Amazônia Legal, a 1.200 ao norte de Brasília, entre os biomas Cerrado e Amazónico.

Nesta extensa região temos o privilégio de testemunhar uma rica transição de biomas: do Cerrado, o bioma mais biodiverso do mundo, até a Amazônia. Esse fato confere uma riqueza única de formas de vida vegetal e animal, que se estende desde as savanas do Cerrado até a densa floresta amazônica.

A característica geográfica mais marcante, no entanto, é que esta região está localizada entre dois dos grandes rios da América Latina: o Rio Araguaia e o Rio Xingu.

Também tem dentro de seus limites duas grandes e lendárias terras indígenas de proteção ambiental: o Parque Indígena do Xingu, a oeste e a Illa del Bananal, ao leste.

Esta configuração implica também que a região possui poucas estradas de acesso, muitas das quais em condições precárias.

A rodovia principal é a BR-158, que corta a região de norte a sul e ainda tem mais de 200 km sem asfalto. Isso significa que neste Araguaia viajar para qualquer cidade de mais de 50.000 habitantes significa fazer entre 15 e 24 horas de ônibus.

Vista aérea da cidade de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso, na divisa com o estado de Tocantins.

Trata-se de uma região pouco povoada, pois em 2010 (último censo oficial) moravam aqui 125.271 pessoas. Nenhum dos 15 municípios que formam a área da Prelazia de São Félix do Araguaia supera os 35 mil habitantes. Neles, 43% da população vive na área rural.

Confresa, atualmente com 30.000 habitantes (estimativa), e Serra Nova Dourada, onde moram 1.365 pessoas, são os municípios mais grande e mais pequeno respectivamente.

Nesse sentido, é preciso entender a Amazônia e, concretamente esta região do Araguaia como uma enorme extensão, do tamanho de alguns países, relativamente pouco habitada, onde as cidades estão separadas por grandes distâncias e as vias de acesso são muito precárias.

2. O material inflamável

No Araguaia, o principal sector económico são os serviços, que representam a metade da economia regional. A outra economia é a produção agrícola.

Os serviços incluem actividades como o comércio, a construção e as relacionadas com a administração pública.

Ja a produção no campo se concentra na cria extensiva de gado e na produção de soja e outros grãos em grande escada.

De fato, uma das particularidades da ocupação do território no Araguaia é a relação entre a população humana e o rebanho bovino: Aqui temos 22 cabeças de gado por cada habitante.

No Brasil há 53 hectares de terras dedicadas à pecuária: equivalentes a toda França.

Há de certo uma há uma causalidade estreita entre a baixa densidade populacional e o peso da pecuária: a pecuária extensiva precisa de grandes territórios para se desenvolver, com mão de obra escassa, para que processos limitados de acumulação de capital sejam gerados em relação ao espaço ocupado.

O resultado são as baixas taxas de densidade populacional em comparação com outras regiões com uma economia mais avançada e diversificada.

Este modelo económico foi construido sobre a base de uma forte política de incentivos fiscais que pretendia a instalação de grandes projetos agrícolas na Amazônia e que começou a ser incentivada sistematicamente na década de 1960…e que se tem fortalecido nas últimas décadas e adotado como política federal desde a chegada de Bolsonaro.

Ao mesmo tempo, as políticas públicas para os agricultores familiares tem priorizado o mesmo modelo produtivo das grandes : nesta região tem animado e incentivado financeiramente o desmatamento e a monocultura.

O modelo económico que os poderos escolheram para a região vem sendo implementado há 60 anos: primeiro, apoiado e financiado pela ditadura militar e executado pelo latifundio; e, nas últimas décadas, pelo financiamento público (de novo), veiculado pelas grandes coorporações sobre a base das escassas e mal executadas políticas realistas para a vida das famílias no campo.

3. O combustível mais eficaz

Ao mesmo tempo em que a pecuária aumentou exponencialmente durante os últimos 15 anos (concretamente em 15 milhões de cabeças de gado), tem havido uma presença crescente da agricultura industrial em grande escada. A soja é o principal cultivo e ocupa quase 80% do total das áreas agrícolas da região.

Para a safra (colheita) de 2020 calcula-se que serão recolhidas 34 milhões de toneladas de soja, plantadas em 9,82 milhões de hectáres, só no Estado do Mato Grosso: uma superficie equivalente ao Pernambuco ou a Santa Catarina inteiros….sem uma árvore, sem um animal…apenas com soja para exportar à China e à Europa.

Vídeo da estrada que percorre a região do Araguaia, a BR158, em seu passo pelo municipio de Ribeirão Cascalheira, com quilômetros e quilômetros de soja.

A relação é muito clara e não admite muita discussão:o modelo agroindustrial é a principal causa da destruição ambiental, social e económica da Amazônia.

4. O Incendiário

No marco desta situação e desta história, temos de acrescentar ainda as declarações, o clima criado e as políticas implementadas pelo governo Bolsonaro na Amazônia: as ações intencionalmente orientadas a promover e apoiar o modelo agroindustrial e a elimininar, portanto, as formas de vida alternativas, respeituosas com as pessoas e o meio ambiente, vem sendo impostas desde 2019 e deixando um rastro de destruição, discriminação, racismo e concentração de renda em toda a região.

O trabalho que se tinha conseguido fazer nos últimos 40 anos, de conscientização, de olhar a diversificação da produção como uma riqueza para a Humanidade, de re-plantar zonas que tinham sido desmatadas, etc, está seriamente ameaçado.

Bolsonaro tem eliminando os mecanismos financeiros que ajudavam à preservação da Amazônia e esvaziado os órgãos públicos que se dedicam à vigilância ambiental, animando o desmatamento e a grilhagem de terras.

Assim, sobre a base de uma história caracterizada pela distribuição desigual de terras, pela desigualdade e a pobreza, pela escassa presença do estado e pela implementação de um modelo produtivo baseado na monocultura da soja e da pecuária extensiva, temos que acrescentar agora as políticas públicas que encorajam os latifundiários, negam a destruição da natureza e criminalizam os Povos Indígenas e a Sociedade Civil organizada. É fácil entender, então, que temos a conjuntura perfeita que explica porque a Amazônia, o Pantanal ou Cerrado estão sendo destruídos como nunca.

Raul Vico. Associação ANSA e Associação Araguaia com o Bispo Casaldáliga.

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