A velhice é a melhor idade?
Nós conhecemos as nossas limitações, nós sentimos os nossos achaques. A vista e o ouvido diminuem, as forças enfraquecem, o humor facilmente azeda um pouco, a vida fica como cansada. É cuidado e mais cuidado, remédio e mais remédio. Carro velho que tem que encostar de vez em quando e procurar de vez em quando a oficina.
Isso, do lado mais ou menos escuro da velhice. Tem também, tem sim, seu lado bom: Os fogos deslumbrantes da juventude, sem o brilho irritante da idade forte.
A velhice é uma longa lição aprendida, com muitos dias de aula viva e personalizada. Essas muitas folhas de calendário, que foram caindo ao longo dos anos, juntaram-se no livro pessoal da própria vida. A minha velhice é a minha vida acumulada.
E tempo propício para meditar, para acolher a palavra de Deus, para refazer a algumas linhas tortas que a gente foi traçando vida afora.
A velhice é uma espécie de Sacramento de penitência e de conversão, de agradecimento e de esperança. Deus fica mais perto.
As vaidades e as mentiras foram-se, tocadas pelo vento do espírito, despidas à luz da experiência escarmentada.
Para quem é velho, a velhice é a melhor idade. Para cada pessoa a melhor idade é aquela que tem. Hoje será a juventude, amanhã será a idade adulta, depois de amanhã será a velhice, a doce, a sofrida, a esperançada velhice!
Agora, falando para quem ainda não é velho ou velha (e que Deus lhes conceda uma velhice feliz!), valem alguns conselhos. Permitem?
– Valorizar as pessoas idosas como pessoas com história própria, com experiência vivida, com direitos inalienáveis. O velho não é um fardo encostado; uma velha não é um resto de vida.
– As pessoas idosas querem compreensão, atenção, carinho, não querem só compaixão.
– Devem ser visitadas, devem ser informadas do que acontece ao seu redor e no mundo. Estão vivas!
– Devem ser provocadas para o diálogo e chamadas a participar.
– Mas tem que ser respeitadas no seu silêncio e no seu ritmo. Barulho e pressas não condizem com velhice.
– Deve-se favorecer a sua vida de oração, a participação na comunidade eclesial, o amadurecimento na fé.
– A velhice gosta e precisa de flores e música, de bom humor e de esperança. Fora toda a tristeza, que até a morte é Páscoa!
O cajado na mão, a mão no ombro, o neto no colo, o tempo passando, as folhas caindo, a vida amadurecendo. Deus se aproximando. Para nós, os velhos e velhas (até Deus é “o velho de dias” segundo a Bíblia), a velhice é a melhor idade porque é a nossa, o hoje de Deus no nosso hoje maduro.
Pedro Casaldáliga
Publicado no Jornal Alvorada, em março-abril de 2003
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