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“Hoje não tenho mais esses sonhos” [Circular fraterna de Pedro Casaldáliga]

“Hoje não tenho mais esses sonhos” [Circular fraterna de Pedro Casaldáliga]

O cardeal Carlo M. Martini, jesuíta, biblista, arcebispo que foi de Milan e colega meu de Parkinson, é um eclesiástico de diálogo, de acolhida, de renovação a fundo, tanto na Igreja como na Sociedade. Em seu livro de confidências e confissões Colóquios noturnos em Jerusalém, declara:

«Antes eu tinha sonhos acerca da Igreja. Sonhava com uma Igreja que percorre seu caminho na pobreza e na humildade, que não depende dos poderes deste mundo; na qual se extirpasse pela raiz a desconfiança; que desse espaço às pessoas que pensem com mais amplidão; que desse ânimos, especialmente, àqueles que se sentem pequenos o pecadores. Sonhava com uma Igreja jovem. Hoje não tenho mais esses sonhos».

Esta afirmação categórica de Martini não é, não pode ser, uma declaração de fracasso, de decepção eclesial, de renúncia à utopia. Martini continua sonhando nada menos que com o Reino, que é a utopia das utopias, um sonho do próprio Deus.

Ele e milhões de pessoas na Igreja sonhamos com a «outra Igreja possível», ao serviço do «outro Mundo possível». E o cardeal Martini é uma boa testemunha e um bom guia nesse caminho alternativo; o tem demonstrado.

Tanto na Igreja (na Igreja de Jesus que são várias Igrejas) como na Sociedade (que são vários povos, várias culturas, vários processos históricos) hoje mais do que nunca devemos radicalizar na procura da justiça e da paz, da dignidade humana e da igualdade na alteridade, do verdadeiro progresso dentro da ecologia profunda. E, como diz Bobbio, «é preciso instalar a liberdade no coração mesmo da igualdade»; hoje com uma visão e uma ação estritamente mundiais. É a outra globalização, a que reivindicam nossos pensadores, nossos militantes, nossos mártires, nossos famintos…

Não há modo de servir simultaneamente ao deus dos bancos e ao Deus da Vida, conjugar a prepotência e a usura com a convivência fraterna.

A grande crise econômica atual é uma crise global de Humanidade que não se resolverá com nenhum tipo de capitalismo, porque não é possível um capitalismo humano; o capitalismo continua a ser homicida, ecocida, suicida. Não há modo de servir simultaneamente ao deus dos bancos e ao Deus da Vida, conjugar a prepotência e a usura com a convivência fraterna. A questão axial é: Trata-se de salvar o Sistema ou se trata de salvar à Humanidade? A grandes crises, grandes oportunidades. No idioma chinês a palavra crise se desdobra em dois sentidos: crise como perigo, crise como oportunidade.

Na campanha eleitoral dos EUA se arvorou repetidamente «o sonho de Luther King», querendo atualizar esse sonho; e, por ocasião dos 50 anos da convocatória do Vaticano II, tem-se recordado, com saudade, o Pacto das Catacumbas da Igreja serva e pobre. No dia 16 de novembro de 1965, poucos dias antes da clausura do Concílio, 40 Padres Conciliares celebraram a Eucaristia nas catacumbas romanas de Domitila, e firmaram o Pacto das Catacumbas. Dom Hélder Câmara, cujo centenário de nascimento estamos celebrando neste ano, era um dos principais animadores do grupo profético. O Pacto em seus 13 pontos insiste na pobreza evangélica da Igreja, sem títulos honoríficos, sem privilégios e sem ostentações mundanas; insiste na colegialidade e na corresponsabilidade da Igreja como Povo de Deus e na abertura ao mundo e na acolhida fraterna.

Hoje, nós, na convulsa conjuntura atual, professamos a vigência de muitos sonhos, sociais, políticos, eclesiais, aos quais de jeito nenhum podemos renunciar. Seguimos rechaçando o capitalismo neoliberal, o neoimperialismo do dinheiro e das armas, uma economia de mercado e de consumismo que sepulta na pobreza e na fome a uma grande maioria da Humanidade. E seguiremos rechaçando toda discriminação por motivos de gênero, de cultura, de raça.

Hoje, nós, na convulsa conjuntura atual, professamos a vigência de muitos sonhos, sociais, políticos, eclesiais, aos quais de jeito nenhum podemos renunciar. Seguimos rechaçando o capitalismo neoliberal, o neoimperialismo do dinheiro e das armas, uma economia de mercado e de consumismo que sepulta na pobreza e na fome a uma grande maioria da Humanidade. E seguiremos rechaçando toda discriminação por motivos de gênero, de cultura, de raça. Exigimos a transformação substancial dos organismos mundiais (a ONU, o FMI, o Banco Mundial, a OMC…). Comprometemo-nos a vivermos uma «ecologia profunda e integral», propiciando uma política agrária agrícola alternativa à política depredadora do latifúndio, da monocultura, do agrotóxico. Participaremos nas transformações sociais, políticas e econômicas, para uma democracia de «alta intensidade».

A Igreja se comprometerá, sem medo, sem evasões, com as grandes causas de justiça e da paz, dos direitos humanos e da igualdade reconhecida de todos os povos. Será profecia de anuncio, de denúncia, de consolação. A política vivida por todos os cristãos e cristãs será aquela «expressão mais alta do amor fraterno» (Pio XI).

