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Informação funeral Casaldáliga

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9 de agosto de 2020

A vida de Pedro Casaldáliga

Enterrem-me no rio,
Perto de uma garça branca.
O resto já será meu.

E aquela correnteza franca
Que eu, passando, pedia,
Será pátria recuperada.

O êxito do fracasso.
A graça da chegada.

A sombra-em-cruz da vida
Sob este sol de verdade
Tem a exata medida
Da paz de um homem morto…

E o tempo é eternidade
E toda a rota é porto!

Pedro Casaldáliga. Oração: meu corpo como comida

Informamos que, na Catalunha, as cerimónias oficiais de despedida de Pedro Casaldàliga serão realizadas:

1- Em Balsareny
Na Paróquia da cidade onde ele nasceu, no dia 15 de agosto de 2020 às 19:30 horas.

2 – Em Barcelona
Devido à pandemia, ainda não temos uma data definida. Estamos trabalhando para disponibilizar un local adecuado e que cumpra todas as regulamentações de saúde. Informaremos assim que possível.

No Brasil, acontecerá em três locais:

1 – Em Batatais – SP
O corpo de Dom Pedro Casaldáliga, CMF, será velado, no dia 08 de agosto de 2020, a partir das 15 horas na capela do Claretiano – Centro Universitário de Batatais, unidade educativa dirigida pelos Missionários Claretianos, situada à rua Dom Bosco, 466, Castelo, Batatais, São Paulo, Brasil.

A missa de exéquias será celebrada, em Batatais, no dia 09 de agosto de 2020 às 15h, no endereço acima e será aberta ao público em geral.

Poderão seguir a missa no link a seguir:

2 – Em Ribeirão Cascalheira – MT
O corpo de Dom Pedro Casaldáliga, CMF, será velado no Santuário dos Mártires, no dia 10 de agosto. O Santuário estará aberto a toda a comunidade.

3 – Em São Félix do Araguaia – MT
O corpo de Dom Pedro Casaldáliga, CMF, será velado no Centro Comunitário Tia Irene no dia 11 de agosto e sepultado no cemintério Karajá à beira do Rio Araguaia em sua cidade, São Félix do Araguaia, como ele sempre quis.

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A Teologia poètica de Casaldáliga

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Em 1978, a Faculdade de Teologia da Catalunha decidiu por unanimidade nomear o Bispo Pedro Casaldáliga Doutor Honoris Causa. Mas houve um veto do arcebispo local, argumentando que Casaldáliga não era um teólogo, mas um poeta….

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COMUNICADO: Falecimento de Pedro Casaldáliga

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8 de agosto de 2020

A vida de Pedro Casaldáliga

Lamentamos profundamente informar que Pedro Casaldáliga faleceu hoje na idade de 92 anos.

Nascido em Balsareny (Catalunha) no 16 de fevereiro de 1928, Casaldáliga assumiu com coerência radical e empenho a Opção pelos Pobres e tem sido uma das figuras mais destacadas da Teologia da Libertação.

Bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia desde 1971, Casaldáliga trabalhou sempre a favor dos peões, dos camponeses, dos sem-terra e dos Povos Indígenas, se posicionando abertamente contra o latifundio, o agronegócio e todos os poderes económicos que negam os direitos dos indivíduos e dos povos.

Poeta, escritor e comunicador por vocação, Casaldáliga foi autor ou co-autor de mais de 100 obras traduzidas para várias línguas e através das quais expressou os seus sentimentos e paixões mais íntimos; a sua posição teológica baseada na libertação e na esperança; a sua visão de um mundo que deve necessariamente optar pela justiça e pela paz; e o seu compromisso com uma Humanidade mais “humana”. Sempre disposto e disponível com todos e todas, Casaldáliga concedeu centenas de entrevistas e escreveu inúmeros artigos, circulares e cartas.

Vitalmente comprometido com aqueles que mais sofrem, Casaldáliga tem levado uma vida marcada pela coerência: Dom Pedro – ou simplesmente Pedro, como gostava de ser chamado – morava há mais de 50 anos em uma casa humilde, com as portas sempre abertas na pequena cidade de São Félix do Araguaia, perto de seus amigos e no meio de sua comunidade. Fez centenas de viagens de ónibus pelo Brasil e visitou frequentemente as comunidades da sua Prelazia de cavalo. Casaldáliga sempre foi “povo no meio do povo”.

