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Desse jeito foi a ordenação episcopal de Casaldáliga

Desse jeito foi a ordenação episcopal de Casaldáliga

O Pedro nunca quis ser bispo. Nunca gostou da ideia de fazer parte da ierarquia da igreja. Por isso, a primeira reação dele ao receber a comunicação de sua nomeação episcopal foi dizer “não”. Porque aceitou?

Fazia apenas 3 anos que tinha chegado ao povoado de São Félix do Araguaia, onde aos poucos, estava construindo uma comunidade eclesial fixa. Uma “missão” na Amazônia, ao nordeste do Mato Grosso, na divisa com o Pará e o Tocantins.

Casaldáliga chegou no Araguaia em julho de 1968, acompanhado de Manuel Luzón, os dois da Congregação dos Claretianos. Após uma breve passagem por São Paulo, chegaram na Amazônia depois de uma semana de caminhão.

A tarefa principal de estruturar uma igreja estável na região deparou-se rápidamente com a realidade: uma região de migrantes, vindos de muitas partes do Brasil atraídos pelas “políticas de colonização da Amazônia”.

 

Arribada de Casaldàliga i Manuel Luzón a São Félix do Araguaia

Aquesta és la primera fotografia que tenim de l’arribada de Casaldàliga i del seu company claretià Manuel Luzón a la regió de l’Araguaia el 1968.

 

Situada a mais de 1.200Km da capital do Estado, Cuiabá, a escassa presença do Estado condenava seus habitantes a ausência de qualquer serviço de saúde ou educacional. A estrutura fundiária, caracterizada pelas fazendas que chegaram a ter o tamanho de estados determinava uma sociedade rasgada no meio: de um lado, os grandes latifundiários, seus capatazes e seus “capangas”. Do outro, como explicava o próprio Pedro Casaldáliga:

 

«Camponeses nordestinos, vindos diretamente do Maranhão, do Pará, do Ceará, do Piauí…, ou passando por Goiás. Desbravadores da região, “posseiros”. Povo simples e duro, retirante como por destino numa forçada e desorientada migração anterior, com a rede de dormir nas costas, os muitos filhos, algum cavalo magro, e os quatro “trens” de cozinha carregados numa sacola».

Pedro Casaldáliga

 

Pere Casaldàliga a una comunitat indígena de l'Araguaia

La parella Luiz Gouveia i Eunice Dias de Paula van ser uns dels primers a arribar el 1973. Van viure amb els indígenes de Tapirapé i encara avui hi viuen. Han fet de professors bilingües al poblat indígena, ajudant en la formació dels professors indígenes i, per això, són en molta part responsables del fet que la llengua Tapirapé encara existeixi.

 

Chegamos a um mundo sem volta. A Missão possuía 150.000 quilômetros quadrados de rios e sertões e florestas, ao noroeste do Mato Grosso, dentro da Amazônia denominada “legal”, entre os rios Araguaia e Xingu, incluindo também a Ilha do Bananal, a maior ilha fluvial do mundo.

Sem outra “base” eclesiástica que a nossa casa, de 4×8, às margens do Araguaia, maravilhoso e turbo, sem saber por onde começar, sem saber quem habitava a região, onde as distâncias de todas as espécies justificavam todas as indecisões.

A única estrada que existia ainda estava se abrindo, vermelha e empoeirada, na selva e nos campos abertos que acabamos de atravessar, e a “onça” materialmente concreta tinha todo o direito de cortar a estrada em frente ao caminhão.

Havia apenas um médico na área, não havia correio, eletricidade, telefone, telégrafo, havia 3 jipes antigos por todo São Felix e eram os únicos carros no local.

Pedro Casaldáliga

 

Pedro faz o compromisso radical

 

Em pouco tempo, a problemática da terra, a pobreza e a violência contra peões e posseiros impactaram Casaldáliga e a sua equipe. Nos primeiros anos, enterraram centenares de trabalhadores rurais “muitas vezes sem nome” que tentavam sobreviver naquela terra. Foi lá que decidiram se comprometer radicalmente com o povo.

 

Mato Grosso foi, ainda é, um terra sem lei. Alguém o classificou como o «Estado curral» do país. Não encontramos nenhuma infraestrutura administrativa, nenhuma organização trabalhista, nenhuma inspeção. O Direito era a lei do mais forte. O dinheiro e o 38. Nascer, morrer, matar, eram os direitos básicos. Verbos conjugados com incrível facilidade.

Pedro Casaldáliga, 1971

 

A construção de uma igreja organizada e estruturada, começou primeiro com o atendimento das necessidades mais básicas: a saúde e a educação foram a prioridade. Como celebrar missa e administrar os sacramentos sem se comprometer ao mesmo tempo com as necessidades das famílias?

Aos poucos, conseguiram construir uma pequena escola (que, depois, daria luz a um projeto pedagógico que se tornaria referência da educação popular na Amazônia); organizaram um posto de saúde básica; fizeram de enfermeiros e…, nessa ação, se comprometeram a favor dos «posseiros» e se posicionaram contra o latifundio.

Uma igreja que rezava, que celebrava missa e administrava os sacramentos como qualquer outra, mas que se comprometia radicalmente na defesa dos mais pobres: posseiros, peões, ribeirinhos e Povos Indígenas. Nunca houve imposições nem intenção de evangelizar, no sentido antigo, arcaico, colonialista, da palavra.

