É desse que se concretizam as causas de Casaldáliga no Araguaia
Pedro Casaldáliga é uma figura global. Reconhecido no mundo todo pelo seu compromisso, sua coerência e sua luta em favor dos camponeses sem terra, dos povos indígenas e dos que mais sofrem. Mas, como é o seu trabalho concreto, dia a dia, na região onde vive há mais de 50 anos?
29 de fevereiro de 2020 (atualitzado)
As causas de Casaldáliga
EIXO DE TRABALHO 1
Camponeses/as
A região do Araguaia é do mesmo tamanho de países como Portugal ou Guatemala. Com a maioria das estradas não pavimentadas, para atravessá-la precisamos de mais de 10 horas de ônibus entre lama ou poeira, dependendo se é estação da seca ou da chuva.
O Araguaia é uma terra marcada por uma história de grandes latifundiários que, ainda hoje, mantém impérios agroindustriais dedicados à produção de soja ou à criação de gado para a carne.
São hectares e hectares de plantações, cujos produtos são enviados para a Europa, junto com milhares de cabeças de gado cuja carne é enviada principalmente para a China.
Nos primeiros anos da chegada de Casaldáliga ao Araguaia, em 1968, o principal problema era o acesso à terra: os pequenos agricultores não tinham onde plantar. Assim, o surgimento das primeiras cidades baseou-se no confronto aberto e sangrento entre proprietários de terras e camponeses.
Os povos indígenas foram simplesmente expulsos de suas terras ou dizimados de seus modos de vida até desaparecerem do lugar. A “lei do 38” era a única Lei e tomar partido como Casaldáliga e sua equipe fizeram, foi um ato onde se arriscava a vida. Muitos foram torturados e mortos.
Hoje violência no campo continua a ser uma realidade palpável nesta região da Amazônia e, infelizmente, estamos vivenciando casos de agressões, expulsões e ameaças. Talvez os confrontos não sejam tão habituais ou violentos como nos anos 70 e 80, mas ainda morar no Araguaia e defender os sem-terra ou os indígenas, é correr risco.
Além disso, apesar de algumas terras terem sido conquistadas nos anos 70 e 80, em grande parte graças à força de Casaldáliga, ainda estamos longe de poder afirmar que o campo brasileiro é um bom lugar para viver. A grande propriedade continua a ser predominante e o pequeno agricultor, esquecido.
Desde a década de 2000, a principal dedicação da equipe de Casaldáliga é, portanto, trabalhar ao lado dos camponeses que têm a posse de um pequeno lote de terra, para que possam alimentar a sua família.
Construíndo Hortas e Pomares com as Famílias
A alimentação familiar é a nossa prioridade.
No Araguaia, ainda temos sérios problemas de desnutrição, especialmente crianças. Por isso, tentamos ajudar as famílias a terem a sua própria produção de alimentos: arroz, mandioca, milho, abóbora, etc., pois são produtos que podem ser cultivados no Araguaia e que formam a base da alimentação regional.
Para isso, estamos dedicados a fornecer mangueiras, bombas, arame, etc., para que mais ou menos 50 famílias por ano possam fazer suas pequenas hortas e alimentar melhor as suas famílias.
Também, ao longo de todo o ano, nossos agrônomos visitam as plantações e acompanham as dificuldades e o processo para garantir que está indo bem.
Indústria de Suco de Fruta
Além de legumes e alguns vegetais, também precisamos de frutas. Portanto, trabalhamos com as famílias de agricultores para plantar árvores frutíferas em suas terras. Para isso, fornecemos materiais de irrigação, construímos poços para a água, transportamos sementes e mudas, etc.
O excedente das frutas as famílias vendem para a mini-indústria que temos em São Félix do Araguaia, onde produzimos suco que depois vendemos na região.
É um processo longo, porque as árvores precisam de tempo para dar frutos; além disso, estamos sempre sujeitos aos riscos de uma agricultura desenvolvida em terras que foram destruídas ambientalmente (com nutrientes escassos, erosão, etc); e enfrentamos a enorme dificuldade de não ter água o ano todo.
Mas, apesar disso, todos os anos, conseguimos comprar 50.000 quilos de frutas tropicais que transformamos em suco natural!
