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Dia do índio 2021: a luta Xavante continúa

18 abr, 2021

Uma das lutas mais intensas e significativas dos Povos Indígenas em todo o Brasil foi a retomada da Terra Indígena Marãiwatsédé, em Mato Grosso, ocorrida em 2012 após mais de 50 anos de luta.

Em 1965, famílias Xavante foram retiradas a força de suas terras ancestrais pelo governo militar, e levadas em aviões da Força Área Nacional (FAB) para a Missão Salesiana São Marcos. O grupo agrícola Ometto — da família da gigante sucroalcooleira Cosan — tomou a área. Em decorrência dessa remoção forçada, faleceram mais de 150 indígenas e as famílias do Povo Xavante de Maraiwãtsédé foram separadas.

 

[…] E os brancos começaram a se aproximar para roubar a terra. Então, cada vez mais, eles chegavam. A nossa tradição era dividir aldeia, porque o espaço era grande. Já estava perto de abare’u fazer a cerimônia, mas quando os brancos já estavam próximos o nosso uuu não tinha feito a cerimônia. Daí começou a encurralada atrás da terra. Eles eram espertos.
Tserewa’waDepoimento ao MPF

 

As terras dos Xavante foram vendidas posteriormente a holdings internacionais do agronegócio, como a italiana Agip Petroli, que explorava a fazenda Suiá-Missu, construída sobre a deportação. Segundo explica Pedro Casaldáliga em sua Carta Pastoral de 1971, a Fazenda Suiá-Missu possuía cerca de 695 mil hectares na década de 70, «extensão que superava a do próprio Distrito Federal».

Durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente de 1992, celebrada no Rio de Janeiro, os Xavante pressionaram as autoridades nacionais e internacionais e o presidente da Agip, Gabriele Cagliari, -que cometeria suicido pouco depois em uma prisão da Itália, acusado de corrupção, se comprometeu publicamente a devolver a área dos Xavante.

Porém, como relatava o jornal italiano La Repubblica em 1993: «o sonho dos Xavante, expulsos de suas terras em 1966, permaneceu um sonho. Os 168 mil hectares da fazenda Suia Missu, no Mato Grosso, um ano depois, ainda são de propriedade da Agip Petroli».

O litigio com os Xavante ainda permaneceu sob a inação do governo brasileiro por mais de 5 anos, até que a Terra Indígena Marãiwatsédé foi homologada pelo presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, em 1998.

Agência Pública: Mapa da área Xavante no Araguaia

Antes disso, porém, o poder público de São Félix do Araguaia e alguns fazendeiros da região incentivaram 2 mil posseiros a invadirem a área. O conflito tornou-se iminente: Em 2004, houve notícia de que três fazendeiros invasores da terra haviam contratado um pistoleiro para matar dom Pedro Casaldáliga. Mesmo ameaçado, recusou escolta policial e continuou seu trabalho pastoral e social normalmente, dizendo que só a aceitaria quando todos os camponeses tivesses direito a ela.

Ao longo de 50 anos de exilio forçado, os Xavante foram constantes em defender os seus direitos. Quando foram expulsos, deportados — esta é a palavra, eles foram deportados —, seguiram vinculados a esse terreno, vinham todos os anos recolher pati, uma palmeira para fazer os enfeites.

Os Xavante sempre reivindicavam a terra onde estão enterrados seus velhos. E tiveram sempre presente a sua terra.

“A Terra Marãiwatsédé está em nossos corações”

Nos últimos meses de 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) ordenou a remoção dos invasores e a entrada efetiva do Povo Xavante na Terra Indígena Marãiwatsédé. No dia 7 de novembro de 2012 começaram a entregar no local as notificações que pedian a saída dos invasores. Finalmente, após quarenta e seis anos de exilio, os Xavante tiveram definitivamente reconhecido o direito a seu território. 

A saída dos invasores, porém, não seu de forma pacífica e foi necessária a intervenção da Força Nacional para poder retirar as pessoas que permaneciam na área. Houve enfrentamentos organizados com a policia e atos vandálicos para destruir (ainda mais) a terra dos indígenas. Por causa desse conflito, Pedro Casaldáliga teve que abandonar a sua casa em São Félix do Araguaia devido às ameaças de morte que recebeu.

 

Marãiwatsédé hã
Tôtsena ti’a na watsiri’ãmo Wahõiba duré
Höiba-téb’ré hã, Ãhawimbã Date itsanidza’ra hã
Ahãta te Oto aimatsa’ti’ a na Ítémé we’re’iwadzõ
mori hã adza Oto ãma wawa’utudza’rani
Ti’a’a’a’ana… Ai’uté hã ãma ipótódza’ra hã
Tedza Oto ãma tsitébrè ti’a’a’a’ana.

A Terra Marãiwatsédé está em nossos
corações e em nossas almas
Ainda pequenos nos retiraram deste lugar
Mas hoje reconquistamos nossa terra,
nosso lar Agora de volta vou descansar nesta terra,
nesta terra, nesta terra…
Aquí eu nasci e nesta terra vão se criar nossas crianças

Marcio Tserehité Tsererãi’ré

 

A terra que os indígenas retomaram, no entanto, era bem diferente daquela da qual foram retirados à força: em 2012, pelo menos dois terços dos 165 mil hectares da reserva haviam sido desmatados por madeireiros, fazendeiros e posseiros. Marãiwatsédé chegou a liderar o ranking de terras indígenas mais desmatadas do país.

Marãiwatsédé, que foi o lar farto dos Xavante por séculos, enfrenta hoje o desafio vital da escasez de alimentos, da falta de água, dos solos degradados por causa do desmatamento e, ainda, as invasões pontuais e os incêndios criminosos que, ainda hoje, se registram na área.

Porém, aos poucos e sempre em luta, os Xavante estão conseguindo viver em sua terra ancestral e estão construíndo aldéias e se organizando. Mais de 1.200 indígenas moram hoje nas terras de Marãiwatsédé.

O caminho é longo e vai ser muito difícil. As ameaças não faltam.

Mas, o Povo Xavante de Marãiwatsédé não tem medo. Para eles, a esperança sempre vence!

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