Como Igreja queremos viver, à luz do Evangelho, a paixão obsessiva de Jesus, o Reino. Queremos ser Igreja da opção pelos pobres, comunidade ecumênica e macroecumênica também. O Deus em quem acreditamos, o Abbá de Jesus, não pode ser de jeito nenhum causa de fundamentalismos, de exclusões, de inclusões absorventes, de orgulho proselitista. Chega de fazermos do nosso Deus o único Deus verdadeiro. «Meu Deus, me deixa ver a Deus?». Com todo respeito pela opinião do Papa Bento XVI, o diálogo interreligioso não somente é possível, é necessário. Faremos da corresponsabilidade eclesial a expressão legítima de uma fé adulta. Exigiremos, corrigindo séculos de discriminação, a plena igualdade da mulher na vida e nos ministérios da Igreja.

Estimularemos a liberdade e o serviço reconhecido de nossos teólogos e teólogas. A Igreja será uma rede de comunidades orantes, servidoras, proféticas, testemunhas da Boa Nova: uma Boa Nova de vida, de liberdade, de comunhão feliz. Uma Boa Nova de misericórdia, de acolhida, de perdão, de ternura, samaritana à beira de todos os caminhos da Humanidade. Seguiremos fazendo que se viva na prática eclesial a advertência de Jesus: «Não será assim entre vocês» (Mt 21,26). Seja a autoridade serviço. O Vaticano deixará de ser Estado e o Papa não será mais chefe de Estado. A Cúria terá de ser profundamente reformada e as Igrejas locais cultivarão a inculturação do Evangelho e a ministerialidade compartilhada. A Igreja se comprometerá, sem medo, sem evasões, com as grandes causas de justiça e da paz, dos direitos humanos e da igualdade reconhecida de todos os povos. Será profecia de anuncio, de denúncia, de consolação. A política vivida por todos os cristãos e cristãs será aquela «expressão mais alta do amor fraterno» (Pio XI).

Nós nos negamos a renunciar a estes sonhos mesmo quando possam parecer quimera. «Ainda cantamos, ainda sonhamos». Nós nos atemos à palavra de Jesus: «Fogo vim trazer à Terra; e que mais posso querer senão que arda» (Lc 12,49). Com humildade e coragem, no seguimento de Jesus, tentaremos viver estes sonhos no dia a dia de nossas vidas. Seguirá havendo crises e a Humanidade, com suas religiões e suas Igrejas, seguirá sendo santa e pecadora. Mas não faltarão as campanhas universais de solidariedade, os Foros Sociais, as Vias Campesinas, os movimentos populares, as conquistas dos Sem Terra, os pactos ecológicos, os caminhos alternativos da Nossa América, as Comunidades Eclesiais de Base, os processos de reconciliação entre o Shalom e o Salam, as vitórias indígenas e afro e, em todo o caso, mais uma vez e sempre, «eu me atenho ao dito: a Esperança».

Cada um e cada uma a quem possa chegar esta circular fraterna, em comunhão de fé religiosa ou de paixão humana, receba um abraço do tamanho destes sonhos. Os velhos ainda temos visões, diz a Bíblia (Jl 3,1). Li nestes dias esta definição: «A velhice é uma espécie de postguerra»; não precisamente de claudicação. O Parkinson é apenas um percalço do caminho e seguimos Reino adentro.

Pedro Casaldáliga
Circular 2009

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Desse jeito foi a ordenação episcopal de Casaldáliga

Desse jeito foi a ordenação episcopal de Casaldáliga

O Pedro nunca quis ser bispo. Nunca gostou da ideia de fazer parte da ierarquia da igreja. Por isso, a primeira reação dele ao receber a comunicação de sua nomeação episcopal foi dizer “não”. Porque aceitou?

Fazia apenas 3 anos que tinha chegado ao povoado de São Félix do Araguaia, onde aos poucos, estava construindo uma comunidade eclesial fixa. Uma “missão” na Amazônia, ao nordeste do Mato Grosso, na divisa com o Pará e o Tocantins.

Casaldáliga chegou no Araguaia em julho de 1968, acompanhado de Manuel Luzón, os dois da Congregação dos Claretianos. Após uma breve passagem por São Paulo, chegaram na Amazônia depois de uma semana de caminhão.

A tarefa principal de estruturar uma igreja estável na região deparou-se rápidamente com a realidade: uma região de migrantes, vindos de muitas partes do Brasil atraídos pelas “políticas de colonização da Amazônia”.

 

Arribada de Casaldàliga i Manuel Luzón a São Félix do Araguaia

Aquesta és la primera fotografia que tenim de l’arribada de Casaldàliga i del seu company claretià Manuel Luzón a la regió de l’Araguaia el 1968.

 

Situada a mais de 1.200Km da capital do Estado, Cuiabá, a escassa presença do Estado condenava seus habitantes a ausência de qualquer serviço de saúde ou educacional. A estrutura fundiária, caracterizada pelas fazendas que chegaram a ter o tamanho de estados determinava uma sociedade rasgada no meio: de um lado, os grandes latifundiários, seus capatazes e seus “capangas”. Do outro, como explicava o próprio Pedro Casaldáliga:

 

«Camponeses nordestinos, vindos diretamente do Maranhão, do Pará, do Ceará, do Piauí…, ou passando por Goiás. Desbravadores da região, “posseiros”. Povo simples e duro, retirante como por destino numa forçada e desorientada migração anterior, com a rede de dormir nas costas, os muitos filhos, algum cavalo magro, e os quatro “trens” de cozinha carregados numa sacola».