Brincalhão, decidido, incansável e bom conversador, Casaldáliga lembrava do nome de todas as pessoas de sua comunidade e as visitava freqüentemente em suas casas, mesmo estando isoladas e distantes. Pedro foi o seu povo.

Fundador de pastorais e organizações sociais dedicadas à luta pela terra, à defesa dos Povos Indígenas e contra o capitalismo neoliberal e as desigualdades sociais, Casaldáliga sempre defendeu a necessidade de termos um compromisso pessoal e comunitário com os mais pobres. Fruto desta visão, tenacidade e luz profética, Casaldáliga inspirou muitos movimentos sociais que hoje enriquecem o tecido social da América Latina e lutam por um mundo melhor.

Muitas vezes censurado, silenciado, perseguido pelos poderosos e tendo sofrido várias tentativas de assassinato, Casaldáliga permaneceu sempre fiel à Utopia: sempre em luta para construir o Reino de Deus na terra. Sempre com esperança.

Mesmo pressionado e questionado pelo Vaticano, Pedro trabalhou sempre a favor da transformação radical da Igreja e da sua estrutura clerical, defendendo e fazendo uma Igreja pobre, co-responsável e participativa.

Hoje, as associações Araguaia com o Bispo Casaldàliga, da Catalunha, e a Associação ANSA, de São Félix do Araguaia, lamentamos profundamente o falecimento de Pedro Casaldáliga, a quem devemos a nossa fundação e cada um destes 40 anos de existência.

Amado Pedro: Do fundo do nosso ser, agradecemos a tua vida “doada”; a tua esperança “esperançada” que nos fez e nos faz caminhar; e toda a luz que você nos deu ao longo de sua vida. Cheios de saudade e de dor, afirmamos que as tuas lutas são nossas; que o teu coração bate em cada um e cada uma de nós e que continuaremos nos esforçando para viver as tuas Causas todos os dias. SEMPRE, COM ESPERANÇA!

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A saúde de Pedro Casaldáliga

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Agosto de 2020

La vida de Pedro Casaldáliga

Actualización [07/08 | 23:45h]: Informamos que, según los doctores que están cuidando de Pedro Casaldáliga, el mismo se encuentra en un estado muy frágil, debido a complicaciones pulmonares. Se está a la espera de que reaccione al tratamiento, pero su respuesta es incierta.

Pedro está siendo cuidado en todo momento para que no sufra y no sienta dolor.

Seguimos unidos en la esperanza y la oración.

Actualización [07/08 | 00:10h]: Según nos informan desde el hospital donde se encuentra ingresado Pedro Casaldáliga, su situación continúa estable dentro de la gravedad, no habiendo presentado empeoramiento en las últimas 24 horas.

Los antibióticos suministrados están ayudando al control de la infección respiratoria y sus funciones cardíacas y renales permanecen estables.

En las próximas 24-48 horas será sometido a una nueva tomografía para evaluar la evolución de su pulmón.

A lo largo del día de mañana, así que tengamos información médica directa, la publicaremos.

Actualización [06/08 | 12:30h]: Nos informa el doctor Antonio Marcos Barbosa, de la Santa Casa de Batatais, en el interior de Sao Paulo, que ayer por la tarde Pedro Casaldáliga fue sometido a una punción donde le extrajeron 600 mililitros de líquido en el pulmón izquierdo.

La intervención ha generado una “confort respiratorio” inmediato.

Casaldáliga también ha sido sometido a una endoscopia para ponerle una sonda en el estómago para garantizar “una alimentación segura y eficiente” y está siendo tratado con antibióticos en la UCI.

“En este momento, mantiene una presión (arterial) muy buena y está estable desde el punto de vista cardiológico”, mientras que “la oxigenación en sangre, después de la punción y los nuevos antibióticos”, va mejorando y ” está más cómodo al respirar “, explicó Barbosa.

“Ahora hay que esperar. Es un individuo muy frágil, de edad avanzada, con una enfermedad de alta gravedad “, agregó.

En este sentido, el médico ha insistido en que todavía “hay gravedad” en el cuadro de salud de Pedro, si bien, en virtud de cómo ha reaccionado el tratamiento en las primeras 24 horas, espera que en “cuatro o cinco días “haya resultados más robustos.