 

Uma consagração bem diferente

 

Em julho de 1971, Casaldáliga recebeu a carta do Vaticano nomeando-o bispo. A resposta dele, de renuncia taxativa ao cargo, estava escrita e iria ser entregue ao Nuncio. Porém, reunidos a equipe pastoral junto ao Bispo Dom Tomás Balduíno, decidiram que Casaldáliga tinha que aceitar.

Era a única chance de dar voz aos sem voz; de fazer com que a situação nas fazendas fosse conhecida; de chamar a atenção internacional sobre uma problemática que o Brasil escondia. Ser uma “autoridade” da Igreja era a única opção para poder denunciar e não ter tantas represalias. A aceitação era obrigada.

Assim sendo, em decisão conjunta, o dia 23 de outubro, depois de uma tentativa de assassinato que falhou por pouco, Pedro Casaldáliga seria ordenado Bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia.

«Ao ar livre, à beira do rio Araguaia», Pedro foi ordenado por Dom Fernando Gomes dos Santos, Arcebispo de Goiânia, Dom Tomás Balduino, bispo da Diocese de Goiás e Dom Juvenal Roriz, bispo de Rubiataba, GO.

Imatge d’un dels moments de l’ordenació episcopal de Casaldàliga. La celebració va ser a l’aire lliure i va assistir-hi tota la gent de São Félix do Araguaia.

 

Naquela noite de 23 de outubro de 1971, a abóbada celeste, as águas do Araguaia e todos nós que lá estávamos fomos testemunhas de que algo novo acontecia. Um bispo recusava as marcas do poder para mergulhar totalmente na vida do povo.

Antônio Canuto
Agente de Pastoral da Prelazia de São Félix do Araguaia

 

No cartão-lembrança de sua ordenação, Pedro declarava o bispo que seria:

«Tua mitra será um chapéu de palha sertanejo; o sol e o luar; a chuva e o sereno,
o olhar dos pobres com quem caminhas, e o olhar glorioso de Cristo, o Senhor.
Teu báculo será a verdade do Evangelho e a confiança do teu povo em ti.
O teu anel será a fidelidade à Nova Aliança do Deus Libertador e a fidelidade ao povo desta terra.
Não terás outro escudo que força da Esperança e a Liberdade dos filhos de Deus;
nem usarás outras luvas que o serviço do Amor.»

 

Targeta original de record que es lliurà als presents a l’Ordenació Episcopal de Casaldàliga, al riu Araguaia, el 23 d’octubre de 1971

 

A primeira denuncia mundial sobre a situação da Amazônia

 

no mesmo dia de sua sagração episcopal que publicou o documento que é um “um dos mais importantes da história da luta pela terra no Brasil”.

Mais de 80 páginas com dados estatísticos, referências e análises em que se colocava a gravidade da situação da Amazônia. O documento também apontava nomes de empresas e de responsáveis e relatava casos concretos. O documento de Casaldáliga fez que, pela primeira vez, o Brasil soubesse que havia trabalho escravo, exploração e assassinatos por conflitos de terra.

 

Jornais do Brasil relatam o impacto da carta

L’impacte del document de Casaldàliga, ara bisbe, va ressonar a tot Brasil

 

Na noite do dia em que assinei o documento – era noite de «luar» – saí para ver a grande lua, respirar o ar mais frio e me oferecer ao Senhor. Senti então que, com o documento, eu também poderia ter assinado a minha própria pena de morte; pelo menos, acabava de assinar um desafio.

De fato, alguns dias depois começou a chegar o aviso de um dos maiores proprietários de terras e garimpeiros do Brasil, tantas vezes depois repetido por muitos outros proprietários de terras, vozes eclesiásticas, «amigos»: não era para eu entrar nessas questões porque eles poderiam me acusar de subversivo; de fato, a polícia federal estava nos controlando; o vice-delegado de São Félix era um agente; o fazendeiros iriam me processar; etc.

Pedro Casaldáliga

 

Não havia volta atrás: a Prelazia de São Félix do Araguaia e o seu recém consagrado Bispo, optava pelos pobres e se colocava contra o latifúndio. Em cada gesto, em cada palavra e em cada documento.

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Novo projeto: Equipamos o laboratório do Hospital Regional do Araguaia

Novo projeto: Equipamos o laboratório do Hospital Regional do Araguaia

A Fundação Pedro Casaldáliga, a Associação ANSA e o Consorcio Intermunicipal de Saúde iniciam um projeto que vai melhorar os atendimentos de mais de 20.000 pessoas na região do Araguaia.

 

A Fundação Pedro Casaldáliga, com apóio do Fundo Catalão de Cooperação, realiza um projeto para ampliar e melhorar o Hospital Regional de São Félix do Araguaia (CISA).

O centro é responsável por atender os municipios de São Félix do Araguaia, Alto Boa Vista e Luciara, onde vivem 20 mil pessoas, incluindo alguns Povos Indígenas.

O novo laboratório é ainda mais fundamental neste momento de pandemia pois o Brasil ultrapassa a os 600 mil mortos pela COVID19, sendo o segundo país do mundo em número absoluto de mortes, superado apenas pelos Estados Unidos.

A pandemia deixou um Brasil muito afetado, uma vez que tem atingido não apenas aqueles que tem sofrido a doença, mas toda a sociedade que tem vivido o sofrimento de familiares e amigos e, em muitos casos, a morte de seres queridos.

No Araguaia é, portanto, fundamental investir em métodos diagnósticos que permitam identificar doenças o mais rápido possível e assim prevenir contágios ou o agravamento de situações de saúde para a população.

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