Pedro Casaldáliga

 

Pere Casaldàliga a una comunitat indígena de l'Araguaia

La parella Luiz Gouveia i Eunice Dias de Paula van ser uns dels primers a arribar el 1973. Van viure amb els indígenes de Tapirapé i encara avui hi viuen. Han fet de professors bilingües al poblat indígena, ajudant en la formació dels professors indígenes i, per això, són en molta part responsables del fet que la llengua Tapirapé encara existeixi.

 

Chegamos a um mundo sem volta. A Missão possuía 150.000 quilômetros quadrados de rios e sertões e florestas, ao noroeste do Mato Grosso, dentro da Amazônia denominada “legal”, entre os rios Araguaia e Xingu, incluindo também a Ilha do Bananal, a maior ilha fluvial do mundo.

Sem outra “base” eclesiástica que a nossa casa, de 4×8, às margens do Araguaia, maravilhoso e turbo, sem saber por onde começar, sem saber quem habitava a região, onde as distâncias de todas as espécies justificavam todas as indecisões.

A única estrada que existia ainda estava se abrindo, vermelha e empoeirada, na selva e nos campos abertos que acabamos de atravessar, e a “onça” materialmente concreta tinha todo o direito de cortar a estrada em frente ao caminhão.

Havia apenas um médico na área, não havia correio, eletricidade, telefone, telégrafo, havia 3 jipes antigos por todo São Felix e eram os únicos carros no local.

Pedro Casaldáliga

 

Pedro faz o compromisso radical

 

Em pouco tempo, a problemática da terra, a pobreza e a violência contra peões e posseiros impactaram Casaldáliga e a sua equipe. Nos primeiros anos, enterraram centenares de trabalhadores rurais “muitas vezes sem nome” que tentavam sobreviver naquela terra. Foi lá que decidiram se comprometer radicalmente com o povo.

 

Mato Grosso foi, ainda é, um terra sem lei. Alguém o classificou como o «Estado curral» do país. Não encontramos nenhuma infraestrutura administrativa, nenhuma organização trabalhista, nenhuma inspeção. O Direito era a lei do mais forte. O dinheiro e o 38. Nascer, morrer, matar, eram os direitos básicos. Verbos conjugados com incrível facilidade.

Pedro Casaldáliga, 1971

 

A construção de uma igreja organizada e estruturada, começou primeiro com o atendimento das necessidades mais básicas: a saúde e a educação foram a prioridade. Como celebrar missa e administrar os sacramentos sem se comprometer ao mesmo tempo com as necessidades das famílias?

Aos poucos, conseguiram construir uma pequena escola (que, depois, daria luz a um projeto pedagógico que se tornaria referência da educação popular na Amazônia); organizaram um posto de saúde básica; fizeram de enfermeiros e…, nessa ação, se comprometeram a favor dos «posseiros» e se posicionaram contra o latifundio.

Uma igreja que rezava, que celebrava missa e administrava os sacramentos como qualquer outra, mas que se comprometia radicalmente na defesa dos mais pobres: posseiros, peões, ribeirinhos e Povos Indígenas. Nunca houve imposições nem intenção de evangelizar, no sentido antigo, arcaico, colonialista, da palavra.

 

Uma consagração bem diferente

 

Em julho de 1971, Casaldáliga recebeu a carta do Vaticano nomeando-o bispo. A resposta dele, de renuncia taxativa ao cargo, estava escrita e iria ser entregue ao Nuncio. Porém, reunidos a equipe pastoral junto ao Bispo Dom Tomás Balduíno, decidiram que Casaldáliga tinha que aceitar.

Era a única chance de dar voz aos sem voz; de fazer com que a situação nas fazendas fosse conhecida; de chamar a atenção internacional sobre uma problemática que o Brasil escondia. Ser uma “autoridade” da Igreja era a única opção para poder denunciar e não ter tantas represalias. A aceitação era obrigada.

Assim sendo, em decisão conjunta, o dia 23 de outubro, depois de uma tentativa de assassinato que falhou por pouco, Pedro Casaldáliga seria ordenado Bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia.

«Ao ar livre, à beira do rio Araguaia», Pedro foi ordenado por Dom Fernando Gomes dos Santos, Arcebispo de Goiânia, Dom Tomás Balduino, bispo da Diocese de Goiás e Dom Juvenal Roriz, bispo de Rubiataba, GO.

Imatge d’un dels moments de l’ordenació episcopal de Casaldàliga. La celebració va ser a l’aire lliure i va assistir-hi tota la gent de São Félix do Araguaia.

 

Naquela noite de 23 de outubro de 1971, a abóbada celeste, as águas do Araguaia e todos nós que lá estávamos fomos testemunhas de que algo novo acontecia. Um bispo recusava as marcas do poder para mergulhar totalmente na vida do povo.

Antônio Canuto
Agente de Pastoral da Prelazia de São Félix do Araguaia

 

No cartão-lembrança de sua ordenação, Pedro declarava o bispo que seria:

«Tua mitra será um chapéu de palha sertanejo; o sol e o luar; a chuva e o sereno,
o olhar dos pobres com quem caminhas, e o olhar glorioso de Cristo, o Senhor.
Teu báculo será a verdade do Evangelho e a confiança do teu povo em ti.
O teu anel será a fidelidade à Nova Aliança do Deus Libertador e a fidelidade ao povo desta terra.
Não terás outro escudo que força da Esperança e a Liberdade dos filhos de Deus;
nem usarás outras luvas que o serviço do Amor.»