Via: Religión Digital

Actualización [6/08 | 00:09h]: Nos informan desde Brasil que se realizó una punción pulmonar en Pedro Casaldáliga para mejorar sus funciones pulmonares. Casaldáliga permanece en la UCI y su estado es grave, sin embargo, no será necesario realizar ningún otro procedimiento quirúrgico en este momento y continú su tratamiento con antibióticos. Tiene un pulmón comprometido, pero las funciones cardíacas y renales son normales. (Él, cuando era joven, sufrió una neumonía severa que le dejó una secuela permanente en su pulmón, razón por la cual está más debilitado).

Continuaremos siguiendo con atención su evolución.

Actualización [5/08 |11:00h]: Informamos que Pedro Casaldáliga ya está en el hospital Santa Casa de Batatais, en el estado de São Paulo. Su situación es estable dentro de la gravedad. Cuando tengamos el informe médico oficial, informaremos.

Actualización [4/08 | 23:00h]: Informamos que, debido al estado de salud y a la imposibilidad de seguir su tratamiento en São Félix do Araguaia, el Obispo #Casaldáliga está siendo transferido en estos momentos para el hospital de la Congregación de los Claretianos en Batatais, SP. Continuaremos informando.Actualización [4/08 | 16:00h]: Ante algunas informaciones que han circulado en las últimas horas sobre la muerte de Pedro Casaldáliga, comunicamos que el Obispo Pedro continúa ingresado en São Félix do Araguaia y no hay ninguna novedad destacable en su estado de salud.

En estos momentos, se está trabajando con la posibilidad de trasladarlo a un hospital más grande fuera de la región, donde podrá tratarse mejor de los problemas respiratorios que padece. Si esta opción se concreta, informaremos detalladamente.

Evidentemente, su estado de salud es débil y muy fragilizado por el Parkinson y la edad.

Actualización [4/08 | 09:00h]: Informamos a todos los amigos y amigas de Pedro Casaldáliga que el obispo se encuentra ingresado en el hospital São Félix do Araguaia debido a problemas respiratorios.

Casaldáliga está muy debilitado por el Parkinson que sufre hace años y su edad avanzada. La prueba para COVID19 ha dado negativo, pero su situación de salud es muy grave.

Pedro está siempre acompañado y bien cuidado.

Seguimos orando por su salud y esperamos que pueda regresar a casa.

Si hay más noticias, iremos actualizando esta entrada.

Asociación Araguaia con el Obispo Casaldáliga y Asociación ANSA.

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Como está Pedro Casaldáliga

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«A doença e a velhice de Pedro não devem ser entendidas apenas como um sofrimento. Deve nos provocar uma “profunda reflexão do significado de 90 anos de vida dedicados à resistência contra o capital e a defesa dos pobres”»

27 de julho de 2020

A vida de Pedro Casaldáliga

«Para descansar
eu quero só
esta cruz de pau
como chuva e sol
estes sete palmos
e a Ressurreição!»

Poema “Cemitério do Sertão”, de Dom Pedro Casaldáliga

A maldita escravidão

Há cerca de 20 anos Dom Pedro Casaldáliga celebrou uma missa no dia de finados num dos cemitérios de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso. Ao final, ele disse na presença do povo e agentes pastorais:

Quero que vocês todos escutem muito bem, porque vou falar algo muito sério: é aqui que eu quero ser enterrado.

Pedro Casaldáliga

O “aqui” era o que o povo da região chama de “Cemitério Karajá”, onde foram enterrados muitos indígenas, e outros tantos trabalhadores que vinham de muitas partes e eram explorados nas fazendas de gado. O lugar onde foi enterrada a gente mais humilde daquela terra. O cemitério dos mais pobres.

Das coisas que mais chocaram Dom Pedro quando ele chegou nessa região do Mato Grosso em 1968, era a situação dos “peões”, trabalhadores assalariados que migravam de vários estados na ilusão da vida que iria melhorar no trabalho nas grandes fazendas.

Muito era prometido por quem os recrutava, e já durante a viagem e depois no próprio trabalho muitas dívidas eram sendo atribuídas… A maldição da escravidão por dívida. E fugas eram duramente reprimidas, com a tradição de cortar as orelhas dos trabalhadores que buscavam escapar daquele martírio.

Casaldáliga construíndo casa. 1977

Pedro Casaldáliga do sertão

A situação dos pequenos posseiros e dos vários povos indígenas da região não era muito diferente, nessa terra das maiores concentrações fundiárias durante a ditadura militar.