EIXO DE TRABALHO 2
Povos Indígenas
No Brasil, existem mais de 250 povos indígenas, que falam 150 línguas diferentes. Quase 1 milhão de pessoas pertencentes a algumas das populações ancestrais que habitaram o Brasil antes da ocupação européia.
No Araguaia, convivem os povos Tapirapé (Apyãwa), Karajá (Iny) e Xavante (A’uwe). Desde que a região começou a ser ocupada pelos “brancos”, a história dos povos indígenas é marcada pela violência, a perda de suas terras e o roubo de seus recursos naturais.
Em um momento histórico em que o pensamento único se espalha e em que parece que existe apenas um modo aceitável de sentir, falar e viver, alguns povos indígenas se encontram no desafio de re-construir sua identidade e de se re-colocar no contexto global em que vivemos.
Em 2012, o Povo Xavante, a 120 km da casa de Pedro, em São Félix do Araguaia, recuperou seu território ancestral: a Terra Indígena Marãiwatsédé. No entanto, depois de mais de 50 anos ocupados por brancos, a área não tem mais de 15% de sua vegetação original e sofre com a falta de água, solos sem nutrientes, etc.
Nesta situação, nossa vida diária é baseada em apoiar o plantio de alimentos para as mais de 800 pessoas que vivem em Marãiwatsédé ; ajudar na construção de poços e rodas para que eles tenham água; e, em geral, apoiamos as atividades de recuperação cultural que uma organização especializada em causa indígena realiza na área, a Operação Amazônia Nativa.
Para chegar à terra Marãiwatsédé leva 4 horas de carro, e as condições de vida lá são muito difíceis. Além disso, é necessário que as pessoas que estão na aldeia conheçam a cosmovisão Xavante refletida através de seus costumes, crenças e valores, bem como suas formas de participação e organização, etc.
EIXO DE TRABALHO 3
Com as famílias que vivem na pobreza
Em São Félix do Araguaia, 30% da população vive com menos de 1 euro por dia. A maioria das pessoas não tem emprego registrado e o acesso ao hospital especializado mais próximo fica a mais de 24 horas de ônibus.
Melhorar a Saúde
Um dos primeiros direitos universais é a saúde. No Araguaia, no entanto, esse direito não está garantido. E está longe disso.
Por outro lado, nós acreditamos na eficácia de plantas medicinais, das ervas, dos cipós, das folhas e das frutas, cujos benefícios são conhecidos em toda a comunidade e são transferidos de mães para filhos, de geração em geração, sem direito de propriedade, patentes, indústria…
Recuperar e valorizar o conhecimento tradicional, que forma a herança da Humanidade, faz parte de nossas convicções.
Portanto, nos dedicamos a ensinar a fabricação de remédios naturais caseiros, a partir do conhecimento local, e fazemos produtos como xarope para tosse, sabonetes para piolhos, balinhas expectorantes, etc.
A maioria das famílias que atendemos não tem a menor condição de tratar seus filhos em clínicas particulares e a saúde pública é muito pobre, por isso tentamos evitar o máximo possível a complicação de doenças que eles os forçariam a enfrentar 24 horas de ônibus e acabariam com as já escassas economias familiares.
Apoiamos o Trabalho Autônomo
A falta de emprego e renda para a família condena muitos à extrema pobreza. Uma realidade que afeta especialmente às mulheres, que veem como o seu papel social e familiar é submetido por uma cultura machista, que as aprisiona em seu trabalho.
Pensando nisso, já no ano 2000, começamos um projeto de microcrédito solidário para que as pessoas em situação de pobreza pudessem iniciar pequenos negócios e ganhar a vida com eles.
Atendemos principalmente mulheres e oferecemos um empréstimo de 500 a 1.200 reais, para que possam começar uma pequena padaria, uma oficina de costura, uma venda de doces, uma criação de galinhas, um pequeno pomar, etc.
Não pedimos garantias materiais: só que elas se juntem com outras 2 ou 3 pessoas e se comprometam a devolver o empréstimo.
Todos os anos, formalizamos mais de 300 créditos, já que muitas mulheres renovam e estendem seus empréstimos para continuar crescendo e melhorando a vida de suas famílias.
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