 

Targeta original de record que es lliurà als presents a l’Ordenació Episcopal de Casaldàliga, al riu Araguaia, el 23 d’octubre de 1971

 

A primeira denuncia mundial sobre a situação da Amazônia

 

no mesmo dia de sua sagração episcopal que publicou o documento que é um “um dos mais importantes da história da luta pela terra no Brasil”.

Mais de 80 páginas com dados estatísticos, referências e análises em que se colocava a gravidade da situação da Amazônia. O documento também apontava nomes de empresas e de responsáveis e relatava casos concretos. O documento de Casaldáliga fez que, pela primeira vez, o Brasil soubesse que havia trabalho escravo, exploração e assassinatos por conflitos de terra.

 

Jornais do Brasil relatam o impacto da carta

L’impacte del document de Casaldàliga, ara bisbe, va ressonar a tot Brasil

 

Na noite do dia em que assinei o documento – era noite de «luar» – saí para ver a grande lua, respirar o ar mais frio e me oferecer ao Senhor. Senti então que, com o documento, eu também poderia ter assinado a minha própria pena de morte; pelo menos, acabava de assinar um desafio.

De fato, alguns dias depois começou a chegar o aviso de um dos maiores proprietários de terras e garimpeiros do Brasil, tantas vezes depois repetido por muitos outros proprietários de terras, vozes eclesiásticas, «amigos»: não era para eu entrar nessas questões porque eles poderiam me acusar de subversivo; de fato, a polícia federal estava nos controlando; o vice-delegado de São Félix era um agente; o fazendeiros iriam me processar; etc.

Pedro Casaldáliga

 

Não havia volta atrás: a Prelazia de São Félix do Araguaia e o seu recém consagrado Bispo, optava pelos pobres e se colocava contra o latifúndio. Em cada gesto, em cada palavra e em cada documento.

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Esse é o documento que mudou a Amazônia

Esse é o documento que mudou a Amazônia

No mesmo dia de sua ordenação como bispo, Pedro Casaldáliga publicou um extenso documento denunciando a situação de escravidão em que vivia a maioria dos camponeses da Amazônia. O documento também questionou a hierarquia da igreja e nomeou os opressores…. A repressão logo desceu sobre ele e sua equipe. Logo, porém, esse documento mudaria a história da Amazônia.

 

No mesmo dia em que foi consagrado bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, 23 de outubro de 1971, Pere Casaldàliga publicou a primeira denúncia global sobre a situação da Amazônia.

O documento “Uma Igreja na Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social” se tornaria um documento histórico. Impresso clandestinamente e distribuído na mídia brasileira, o documento significou uma virada na reivindicação e defesa dos povos indígenas, das famílias camponesas, do meio ambiente, da situação das mulheres e da luta pela terra.

Pela primeira vez um bispo manifestava aberta e publicamente a sua posição sobre o que estava acontecendo na Amazônia. Mas, além de dar a sua opinião, ao longo de mais de 80 páginas, Casaldáliga fornecia dados, analisava estatísticas, citava casos concretos e ouvia testemunhas do que estava acontecendo. Finalmente, esse Brasil continental -que vivia de costas para a distante Amazônia conhecia a realidade de exploração e violência que estava sendo imposta naquela região.

Como disse Berta Camprubí em seu artigo Pedro Casaldáliga, 90: Un día en la casa del obispo de los pobres, publicado em El Periódico de Cataluña:

 

Naqueles anos, as terras de Mato Grosso eram dominadas por títulos de terra sobrepostos, herdados principalmente da Lei de Terras de 1850, que distribuía ilegalmente territórios indígenas ancestrais, criando grandes propriedades, algumas com até 7.000 quilômetros quadrados. Eram terras de pistoleiros, de abandono legal e institucional. Ali, a violência era o método pelo qual todos os conflitos eram resolvidos. Casaldáliga enterrou muitos camponeses sem terra e povos indígenas naquela época.

 

Do que tratava concretamente o documento

 

Ao longo de 80 páginas cheias de casos e análises sociológicas que haviam sido realizadas naquela região, o documento pastoral do Bispo Pedro (Carta Pastoral) analisava rigorosamente a situação de escravidão e violência em que viviam os povos e comunidades da Amazônia; denunciava os problemas ambientais que estavam começando a ser percebidos como tais; e, sobretudo, revelava, com nome e sobrenome, os responsáveis pelo genocídio de indígenas e posseiros que os latifundiários estavam realizando com a cumplicidade do governo militar brasileiro.

 

Os primeiros pioneiros na região são os chamados “posseiros”(pessoas que não têm título de propriedade de suas terras). Eles vivem aqui há 5, 10, 15, 20 e alguns até 40 anos. Cultivo com os métodos mais primitivos, plantio de arroz, milho, mandioca. Pura agricultura de subsistência. Criação de gado. Sem cuidados de saúde e higiene, sem proteção legal, sem meios técnicos disponíveis. Eles se reúnem em pequenas aldeias, chamadas “Patrimonios” (que o estado lhes deu como terras virgens – Santa Terezinha, Porto Alegre, Cedrolândia, Pontinópolis) ou dispersas no campo a uma distância de 12 a 20 km umas das outras.
Pedro Casaldáliga, 1971

 

Nos anos 60 e 70, a Amazônia era o vasto território com o qual a ditadura brasileira estava obcecada em “desenvolver“. Era o território “selvagen” desconhecido pela maioria da população. Uma área equivalente à metade de toda a Europa que o governo brasileiro pretendia dividir entre seus amigos e as grandes empresas que apoiavam o regime.