De fato, o eixo central da A Carta Pastoral que Casaldàliga publicou no dia de sua Sagração Episcopal, em 1971, “Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social” é uma forte denúncia, aberta e detalhada, de todas as situações de exploração e abuso praticadas pelos grandes proprietários contra os mais pobres.

O documento ecoou no Brasil inteiro e foi noticiado nas principais redes nacionais: quatro anos depois de ter chegado à região do Araguaia, Casaldáliga coloca publicamente a Igreja do Araguaia ao lado dos mais pobres e contra as grandes propriedades.

 

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Conheça MAIS sobre Pedro Casaldáliga e seu trabalho na Amazônia.

Feito desde o Araguaia e desde Barcelona!

O latifúndio continúa no coração

O latifúndio continuava presente no coração das preocupações do Pedro, 50 anos depois de sua chegada ao Brasil.

Pedro teve sempre essa reflexão profunda de entender que as mudanças estruturais não aconteceriam só por uma vitória mais à esquerda nas eleições. As maiores mudanças precisariam vir da consciência e organização do povo. E a vida pastoral para o Pedro passava fortemente por contribuir na organização do povo na sua luta por direitos, nessa região do Mato Grosso que escolheu viver.

De fato, Casaldàliga e a sua Prelazia tem contribuído decisivamente para a organização de muitas pessoas que lutam pelos direitos econômicos, sociais, políticos e ambientais em todo o Brasil.

Mas toda essa história de muita profundidade de reflexões e ação política foi tratada por apoiadores do presidente eleito em São Félix do Araguaia e região, como um “bispo petista” nessas eleições presidenciais despolitizadas e manipuladas de 2018. Um bispo petista que ainda precisa ser combatido.

Pere Casaldàliga celebrant missa a l'Araguaia

Pedro Casaldáliga celebrando missa em uma das comunidades de sua Prelazia.

Como está o Bispo Pedro

E o bispo Pedro, como é chamado na cidade, continua aqui. O forte avanço do “Irmão Parkison” com quem ele convive há cerca de 20 anos deixa fortes marcas. Os 92 anos também. A sua mobilidade é muito limitada e tem cuidados 24 horas.

Não pode mais se expressar com palavras ou escritos, que sempre foram muito marcantes. E isso certamente é um grande sofrimento para ele. Mas Pedro se comunica de outras formas, com gestos, olhares, apertos fortes nas nossas mãos, e nos dá a benção com os gestos das mãos dele.

A gente sabe que ele está ali, que é o Pedro, e que ele nos sente perto.

E a casa dele continua também sendo um refúgio para os Karajá de passada por São Félix, vindos de alguma das várias aldeias que existem na Ilha do Bananal, do outro lado do Rio Araguaia. Sabem que ali vão ter um copo de água fresca, vão ter um lugar para descansar das andanças pela cidade. E sabem que sempre será dado um prato de comida na hora do almoço.

O bispo Pedro está sempre acompanhado e, agora, o povo que ele cuidou por mais de 50 anos, cuida dele.

 

Pere Casaldàliga

A epígrafe

Na epígrafe está apenas a primeira parte do poema “Cemitério do Sertão”. Mas Pedro continua:

«Mas para viver
eu já quero ter
a parte que me cabe
no latifúndio seu:
que a terra não é sua
seu doutor Ninguém!
A terra é de todos
porque é de Deus!»

A luta do Pedro e sua Igreja comprometida sempre foi pela justiça e pela vida.

Pedro é luta. Pedro é inspiração. Pedro é exemplo. E a doença e a velhice de Pedro não devem ser entendidas apenas como um sofrimento. Deve nos provocar uma “profunda reflexão do significado de 90 anos de vida dedicados à resistência contra o capital e a defesa dos pobres”, palavras da professora e lutadora mineira Maria José Silva.

E que possamos, todos e todas nós, nos inspirar em Dom Pedro Casaldáliga para os tempos difíceis que nosso país atravessa e atravessará.

Que a esperança ativa e indignada nos guie!

Maria Júlia Gomes Andrade. Antropóloga e coordenadora do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM).

Atualizado e adaptado por: Associação ANSA, São Félix do Araguaia, MT.

Texto originalmente publicado no site Brasil de Fato.

Actualitzado no 25 de julho de 2020.

