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Esse foi o adeus a Casaldáliga em sua cidade natal
Esse foi o adeus a Casaldáliga em sua cidade natal
21 de agosto de 2020
A vida de Pedro Casaldáliga
Pedro Casaldáliga morreu no dia 8 de agosto, aos 92 anos, no hospital da Santa Casa de Batatais, próximo a São Paulo, para onde havia sido transferido de São Félix do Araguaia por problemas pulmonares.
A notícia se espalhou imediatamente pelo mundo e as condolências e elogios ao seu perfil biográfico e, sobretudo, às suas causas, ocuparam a mídia.
No dia seguinte, domingo, enquanto se realizava a primeira missa de seu funeral na capela do Centro Universitário Claretiano de Batatais, em sua cidad natal, Balsareny, na Catalunha, houve um encontro espontâneo na Praça Ricard Viñas, em frente à Casa do Leiteiro (Cal Lleter), onde o bispo Pedro, filho do leiteiro da cidade, nasceu.
Com máscaras e na distância de segurança, centenas de pessoas testemunharam sua dor e transmitiram seu amor à família Casaldáliga, representadas pelas duas irmãs de Pedro, Carme e Maria, e suas sobrinhas.
Algumas pessoas dos grupos culturais da cidade declamaram poemas de Casaldáliga (Retorn pairal e Castell de Balsareny); em seguida, Martina Ruiz tocou a música de Pau Casals, um clássico da Catalunha, “El cant dels ocells” no violoncelo e os presentes cantaram também o hino da montanha de Montserrat, o “Virolai”, após um minuto de silêncio e reflexão.
O evento, breve e emocionante, foi encerrado por Anna Casaldáliga, sobrinha do bispo, que agradeceu em nome da família e pediu para continuar trabalhando pelas causas de Pedro Casaldáliga. Os presentes responderam com uma longa salva de palmas.
Enquanto isso, no Brasil, os restos mortais do bispo foram transferidos de Batatais para São Félix do Araguaia, passando pelo santuário dos mártires, em Ribeirão Cascalheira, já em Mato Grosso, em meio a demonstrações emocionantes de luto da população, e foi sepultado, seguindo seu testamento expresso, no cemitério dos índios Karajá, às margens do rio Araguaia, na quarta-feira, 12 de agosto.
Em Balsareny, no dia 15, foi realizada a missa-funeral. Uma celebração austera e ao mesmo tempo acolhedora, idealizada pela família Casaldáliga, grupos de voluntários da Comissão Pere Casaldàliga, a entidade Balsareny Educa e outras organizações locais, com a colaboração da Prefeitura Municipal.
Como o interior da igreja tem espaço limitado devido as limitações sanitárias, os bancos normalmente utilizados foram colocados fora da Igreja, juntamente com um grande número de cadeiras, que os assistentes colocaram na praça da cidade. Um sistema de som foi instalado para que o povo da praça pudesse ouvir tudo o que se falava no templo, pois havia parlamentos muito profundos, emocionantes e interessantes.
Para além de um retrato do Pedro Casaldáliga, foram colocados no altar e no exterior da igreja vários elementos carregados de simbolismo, que poderá descobrir clicando nos círculos com o “+” na imagem:
A celebração foi presidida pelo Padre Joan Soler, claretiano da cidade de Vic, presidente da Associação Araguaia com o Bispo Casaldáliga e amigo pessoal de Pedro. Ele esteve acompanhado pelo reitor de Balsareny, Antoni Bonet e por outros doze sacerdotes da diocese de Solsona e companheiros claretianos.
A parte musical foi interpretada pelo pianista Carles Cases, descendente de Balsareny, compositor da suite Araguaia, acompanhado por Sveta Trushka no violoncelo e Teresa Noguerón no clarinete. O Coro Sant Esteve de Balsareny, dirigido por Marc Comabella, interpretou várias canções da Missa e, no final, a música Pere Casaldàliga , de ‘Balsareny mais de mil anos’, e a Virolai .
A missa começou com uma introdução de Glòria Casaldàliga Riera, que leu este poema de Pedro Casaldáliga:
Eu morrerei de pé como as árvores.
Me matarão de pé.
O sol, como testemunha maior, porá seu lacre
sobre meu corpo duplamente ungido.
E os rios e o mar
serão caminho
de todos meus desejos,
enquanto a selva amada sacudirá, de júbilo, suas cúpulas.
Eu direi a minhas palavras:
– Não mentia ao gritar-vos.
Deus dirá a meus amigos:
– Certifico
que viveu com vocês esperando este dia.
De golpe, com a morte,
minha vida se fará verdade.
Entre tantas coisas que foram ditas, destacamos as palavras de Joan Soler, explicando como o amor que Pedro semeou ao longo do seu caminho o eterniza. Ele também citou as palavras que uma mulher da comunidade Karajá dirigiu ao falecido:
Você amou minha terra e me ensinou a olhar para ela com novos olhos. Você sempre ajudou os mais fracos e agora descansa no Cemitério Indígena Karajá, ao lado de meus ancestrais. A imortalidade é sua, espero vê-lo lá de novo, nas estrelas.
Também foi muito intensa a fala de Cristina Casaldàliga:
“Conforta-nos que, como quiseste, você faleceu com o povo que tanto amou. Apesar da distância, você sempre esteve conosco. Nunca se esqueceu de parabenizar os nossos santos e aniversários e cuidar de sua mãe, seus irmãos, as meninas, o resto da família, o povo e o país. Você também nos deu lição de casa: vá visitar a Virgem do Castelo, Montserrat, e nunca deixem de cuidar da Casa de Candàliga. Como um bom filho de Balsareny, você tem sido um incansável transportador [traginer] de esperança. Continuaremos apoiando suas CAUSAS, que hoje são mais válidas do que nunca, e persistiremos nessa esperança”.
Lembretes foram entregues com o epitáfio que ele queria em seu túmulo: “Para descansar / Eu só quero / esta cruz de madeira / com chuva e sol, / estas sete palmas / e a Ressurreição ! »; havia também uma foto da pintura da catedral de São Félix do Araguaia e frases do bispo Pedro sobre suas causas.
Na despedida estiveram presentes Francesc Escribano, amigo da família e autor da biografia de Pedro, “Descalço sobre a terra vermelha”, e a jornalista Mònica Terribas.
Também estiveram presentes o Ministro das Relações Exteriores da Generalitat, Bernat Solé, a senadora Mirella Cortès, a ex-prefeita de Sallent, o presidente do PDECat, David Bonvehí, e o ex-presidente da Justiça e Paz, Arcadi Oliveres, entre outras personalidades do mundo da política, da cultura e do ativismo social.
Publicação da Revista Sarment, do Cercle Cultural de Balsareny.
Tradução e adequação: Fundação Pedro Casaldáliga
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