Naquela época, quando quase ninguém falava sobre a causa indígena; quando a preocupação com o meio ambiente não estava na mesa de discussão; e quando a pobreza dos trabalhadores rurais, muitas vezes escravizados, era um assunto distante de qualquer foco da imprensa ou da Igreja, esta Carta-Documento Pastoral de Casaldáliga sacudiu o país, revelando as vergonhas do Brasil e os abusos da ditadura. A repercussão nacional da Carta-Documento foi um ataque direto à propaganda da ditadura. Pela primeira vez, a crueldade da situação econômica, social e ambiental da Amazônia foi internacionalizada.

Qual foi o impacto do documento?

 

O documento teve que ser impresso fora da região do Araguaia e isso foi possível graças, entre outros, à fiel colaboradora de Casaldáliga, a Irmã Irene Franceschini. Com estas palavras Maritxu Ayuso explicava como foi transportado o original da Carta-Documento:

 

Aquela mulher que, no meio da ditadura, levou a primeira carta pastoral de Pedro Casaldáliga como bispo dentro de uma caixa embrulhada em um lenço em um avião militar! Quando lhe perguntaram o que estava carregando, ela respondeu “remédios, algumas roupas, coisas sem importância… se você quiser abrir…”

A carta-documento do bispo Pedro ecoou na maioria dos jornais e publicações no Brasil e provocou uma revolução em meio à repressão militar.

 

Repercussão da Carta-Documento de Casaldáliga na mídia nacional

Jornais do Brasil relatam o impacto da carta

 

Após vários meses de rumores e calúnias, ameaças de prisão, ameaças de morte, “visitas” da polícia e do exército federal, (…) na primeira semana de setembro, o Sr. Ariosto da Riva, pai e mentor dos latifundiários, acompanhado por um padre, apresentou-se ao Núncio no Rio [de Janeiro] para tentar impedir minha consagração [como bispo]…

 

Naquela época, os interesses econômicos e os amigos do regime estavam se repartindo o centro-oeste do país às custas dos povos indígenas e do meio ambiente, e um bispo como Casaldáliga estava perturbando e colocando o foco da mídia sobre a Amazônia. De fato, como afirma o sociólogo José de Souza Martins (1995), “o documento de Casaldáliga é um dos mais importantes da história social do Brasil”.

 

Em sua carta pastoral de 1971, Casaldáliga propõe uma nova maneira de ver a situação da Amazônia [superexploração e falta de direitos dos trabalhadores rurais], faz uma longa e dura denúncia e inicia um trabalho pastoral consistente na Prelazia que começa primeiro pela desnaturalização desta violência e depois pela construção de uma rede de solidariedade entre os trabalhadores migrantes e a igreja local. Lucilene Aparecida Castravechi. XXVII Simpósio Nacional de História. Natal 2013.

 

O impacto da Carta-Documento provocou também a reação da Igreja Católica.De um lado, muitos se colocaram contra a posição de Casaldáliga, mas do outro, aquela denúncia provocou que outros documentos do mesmo caráter começassem a aparecer em diferentes regiões brasileiras. Dos bispos do noroeste veio o texto “Ouvi os gritos do meu povo”, em 1973. No mesmo ano, os bispos e missionários da Amazônia publicaram o documento urgente Y-Juca-Pirama. O índio: aquele que deve morrer”.

Mas foi somente dez anos após a denúncia de Casaldáliga, em 1980, que a CNBB [Conferência Episcopal Brasileira] se expressaria oficialmente sobre a situação que se vivia na Amazônia, publicando o documento intitulado “Igreja e problemas da terra“.

Leia a carta-documento original

 

No link a seguir poderá ler a Carta-Documento original, que se conserva no Arquivo da Prelazia de São Félix do Araguaia: “Uma Igreja da Amazônia me conflito como o latifundio e a marginalização social”.

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LANÇAMENTO: «Ventos de profecia na Amazônia»

LANÇAMENTO: «Ventos de profecia na Amazônia»

Qual é a relevância social, política e eclesial dos 50 anos da Prelazia de São Félix do Araguaia? Como um grupo de religiosos, religiosas e militantes confrontou os “donos de grandes latifúndios e o Estado ditatorial” e as “estruturas da própria Igreja”?

Conheça da mão de Antônio Canuto a organização interna, a ação política, a estrutura pastoral e o trabalho social que fizeram da Prelaiza de São Félix do Araguaia “uma referência obrigatória para a compreensão dos projetos econômicos e dos modelos de sociedade que estavam em disputa na Amazônia; bem como dos projetos eclesiais enfrentados”.

[Contato para venda: (62) 98640-0247]

 

«Desde seu nascedouro a Prelazia de São Félix colocou no centro de suas preocupações os graves crimes contra os povos indígenas, ribeirinhos, posseiros e outras populações tradicionais e a assustadora devastação da Amazônia.

Luta de Davi contra Golias, mas que foi levada adiante nas circunstâncias mais desfavoráveis, tendo contra si o governo militar e seu projeto de ‘ocupação’ e ‘desenvolvimento’ da Amazônia, a ferro e fogo, sem respeito algum ao povo que ali vivia, sem qualquer cuidado com a natureza e a preservação ambiental. O governo financiou a través da Sudam e ‘legalizou’ a ocupação do território pelo latifúndio, a derrubada da floresta e a sua conversão em pastagens.