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Como se contrói uma comunidade “de cavalo”

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Chegar até uma região marcada pela desigualdade e a violência mudou a vida de Pedro Casaldáliga e Manuel Luzón. Os dois, da Congregação dos claretianos, assumiram a “missão” de colocar no mapa uma terra “esquecida”. Hoje a região de Araguaia é um símbolo mundial de luta e coerência. Foi assim que eles começaram.

20 de junho de 2020

A vida de Pedro Casaldáliga

Diário de Casaldáliga:

«O trabalho está sendo mais intenso nestes dias. A tensão, a preocupação, o esforço para esclarecer, semear, conscientizar, evangelizar tem sido difícil … mas as alegrias também são muitas.

Ontem mesmo tivemos uma reunião com o “Conselho da vizinhança” – que sugerimos como uma autoridade popular -: quatro rapazes muito bons, de verdade. O povo votou maravilhosamente bem e com maturidade. Ontem também nos encontramos com os responsáveis da Oração da Comunidade Dominical – dois homens casados, uma mulher casada e uma menina; mais duas mulheres que cuidam da limpeza, da luz, das flores …

Primera Assemblea Pastoral. Pere Casaldàliga

As “campanhas missionárias” eram visitas periódicas a cada uma das comunidades da Prelatura de Casaldáliga (que tem o tamanho do estado de Alagoas). Sempre a cavalo, esse trabalho se fazia durante meses.

As famílias, em mutirão, estão terminando de construir sua igreja – “Casa do povo de Deus” -, todas feitas de material artesanal, madeira, barro, troncos de palmeira … e com as ferramentas do seu serviço, de sua vida, presidindo o culto: uma enxada, um facão, … um pilão para pisar o arroz… […]

As “campanhas missionárias” são uma experiência rica e impressionante. Válidas, realmente. Um novo entendimento com as pessoas e seus problemas e esperanças . Uma evangelização simples, direta e “total”. Um bom princípio da comunidade cristã …Será a partir das campanhas que iremos começar a concretizar, cultivar, nos comprometer, construir a verdadeira comunidade (8-6-71).

Poderia contar muitas experiências desta primeira campanha missionária … Estamos em plena tensão social-evangélica: tudo é o mesmo. Deus fez o homem feliz e santo. Um filho de Deus é sempre um príncipe, o próprio Cristo. Eu amo cada uma dessas criaturas sertanejas!

No domingo, batizei 73 novos cristãos: alguns adultos. Tínhamos preparação para pais e padrinhos. No próximo domingo, a Primeira Eucaristia será celebrada por cerca de 60 meninos e meninas, a grande maioria dos quais já está grandinho. No dia 26, o povo votará em seu “Conselho de Vizinhança”: um tipo de autoridade popular que inventamos para promover a união e o progresso desses “patrimônios” [comunidades isoladas em formação].

Pere Casaldàliga visitant les comunitats de la seva Prelatura

Estar no meio do povo, dividindo alegria e tristezas; derrotas e vitórias, como mais um, tem sido uma característica marcante da Prelazia de Casaldáliga: até hoje, no Araguaia, todo mundo o chama de “Pedro”.

Estamos celebrando uma liturgia muito animada, muito próxima e muito clara.

E partilhando estes mil momentos, nos tornamos cada vez mais povo.

Estou andando muito de cavalo: ontem fizemos cerca de 20 quilômetros para fazer um casamento: a noiva está esperando seu terceiro filho e não pôde vir até tão longe; e o marido veio me procurar: ele me trouxe uma mula digna de um bispo da Idade Média … Esses encontros são fabulosos: se cria um clima de amizade apostólica, muitos dos que estavam distantes se aproximam de Deus, a consciência e a dignidade humana são estimuladas, os direitos dos pobres defendidos, uma comunidade, uma Igreja …

No início de julho, visitarei “a nossa” comunidade de Serra Nova – o maior conflito –. Decidimos iniciar a segunda Campanha Missionária lá, no dia 6 de agosto. Os fazendeiros estão nervosos e as pessoas precisam de um “aconchego”, muito clerical, talvez, mas é o único que lhes podemos oferecer, infelizmente pelas estruturas … Orem pela segunda Campanha. É um plano apostólico que precisa de muitas ajudas.

A terra continua sendo uma obsessão quente e vital: uma meta da Redenção. Cristo fez uma redenção total … Alguns dias atrás, andando de tropa, um dos camponeses que me acompanhava me disse: «Digo às pessoas que vale a pena ouvir vocês; que vocês falam as coisas que ninguém tinha ousado dizer; que vocês falam sobre assuntos que nos afetam… »

E continuamos conversando, sertão afora, sobre a “nova Igreja” que o Espírito está cultivando acima dos tradicionalistas e progressistas e curialistas subterrâneos.»