A Prelazia tinha contra si todo o grande capital nacional e internacional fosse ele comercial, industrial, financeiro. O capital gozou de isenção de impostos, fartos subsídios, financiamentos generosos e todo o apoio militar, jurídico e o que mais necessário fosse para incentivar e depois acobertar seus crimes ambientais e humanos.

Conflictes per terra a l'Araguaia

Quadro da minissérie “Descalço sobre a terra vermelha”, de 2012.

 

A Prelazia também sofreu o ataque sistemático da imprensa escrita, rádio e televisão: jornais e revistas, canais de rádio e televisão, lançaram uma guerra constante de informações distorcidas, calúnias, mentiras e difamações acusando aquela Igreja de ser “contra o progresso” do país e vinculada a interesses estrangeiros que perseguiam a “internacionalização da Amazônia”.
 

A estratégia era que o grito abafado dos expulsos de suas terras, dos indígenas deslocados ou dizimados, atingisse a opinião pública e sensibilizasse o restante da Igreja e da sociedade.

 
Tudo o que aconteceu na Prelazia de São Félix foi um “trailer” do desastre anunciado que se espalharia pela Amazônia nos anos posteriores, com uma diferença notável: na Prelazia houve, desde o início, a denúncia documentada dos excessos sociais e ambientais sofridos e também da resistência corajosa dos pequenos camponeses com o apoio da Igreja local. A estratégia foi que o grito abafado dos expulsos de suas terras, dos indígenas deslocados ou dizimados, atingisse a opinião pública e sensibilizasse o restante da Igreja e da sociedade.

A Prelazia esteve na frente ou ao lado das principais iniciativas contra essa situação ecocida em relação à terra, à água e à mata; etnocida em relação aos indígenas, genocída em relação aos posseiros e ribeirinhos.»
 

“Ventos da Profecia na Amazônia” quer eliminar o risco de perder a memória subversiva do que significou para a Igreja e a sociedade, a profecia da Prelazia de São Félix do Araguaia.

 

Portada de l'edició brasilera: «Ventos de profecia na Amazônia»

Capa do livro «Ventos de profecia na Amazônia»

 

O livro está dividido em 5 partes:

1. Na primeira conheceremos como era a presença da igreja na região do Araguaia e como foram seus primeiros contatos com indígenas, antes da chegada dos missionários claretianos, que assumiram a missão católica.

2. Na segunda parte o livro poderemos ficar por dentro dos detalhes da criação e instalação desta nova Prelazia, da nomeação e ordenação episcopal de Pedro Casaldáliga. Também aprofundaremos no processo de repressão e perseguição sofrido por esta igreja nos primeira década de sua existência, perseguição provinda dos governos militares da ditadura. O livro narra como a atuação desta Igreja com seu bispo incomodavam o Vaticano.

3. Na terceira parte, descobriremos como era a organização interna desta igreja, as equipes pastorais que reuniam bispos, padres, religiosas leigos e leigas todos, homens e mulheres, com direito a voz e voto nas decisões, as assembleias do povo e a avaliação pastoral feita sobre o trabalho desta igreja.

4. Na quarta parte conheceremos as ações pastorais, sociais e políticas da Prelazia: no campo da comunicação com seu boletim mensal Alvorada, no campo da educação popular e indígena; da cultura, da saúde e da militância em prol dos direitos humanos. conheceremos as estratégias seguidas na formação e ação na esfera política e social.

5. A última parte poderemos aprofundar na renúncia por idade de Pedro Casaldáliga, apresentada aos 75 anos, e na angustiada espera pela nomeação de seu sucessor até a chegada, finalmente, do novo bispo em 2005.

O prólogo, de Óscar Beozzo, termina dizendo:

“Parabéns ao seu autor, Antônio Canuto, e meu profundo agradecimento por ter recuperado a história da Prelazia de São Félix do Araguaia, inserido na caminhada da Igreja do Brasil e companheira e parceira de tantas outras Igrejas da Grande Pátria LatinaAmericana, paixão e compromisso de uma vida, de Pedro Casaldáliga.”

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Iª Semana Pedro Casaldáliga

Iª Semana Pedro Casaldáliga

[Programação dos eventos destacados no final da página]

No dia 8 de agosto de 2021 se completa um ano da morte de Pedro Casaldáliga. Seu corpo descansa agora no Cemitério Karajá, em São Félix do Araguaia, onde ele próprio enterrou “centenas de trabalhadores braçais e indígenas, muitas vezes sem nome e quase sempre sem caixão”.

Pedro, porém, sempre dizia que “vamos de vivos a ressuscitados” e por isso temos a certeza de que ele agora vive em cada um e uma de nós e em cada uma das causas, das lutas, às quais dedicou a sua vida.

Nascido em Balsareny, na Catalunha, em 1928, Pedro Casaldáliga ou Pere Casaldàliga em catalão, ingressou na Congregação dos Claretianos muito jovem e, poucos anos depois de ser ordenado sacerdote no Castelo de Monjuïc em Barcelona, ​​já com 40 anos, partiu para a Amazônia brasileira para fundar uma “missão” claretiana.

À beira do Rio Araguaia, na enorme área que do Mato Grosso que faz divisa com o Tocantins e o Pará, Pedro encontrou uma região “esquecida” onde a única lei era “a lei de 38”. Os grandes latifundiários, apoiados pelo governo militar, tinham criado um ‘estado’ baseado na violência, na escravidão e na repressão aos povos indígenas e aos pequenos camponeses. A falta de saúde, de educação, de judiciário ou qualquer estrutura pública desencadeou uma série de conflitos por causa da terra que deixaram centenas de mortos, feridos e refugiados.

Conflictes per terra a l'Araguaia

Fotograma da minisérie ‘Descalço sobre a Terra Vermelha’ lançada em 2014.

 

Casaldáliga ficou do lado dos sem-terra e dos povos indígenas e tornou públicas várias denúncias sobre a situação de exploração na Amazônia, que abalaram o Brasil: perseguição, prisão e tortura logo caíram sobre Casaldáliga e seus colaboradores. Os setores conservadores da igreja católica também conspiraram contra aquela recém criada Prelazia de São Félix do Araguaia, a mais de 1.200 quilômetros ao norte de Brasília.

O legado de Pedro Casaldáliga é universal. Suas lutas são agora assumidas por muitos, muitas. É um guia e um farol para esses tempos.

Casaldáliga sempre foi fiel aos seus ideais, foi coerente com o seu pensamento até ao fim. Além disso, impulsionou e criou diversos movimentos sociais no Brasil, que hoje são referência na luta em favor dos trabalhadores rurais e dos Povos Indígenas. Conseguiu fazer com que na região de sua Prelazia mais de 14.000 famílias tenham hoje um pedaço de terra para morar e graças a ele, entre outros, hoje o combate ao trabalho escravo e os direitos trabalhistas são políticas públicas consolidadas. Casaldáliga criou uma igreja-comunidade participativa, aberta e plural, onde as decisões eram tomadas em assembleia. Além disso, sua influência, visão e perseverança foi essencial para que a CNBB se posicionasse inúmeras vezes contra a exploração do grande capital.

Por isso, no primeiro aniversário da sua Páscoa, a cidadezinha onde nasceu, Balsareny, no interior da Catalunha, e a cidade à qual dedicou metade da sua vida, São Félix do Araguaia, vão acolher várias celebrações com um lema comum: A esperança e a luta pela libertação.

No Brasil, destacamos:

RODAS DE CONVERSA ON-LINE

02/8 – Pedro e a Educação – Carlos Brandão e Mirian Fabia
03/8 – Pedro e a Terra – Dom Ionilton e João Pedro Stédile
04/8 – Pedro e os Povos Indígenas – Lala e Giba
05/8 – Pedro e as Relações de Gênero – Ivone Gebara e Rezende Bruno
06/8 – Pedro e a Democracia Chico Whitaker e Pedrinho de Oliveira

Todos os dias às 19h, no canal de YouTube da Irmandade dos Mártires da Caminhada.

 
CELEBRAÇÕES EM SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA

Do dia 06/8 ao dia 15/8 | 19:00h – Santa Missa | Festejos da Padroeira Nossa Senhora da Assunção
08/8 | 20:30h – Oficio Divino das Comunidades | Visita ao túmulo | Abertura da Exposição “Memórias”
10/8 | 20:30h – Lançamento do livro do Centro de Direitos Humanos Dom Pedro
12/8 | 20:30h – Lançamento do livro «Ventos de profecia na Amazônia: os 50 anos da Prelazia de São Félix do Araguaia»
15/8 | 19:00h – Missa da padroeira Nossa Senhora da Assunção, no cais da cidade.

Lives e mais informações no Facebook da Paróquia Nossa Senhora da Assunção de São Félix.

 
PROGRAMAÇÃO DAS CEBs

08/08 | 15:00h – Um ano da Páscoa de Pedro
CEBs São João Batista – Rua Padre Manoel Campelo, 88 – Vila Perus – São Paulo (SP)
08/08 | 09:00h –  Um ano da Páscoa de Pedro
CEBs Sorocaba – Praça Alexandre Vannuchi Leme – Sorocaba (SP)

 
E na Espanha terá:

08/08 | 19:30h –  Celebração Pascal e atividades culturais no Castelo de Balsareny.
08/08 | 22:00h – Noite temática sobre Pedro Casaldáliga na TV Catalunha (Canal 33).

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COVID-19 em São Félix do Araguaia: Resiliência é o que move ações de enfrentamento nas comunidades locais

COVID-19 em São Félix do Araguaia: Resiliência é o que move ações de enfrentamento nas comunidades locais

Em São Félix do Araguaia, MT, comunidades rurais vêm realizando ações de enfrentamento à covid-19 em meio à grande tragédia humanitária causada pela pandemia que assola o mundo. Para esses homens e mulheres, trabalhar no cultivo da terra, significa também o manejo dos afetos de quem planta e faz germinar esperança de dias melhores, com a certeza de que se pode diminuir a dor de perdas e tristezas causadas pela doença.

A receita é o fortalecimento da convivência familiar, a valorização da presença e da saúde das pessoas queridas, de boas comidas, do tempo para as orações que nos ligam ao divino e às atividades que produzem abundância e geração de renda com a venda de excedentes dos quintais e hortas familiares.

 

Família Alderice Silva de Sousa

Família Alderice Silva de Sousa, Casulo Vida Nova – Foto de Lucas Pimentel.

 

Num trabalho com estas famílias, a Associação de Educação e Assistência Social Nossa Senhora da Assunção (ANSA) e a Organização Ecosocial do Araguaia (OECA), em conjunto com as organizações solidárias Manos Unidas, MISEREOR, a Fundação Pedro Casaldáliga e outros parceiros, vêm apoiando a realização de atividades produtivas com vistas à segurança alimentar, por meio do plantio de hortas e sistemas agroflorestais como o casadão, que fazem parte de um ciclo virtuoso de geração de renda.