Pedro Casaldáliga, 23 de junho de 1971.

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Conheça a poesia de Pedro Casaldáliga: “Não são apenas poemas estéticos, mas místicos, como os de João da Cruz, que nos abrem para o Mistério final. A um Você com quem ele estabelece uma relação que não é meramente individual e religiosa, mas histórica.” (Víctor Codina)

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Casaldáliga e a sua equipe são conhecidos e respeitados pelo seu compromisso radical com os pobres e pela sua posição abertamente contra os poderosos. Talvez a experiência dele possa nos servir de guia ou inspiração.

Este é um trecho do documento que publicou em todo o Brasil no dia da sua consagração episcopal, no momento em que a perseguição à sua igreja estava mais forte e quando os mortos pelo latifúndio somavam dezenas.

26 de junho de 2020

A vida de Pedro Casaldáliga

Nós – bispo, padres, irmãs, leigos engajados – estamos aqui, entre o Araguaia e o Xingu, neste mundo, real e concreto, marginalizado e acusador, que acabo de apresentar sumariamente. E somos aqui a Igreja “visível” e “reconhecida”.

Ou possibilitamos a encarnação salvadora de Cristo neste meio, ao qual fomos enviados, ou negamos nossa Fé, nos envergonhamos do Evangelho e traímos os direitos e a esperança agônica de um povo de gente que é também povo de Deus: os sertanejos, os posseiros, os peões; este pedaço brasileiro da Amazônia.

Porque estamos aqui, aqui devemos comprometer-nos. Claramente. Até o fim. (Somente há uma prova sincera, definitiva, do amor, segundo a palavra e o exemplo do Cristo). Eu, como bispo, nesta hora de minha sagração recebo como dirigidas a mim as palavras de Paulo a Timóteo: “Não te envergonhes do testemunho de Nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro, mas sofre comigo pelo Evangelho, fortificado pelo poder de Deus” (II Tim 1,8).

Não queremos bancar os heróis, nem os originais. Nem pretendemos dar lição a ninguém. Pedimos só a compreensão comprometida dos que compartilham conosco uma mesma Esperança.

Olhamos com bastante amor a terra e os homens da Prelazia. Nada dessa terra ou desses homens nos é indiferente. Denunciamos fatos vividos e documentados. Quem achar infantil, distorcida, imprudente, agressiva, dramatizante, publicitária, a nossa atitude, entre na sua consciência e leia com simplicidade o Evangelho; e venha morar aqui, neste sertão, três anos, com um mínimo de sensibilidade humana e de responsabilidade pastoral.

Pere Casaldàliga a casa seva a São Félix do Araguaia

O Vaticano II, Medellín, o Sínodo; a voz das Conferências Episcopais do Terceiro Mundo; o Evangelho – antes e sempre -, não só coonestam como também reclamam essa ação abertamente comprometida. Já passou a hora das palavras (não certamente a hora da palavra), das conivências e das esperas conciliadoras. (Será que alguma vez foi essa hora?). “Quem não está comigo, está contra mim; quem não recolhe comigo, espalha” (Lc 11, 23). “Não basta refletir, obter maior clareza e falar. É preciso agir. Esta não deixou de ser a hora da palavra, mas tornou-se, com dramática urgência, a hora da ação.” (Medellín, introdução).

Queremos e devemos apoiar o nosso povo, pôr-nos ao seu lado, sofrer com ele e com ele agir. Apelamos à sua dignidade de filho de Deus e ao seu poder de teimosia e de Esperança.

Chamamos angustiosamente a toda a Igreja do Brasil, à qual pertencemos. Pedimos, exigimos fraternalmente, sua decisão, e a corresponsabilidade plena na oração, no testemunho, no compromisso, na colaboração de agentes e meios pastoral. (Na mente de quase todos os que ainda lutam desinteressadamente, somente a Igreja parece ter uma possibilidade decisiva nesta hora). Da CNBB – na qual agora mais confiamos – pedimos o cumprimento, pronto e eficaz, de um programa decididamente realista no compromisso que ela publicamente assumiu sobre a Amazônia, com caráter de prioridade.

Trecho do documento “Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social”, de 1971.

 

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