Entre outras cadeias produtivas estão a coleta de sementes florestais que são vendidas à Rede de Sementes do Xingu para recuperação de áreas degradadas e a Araguaia Polpa de Frutas com o beneficiamento de frutas que são colhidas em períodos sazonais na natureza e coletadas de plantios nos quintais produtivos em vários assentamentos da região.

 

Sandra Brito de Moraes

Sandra Brito de Moraes – Foto de Lucas Pimentel.

 

Atualmente trinta e uma famílias estão sendo atendidas nas ações de assistência Social desenvolvidas pela ANSA e OECA por meio do plantio de pequenas hortas e concessão de crédito solidário.

 

Estas são iniciativas com a marca de protagonismo das mulheres, que demandaram da ANSA, OECA e os outros parceiros, trazendo a necessidade de ações para incrementar a alimentação das famílias em situação de vulnerabilidade que se intensificou com a chegada da pandemia.

Atualmente trinta e uma famílias estão sendo atendidas nas ações de assistência Social desenvolvidas pela ANSA e OECA por meio do plantio de pequenas hortas e concessão de crédito solidário para apoiar outras iniciativas de geração de renda nas comunidades. Logo serão mais vinte e oito famílias, residentes no P.A. Dom Pedro, P.A. Mãe Maria, P.A. Casulo Vida Nova, P.A. Casulo Boa Esperança, PDS Bordolândia, P.A. Zeca da Doca e P.A. Patizal.

As atividades de plantios são desenvolvidas pelos núcleos familiares, em etapas planejadas coletivamente para a escolha e limpeza do local e depois de tudo pronto e cercado, vem o plantio para o cultivo de um cardápio variado de verduras como alface, rúcula, tomate, couve, coentro, cebolinhas, berinjela, quiabo, jiló e muitas outras variedades sem o uso de venenos.

 

Família Alderice Silva de Sousa

Família Alderice Silva de Sousa, Casulo Vida Nova – Foto de Lucas Pimentel.

 

Com isso, o tema de cuidados com a saúde está presente de maneira ampliada nas famílias, que estão colocando em prática os princípios fundamentais para vencer a COVID-19, com uma boa alimentação, o cultivo de boas relações familiares e os protocolos de distanciamento social que são necessários para a proteção da vida e cuidados com o próximo. Com o aumento de casos de COVID-19 nas comunidades, esses cuidados têm se intensificado cada vez mais para evitar a disseminação do vírus.

 

Na prevenção contra a covid-19, foram distribuídos Kits covid no P. A Dom Pedro, em Pontinopolis, no Casulo Vida Nova, no Casulo Boa esperança. Os Kits continham produtos de higiene como mascarás descartáveis, álcool em gel, sabão em barra e sabão em pó, considerando as regiões de maior incidência da COVID-19.

 

Na prevenção contra a covid-19, foram distribuídos Kits covid no P. A Dom Pedro, em Pontinopolis, no Casulo Vida Nova, no Casulo Boa esperança e também por meio do Sindicato Trabalhadores Rurais do Município de Alto Boa Vista. Os Kits continham produtos de higiene como mascarás descartáveis, álcool em gel, sabão em barra e sabão em pó, considerando as regiões de maior incidência da COVID-19. Esta foi uma ação conjunta da ANSA, Articulação Xingu Araguaia (AXA) e OECA.

 

Desde o início da pandemia que iniciou em março de 2020, mais de 200 cestas básicas foram distribuídas para famílias em situação de vulnerabilidade social e a confecção de máscaras que foram amplamente distribuídas na região.

 

Mais de 200 famílias receberam cestas com produtos de alimentação básica

Mais de 200 famílias receberam cestas com produtos de alimentação básica

 

Para continuar a luta e vencermos o coronavírus, a Agente de Saúde comunitária, no Trevo do Macaco, PA Dom Pedro em São Félix do Araguaia, Rosilene Alves da Silva, lamenta que algumas pessoas, embora sejam uma minoria, apesar de tantas mortes causadas pela doença, continuam se negando a seguir as orientações dos agentes de saúde para adotarem os cuidados preventivos como o isolamento social, o uso de máscaras e a realização de procedimentos rigorosos de higienização que podem salvar vidas.

 

Até o final de junho, a COVID19 já levou a 34 óbitos somente no município de São Felix do Araguaia e provocou mais de 500.000 em todo o país.

 

Rosilene ressalta a importância da vacina e diz que o coronavírus veio para ficar.Para ela, todo esse cuidado é uma expressão de amor ao próximo, evitando que pessoas queridas tenham que se despedir de nós, em decorrência do agravamento da doença, que até o final de junho já levou a 34 óbitos somente no município de São Felix do Araguaia e provocou mais de 500.000 em todo o país.

Enquanto as vacinas não chegam para todos, somente a responsabilidade social e de amor ao próximo podem nos salvar de perder tantas vidas e cada um de nós podemos fazer a diferença, nos conscientizando da importância dos cuidados preventivos não farmacológicos como o uso de máscaras, o distanciamento social e a higienização cuidadosa toda vez que for necessário ir a locais com grande circulação de pessoas como ocorre em bancos e supermercados.

Vamos nos dar às mãos e continuar com a força da agricultura familiar no plantio de boas sementes, das boas práticas e sendo conscientes para dizer não ao coronavírus.

Para se atualizar sobre os casos de covid 19 e calendário de vacinação do município e do Brasil, com dados oficiais acesse: AQUI.

 

Por Liebe Lima | Ana Lúcia Souza Silva

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